7 de fevereiro de 2025

Médico da Prefeitura de Taubaté será investigado após ser flagrado em casa no horário de trabalho


Equipe da TV Vanguarda flagrou o médico pelo menos seis vezes em casa no horário do expediente desde janeiro. Médico flagrado em casa no horário de trabalho será investigado
Um médico que atende na rede pública de Taubaté vai ser investigado pela prefeitura depois de ser flagrado em casa no horário de trabalho, por pelo menos seis vezes desde o início deste ano. Os flagrantes foram feitos pela reportagem da TV Vanguarda – assista acima.
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Segundo o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, do Ministério da Saúde, o médico Marcelo Lopes de Carvalho, que é servidor da Prefeitura de Taubaté há quase 20 anos, deveria cumprir carga horária de 20 horas por semana, trabalhando na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Jardim Mourisco.
Médico da Prefeitura de Taubaté será investigado após ser flagrado em casa no horário de trabalho
Reprodução/TV Vanguarda
Desde janeiro, porém, os repórteres Rauston Naves, Wilson Araújo e Eduardo Marcondes acompanharam a rotina de trabalho do médico e descobriram que ele tem cumprido carga horária bem menor.
A escala de trabalho disponível na recepção da UBS mostra que o funcionário público deve atender a população na unidade em dois dias da semana: quarta-feira, das 7h às 20h, e quinta-feira, das 7h às 14h.
Apesar disso, as imagens mostram que, pelo menos desde o início deste ano, o médico ia até a UBS, ficava cerca de uma hora, voltava para casa e só aparecia na UBS novamente em parte do expediente.
UBS Mourisco, em Taubaté
Reprodução/TV Vanguarda
Dia 15 de janeiro (quarta-feira):
O médico Marcelo Lopes de Carvalho chegou para mais um dia de trabalho na UBS do bairro Jardim Mourisco, às 6h50
Pouco tempo depois, ele deixou o local às 8h10
A reportagem seguiu o carro do médico e descobriu que ele foi para casa, em um condomínio em Tremembé, a cerca de quatro quilômetros da UBS em que trabalha
Depois, a reportagem voltou à UBS e não viu o médico aparecer mais por lá
Médico da Prefeitura de Taubaté será investigado após ser flagrado em casa no horário de trabalho
Reprodução/TV Vanguarda
Dia 16 de janeiro (quinta-feira):
O médico chegou à UBS às 6h56 e foi embora às 7h59
Mais uma vez, a reportagem seguiu o caminho percorrido pelo médico e viu ele passando pela portaria do condomínio
Às 8h11, o carro do médico já estava guardado na garagem
Às 12h28, o médico saiu de casa e voltou para a UBS
14h15 – quando ainda faltavam cerca de duas horas para o fim da jornada naquele dia -, Marcelo foi embora novamente
Médico da Prefeitura de Taubaté será investigado após ser flagrado em casa no horário de trabalho
Reprodução/TV Vanguarda
Dia 22 de janeiro (quarta-feira):
Marcelo chegou ao trabalho às 6h55
Às 8h48, o portão automático da casa em que o médico mora já estava aberto para entrada do carro dele
Dia 23 de janeiro (quinta-feira):
O funcionário público chegou para trabalhar 6h58
Ele deixou o postinho pouco tempo depois, às 8h10
Novamente, a reportagem confirmou que ele passou a manhã em casa e voltou para a UBS no início da tarde, por volta de 12h40
Cerca de duas horas depois, às 14h28, o médico foi embora
Médico da Prefeitura de Taubaté será investigado após ser flagrado em casa no horário de trabalho
Reprodução/TV Vanguarda
Dia 29 de janeiro (quarta-feira):
Mais uma vez, a cena se repetiu – o médico chegou na UBS às 6h52 e foi embora às 8h41
De novo, ele voltou para os atendimentos no começo da tarde, às 12h27, mas foi embora pouco mais de uma hora depois, às 13h42
Médico da Prefeitura de Taubaté será investigado após ser flagrado em casa no horário de trabalho
Reprodução/TV Vanguarda
Os longos períodos em casa, durante a jornada de trabalho, foram flagrados seis vezes pela reportagem, nas últimas quatro semanas.
O que o médico alega?
Na última quinta-feira (6), Marcelo Lopes de Carvalho chegou na UBS às 6h53 e foi embora cerca de uma hora depois, quando a reportagem da TV Vanguarda o abordou.
Repórter: Doutor Marcelo:
Médico: Sim
R: Eu sou da TV Vanguarda. O senhor já terminou o plantão?
M: Não, não. Eu vou ver um negócio ali na… na… no outro posto lá
R: Ah, tá. Porque a gente esteve acompanhando durante alguns dias. A gente viu que o senhor sempre sai nesse horário.
M: Tá. Então tá bom.
R: Então queria ver se o senhor sempre sai nesse horário.
M: Tá. Então tá bom.
R: Aí queria ver se o senhor aceita falar com a gente.
M: Não, depois eu falo tá bom querido?
R: Que o expediente vai até que horas? Já terminou o expediente?
Horas depois da abordagem, o médico voltou ao posto de saúde e fez atendimentos. A reportagem voltou e pedir explicações, mas ele não quis gravar:
Repórter: Doutor, o senhor aceita falar com a gente?
Médico: Falar sobre o que?
R: É que durante um mês a gente acompanhou a rotina do senhor. E a gente viu que o senhor não cumpriu o horário aqui. Eu queria saber o porquê.
M: (inaudível). Fala com a minha chefia.
Investigação da prefeitura
As imagens que mostram o profissional da saúde fora do postinho no horário de trabalho foram apresentadas à Prefeitura de Taubaté..
O secretário de Governo e Relações Institucionais, Antônio Carlos Ozório, que tomou posse no começo do ano, esclareceu que a UBS não conta com sistema de telemedicina – em que as consultas poderiam ser feitas à distância.
“Lá não há atendimento de telemedicina. O atendimento é feito por atendimento e demanda espontânea”, disse o secretário.
Ainda segundo a prefeitura, o médico será investigado pela corregedoria e, se comprovada alguma ausência irregular, pode até perder o cargo público.
“Faremos um relatório e comunicaremos o caso à corregedoria, que terá tempo hábil para analisar. Vamos apurar com responsabilidade, direito à ampla defesa dos envolvidos e esperamos, caso seja responsabilizado, haver responsabilidade legal que pode ser desde advertência a demissão do serviço público”, completou Ozório.
Nesta sexta-feira (7), a Prefeitura de Taubaté informou à reportagem que nenhuma das ausências flagradas foi justificada pelo médico até agora.
O Ministério da Saúde, que banca parte dos atendimentos na unidade via SUS, e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo também foram procurados, mas ainda não nos responderam.
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