7 de janeiro de 2025

Médico que cuidou de Clarinha por 24 anos não quer que ela seja enterrada como indigente: ‘É uma perda pra todos nós’

Clarinha recebeu esse nome pelo médico que cuidou dela ao longo desses anos. Mesmo aposentado, Jorge Potratz seguia visitando a paciente no hospital, em Vitória. Ela estava em estado vegetativo desde 2000 e nenhum parente foi encontrado. Morre Clarinha, paciente em coma há 24 anos em Hospital da PM
O médico que cuidou da paciente Clarinha, que não tinha registro oficial e morreu nesta quinta-feira (14) após ficar 24 anos internada em coma em uma UTI de hospital, disse que não quer que a paciente seja internada como indigente. Emocionado e triste, o tenente-coronel Jorge Potratz disse que a sensação é que seu trabalho não foi concluído com sucesso, uma vez que ao longo desses anos não foi possível localizar familiares da paciente.
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O médico, que mesmo aposentado continuou cuidando de Clarinha, vai solicitar à Prefeitura de Vitória que ela seja enterrada em um cemitério municipal por ter criado grande vínculo afetivo devido aos anos que se dedicou aos cuidados da paciente.
Clarinha ficou internada por 24 anos em hospital de Vitória e foi cuidada pelo médico Jorge Potratz
Reprodução/ TV Gazeta
“Infelizmente, a sensação que tenho é que o meu objeto não foi concluído com sucesso. Por tantas lutas que tivemos em duas décadas, mas Deus sabe de todas as coisas e ele está no comando”, desabafou Jorge Potratz.
A mulher foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, sem portar qualquer documento de identificação. O caso ganhou repercussão nacional após uma reportagem do Fantástico, exibida em 2016. Desde então, várias famílias do Brasil se mobilizaram para fazer exames de DNA e saber se a paciente era parente ou não.

Morre Clarinha, paciente internada em coma há 24 anos em hospital do ES
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O médico tenente-coronel Potratz se aposentou em 2017 e, ainda assim mantinha visitas frequentes. Ele disse que foi comunicado pela equipe médica que atua no Hospital da Polícia Militar (HPM), na manhã de quinta, de que a paciente estava muito debilitada após uma broncoaspiração, que é a entrada de substâncias estranhas, como alimento ou saliva, na via respiratória. Durante a noite, a paciente não resistiu.
“Recebi com muito pesar a notícia. Imediatamente, fui ao hospital conversar com a equipe. É uma perda para todos nós. Tenho sentimento de apego, de carinho, de humanidade mesmo. Foi uma paciente que marcou a minha vida inteira”, disse.
Possíveis parentes de ‘Clarinha’, se preparam para exame de DNA no Espírito santo
Reprodução/ TV Gazeta
Enterro digno
O médico aposentado disse que em toda a jornada da paciente – foram 24 anos internada na UTI – tentou dar dignidade, por mais que Clarinha fosse desconhecida oficialmente.
“Clarinha era cuidada com muito amor por toda equipe do hospital e por lá conseguimos garantir sua dignidade. E é assim que deve continuar. Espero que seja enterrada em um local próprio e identificada como Clarinha. Não quero que ela seja interrada como indigente. Esse processo não deve ser de um dia para o outro, mas vou estar à frente disso”, explicou.
Potratz disse que o corpo da paciente foi levado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, procedimento incomum para casos assim. Segundo o médico, geralmente, um paciente sem registros em hospitais não passam pelo DML, os corpos são liberados na unidade hospitalar mesmo.
O tenente-coronel contou que vai ao DML e se responsabilizará por todas as burocarcias necessárias. Disse, ainda, que vai à Prefeitura de Vitória solicitar que Clarinha seja enterrada em um cemitério municipal.
“Gostaria que ela tivesse uma lápide, onde as pessoas, que assim desejarem, pudessem ir fazer uma oração. Precisamos ter mais humanidade com as pessoas e continuar tentando dar dignidade à Clarinha”, enfatizou o médico.
Entenda o caso “Clarinha”

Clarinha morreu na noite desta quinta-feira (14) Clarinha, uma mulher que, em 2000, foi encontrada atropelada sem registro oficial e ficou internada em coma por 24 anos em um hospital de Vitória. A informação é do coronel Jorge Potratz, médico que cuidou da paciente durante todos esses anos.
Clarinha passou mal ainda pela manhã, teve uma broncoaspiração e não resistiu. O caso da paciente “misteriosa” ganhou repercussão. A mulher estava internada em estado vegetativo no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória. Nenhum parente ou amigo a visitou em todos esses anos.
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Jorge Potratz foi quem, em 2016, escolheu o nome para a paciente que vivia em coma.
“A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome ‘não identificada’ muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha”.
A equipe considerava o coma da paciente elevado. “A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito”, explicou o médico na época.
Polícia fez simulação de como estaria o rosto de Clarinha
Reprodução/ TV Gazeta
Enterro de Clarinha
Como não tem documentos oficiais, o corpo de Clarinha pode ser sepultado como “indigente” após passar pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO). No entanto, a “família” formada pela equipe médica do HPM vai atuar para evitar essa situação e possibilitar um sepultamento digno a quem por anos recebeu uma atenção especial de todos eles.
Assim como buscaram dar uma vida digna e respeitosa a ela ao longo dos anos, agora a luta é por um enterro mais humano. Ainda não há uma definição do que será feito, mas os planos agora são não deixar ela ser enterrada em um lugar qualquer.
Mistério sobre identidade da paciente
Depois da reportagem exibida no Fantástico, mais de 100 famílias procuraram o Ministério Público para identificar Clarinha como uma possível parente desaparecida. Desse total, 22 casos chamaram mais atenção, pelas fotos ou pela similaridade dos dados próximos ao perfil da mulher internada. Veja no vídeo abaixo:
Mulher sem identificação viveu em coma por 24 anos em hospital
Depois de uma triagem mais detalhada, aponta o MPES, quatro casos foram descartados, devido à incompatibilidade de informações ou pelo fato de as pessoas procuradas já terem sido encontradas. O Ministério Público dividiu as 18 pessoas restantes em dois grupos para a realização dos exames de DNA. No entanto, os resultados mostraram-se incompatíveis para traços familiares.
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