Os dados do registro civil também mostram que a vida profissional passou a pesar mais nas decisões familiares ao longo dos anos, principalmente por causa das mulheres no mercado de trabalho. IBGE registra aumento da guarda compartilhada nos divórcios
Dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira (27) mostraram mudanças no comportamento das família brasileiras.
Essa é a família da repórter Lília Teles no começo da década de 1970: pai, mãe e sete irmãos. A mãe dela tinha 18 anos quando teve o primeiro e 33 anos quando nasceu a caçula. Essa grande composição familiar e que começava bem cedo era comum naquela época. Mas ela foi ficando bem menor e começando mais tarde ao longo do tempo.
Família da repórter Lília Teles no começo da década de 1970
Jornal Nacional/Reprodução
A orientadora educacional Isabel Abreu de Carvalho tinha 38 anos quando decidiu engravidar. Só teve o Israel e parou por aqui.
“Acredito que muito em função de um desenho de carreira, da importância que a hoje a mulher se percebe no mercado de trabalho e, por isso, a gente optou por um filho só”, conta Isabel.
Foram pouco mais 2,5 milhões de nascimentos em 2022 — menos do que no ano anterior. Foi a quarta queda seguida no número de bebês e o menor patamar desde 1977.
Número de nascimentos cai pelo quarto ano seguido.
Jornal Nacional/Reprodução
A redução demográfica é uma tendência mundial, mas neste momento a justificativa pode ser outra.
“Diminuiu o número de nascimentos porque muita gente não queria se arriscar a ter filho no meio da pandemia”, conta o demógrafo José Eustáquio Alves
Segundo o demógrafo, a covid também explica o aumento no número de casamentos. Entre pessoas do mesmo sexo, houve um recorde: 20% a mais. 11 mil uniões civis.
“Como é que você vai fazer uma festa de casamento no meio de uma covid que você não pode convidar as pessoas, então muita gente adiou o casamento em 2020, 2021, e aí já começou a recuperar um pouco em 2022”, diz o demógrafo.
Se o número total de casamentos subiu 4%, o percentual de divórcios foi mais que o dobro: 8,6%
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Os dados do registro civil também mostram que a vida profissional passou a pesar mais nas decisões familiares ao longo dos anos, principalmente por causa das mulheres no mercado de trabalho. Na separação, os ex-casais foram se adequando a uma rotina que levasse em conta as necessidades de pais, mães e filhos. E é aí que entra a guarda compartilhada.
E olha como houve mudança: em 2014, em 85% dos divórcios, a guarda dos filhos ficava com a mulher; em oito anos, a porcentagem caiu para 50%. No mesmo período, o índice de guarda compartilhada passou de 7,5% para quase 38% nos divórcios.
Seguindo essa dinâmica, três vezes por semana, a coordenadora de projetos e doula Soraia Melo busca a filha Dora na creche e leva para casa. Nos outros dias, é o ex-marido quem tem essa função e fica com a filha.
“A gente achou que era uma possibilidade da nossa filha ter um tempo de qualidade com os dois. Então, nós dois participaríamos da vida cotidiana dela, de levar à escola, de buscar. E aos fins de semana a gente reveza”, conta Soraia.
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