9 de janeiro de 2025

Mico-leão-preto é monitorado com uso de áudio e inteligência artificial no Centro-Oeste paulista


Método utilizado para estudar espécies ameaçadas ajuda a compreender como primatas utilizam o território. Mapeamento acústico passivo (MAP) é utilizado para monitorar o pequeno e ágil mico-leão-preto
Divulgação/Suzano e UNESP
Um projeto inovador desenvolvido em áreas florestais da região de Bauru (SP) aposta no mapeamento acústico passivo (MAP) para monitorar o mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus), espécie de primata ameaçada de extinção e endêmica da Mata Atlântica do interior de São Paulo.
A iniciativa, realizada em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi (IEL) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, ajuda na difícil detecção desse primata em campo.
O mico-leão-preto já foi considerado extinto por décadas, até ser redescoberto na década de 1970, no Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD). Atualmente, sua população está restrita a pouco mais de 20 fragmentos de Mata Atlântica, representando menos de 1% de sua distribuição original.
Fora do PEMD, onde está concentrada a maior população, outros grupos enfrentam risco de extinção em médio e longo prazo.
Para superar os desafios de monitorar um primata pequeno e ágil, que se locomove entre as copas das árvores e muitas vezes não responde a métodos convencionais como playback, o mapeamento acústico passivo desponta como solução eficaz.
Gravadores autônomos são instalados em locais estratégicos da mata para capturar sons da floresta ao longo de várias horas
Divulgação/Suzano e UNESP
Gravadores autônomos são instalados em locais estratégicos da mata para capturar sons da floresta ao longo de várias horas.
Aplicamos machine learning, que é o uso de algoritmos de aprendizado de máquina, para analisar e identificar automaticamente as vocalizações dos micos-leões-pretos, uma abordagem inédita para essa espécie
Essa abordagem permite processar grandes volumes de dados sonoros de maneira eficiente e precisa, sem a necessidade de análise manual detalhada por humanos.
Desafios em campo e resultados iniciais
Um dos principais desafios é a instalação dos gravadores em locais de difícil acesso, além do grande volume de dados gerados. Uma única campanha de campo pode resultar em mais de cinco mil horas de gravações, somando cerca de 1 TB (terabyte) de dados, por exemplo.
“Para lidar com possíveis falhas técnicas, adotamos estratégias como o planejamento cuidadoso, o monitoramento das condições climáticas e a instalação de gravadores adicionais”, destaca a pesquisadora.
Um dos principais desafios é o grande volume de dados gerados em campanhas de campo
Divulgação/Suzano e UNESP
Os primeiros resultados são animadores: cinco grupos de mico-leão-preto foram detectados em fragmentos de mata ripária, em paisagens alteradas pelo uso humano, o que demonstra uma resiliência da espécie.
No entanto, Anne destaca que, apesar da capacidade de adaptação, o mico-leão-preto é dependente da floresta para sobreviver, estando ameaçado principalmente pela fragmentação e desconexão de seu habitat.
Metodologia e aplicação para outras espécies
O mapeamento acústico passivo é uma metodologia recente, já validada com sucesso em estudos de cetáceos, aves, anfíbios e outros primatas.
O mapeamento acústico passivo é uma metodologia recente, já validada com sucesso em estudos de cetáceos, aves, anfíbios e outros primatas
Divulgação/Suzano e UNESP
“Durante o estudo, foram detectadas também vocalizações de outras espécies, como o bugio-ruivo e o macaco-prego, o que abre caminho para pesquisas futuras”.
O projeto enfatiza a importância da conservação do mico-leão-preto, uma espécie que representa a luta pela preservação da Mata Atlântica do Oeste Paulista. A utilização de tecnologia e inteligência artificial surge como uma ferramenta poderosa na busca por soluções sustentáveis para proteger esse primata raro e o seu habitat vulnerável.
Impactos da atividade humana e próximos passos
Os dados coletados também permitirão avaliar a influência do ruído causado por atividades florestais no comportamento do mico-leão-preto.
“A comunicação acústica tem um custo energético elevado. Com ruídos intensos, os grupos podem reduzir a frequência ou duração de suas vocalizações, o que impacta nos padrões de distribuição da espécie”, explica a bióloga.
Os padrões temporais serão estudados em detalhe ao longo de 2025.
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