27 de setembro de 2024

Milícia da Praça Seca chegou a programar operações com batalhão para combater rivais do tráfico, diz MP

Denúncia do Gaeco mostra que os PMs abasteciam o arsenal do crime. Em uma conversa obtida pelos promotores, um agente oferece granadas por R$ 700 cada. Nesta quinta-feira, 17 PMs foram alvos de operação. Policiais militares tinham relação próxima com milícia da Zona Oeste, diz MP
Investigação do Ministério Público do Rio (MPRJ) que culminou em uma operação nesta quinta-feira (26) contra 17 PMs, entre eles oficiais envolvidos com um grupo paramilitar, aponta que milicianos chegavam a programar operações com policiais para combater os rivais. Além disso, eles vendiam armas para os criminosos.
De acordo com a promotoria, os acusados estavam em contato constante com a quadrilha que domina a favela do Bateau Mouche, na Praça Seca, em Jacarepaguá.
Trocas de mensagens evidenciam a relação de proximidade entre agentes da lei e milicianos.
No dia do seu aniversário, o coronel da PM Marcelo Moreira Malheiros recebeu um recado do miliciano Cláudio Rodrigo Monteiro, o Ceta.
Ceta: Te amo de verdade, cara. Meu ídolo máximo.
Malheiros: Obrigado pelo carinho de sempre. Deus sempre foi generoso comigo e me apresentou pessoas boas iguais a você.
Foi a partir da prisão de Ceta, na primeira fase da Operação Naufrágio, em abril, que o MPRJ chegou ao nome do coronel Malheiros. O miliciano era quem intermediava as relações entre a quadrilha chefiada por Felipe Viana da Silva, o Negão, e os 17 PMs investigados, segundo os promotores.
Todos os militares denunciados estavam na ativa e, na época das investigações, lotados em batalhões na Zona Oeste do Rio.
De acordo com a denúncia do Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), os PMs davam apoio aos paramilitares na disputa por território com o tráfico de drogas, na região de Jacarepaguá.
Hoje, o Comando Vermelho (CV) domina uma área que vai do Lins de Vasconcelos e passa pela Covanca e parte do Campinho.
Granadas por R$ 700
A denúncia do Gaeco mostra que os policiais abasteciam o arsenal do crime. Em uma conversa obtida pelos promotores, um PM oferece granadas por R$ 700 cada.
E ainda facilita o pagamento, que poderia ser feito em duas vezes ou quantas quisesse. O material vendido à milícia era de apreensões do Comando Vermelho.
Os policiais também recebiam pagamento semanais de até R$ 5 mil em troca de informações sobre operações policiais.
Nesta quinta (26), os 17 PMs denunciados foram alvos de uma operação. Os agentes estiveram nas casas e nos batalhões onde os acusados estão lotados.
Um subtenente foi preso em fragrante com munição raspada. Além disso, R$ 67 mil foram apreendidos na casa de um cabo.
Malheiros e a Secretaria da PM
O coronel da PM Marcelo Moreira Malheiros
Divulgação
Em abril deste ano, Malheiros chegou a ser cotado para o cargo de secretário da PM. O nome dele foi levado ao governador Cláudio Castro por apoiadores políticos e tinha torcida dos milicianos.
Em uma mensagem enviada a Ceta, um deles perguntou: “Como está o nosso comandante geral?” Malheiros não foi escolhido para o cargo.
Na época da investigação, ele foi exonerado do 2º Comando de Policiamento de Área (CPA) e recebeu mensagens de apoio de integrantes da quadrilha preocupados com a possibilidade de entrar “um cara fechado com o Comando Vermelho”.
O coronel lamentou: “Vamos em frente. Nem sempre trabalhar correto é o melhor para o sistema”.
O outro lado
O coronel Marcelo Moreira Malheiros negou as denúncias.
A Polícia Militar disse que está colaborando com as investigações.
O RJ1 não conseguiu contato com a defesa dos outros policiais denunciados pelo Ministério Público.
Castro: sem julgamento antecipado
Nesta sexta (27), Cláudio Castro falou pela primeira vez sobre o caso. Ele afirmou que “cabe à Justiça” verificar as informações do MPRJ.
“Os processos têm que chegar até o final. Eu também não prejulgo ninguém. Se o MP fez a denúncia, agora cabe a Justiça comprovar o que está falando. Se as pessoas foram culpadas, serão punidas exemplarmente e expulsas o mais rápido possível da polícia. Se não forem, não faremos julgamento antecipado delas”.

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