22 de setembro de 2024

Milícia impede instalação de internet em Santa Cruz e prejudica vila olímpica e escolas

Serviço de única provedora que oferecia o acesso foi suspensa por ordem da Justiça, por suspeita que empresa tinha ligação com milicianos, e concorrentes não conseguem se instalar na região. Vila Olímpica fica sem internet em Santa Cruz por conta de atuação da milícia
A atuação da milícia, em Santa Cruz, pode estar afetando o funcionamento da vila olímpica do bairro. É que a única provedora de internet da área foi suspensa por ordem da Justiça, por suspeita de ligação com milicianos, e o complexo esportivo não consegue outra empresa para substituí-la, prejudicando a matrícula de alunos.
A Vila Olímpica Oscar Schmidt foi inaugurada em 2004. O local faz parte da rede de complexos desportivos da prefeitura e atende cerca de 3 mil alunos, mas, desde fevereiro, não estão sendo feitas matriculas nem rematriculas.
“Quando a gente tenta fazer matrícula de aluno, eles estão sem internet. Aí, não pode fazer matrícula. Eles dizem que, desde que teve o problema, a Estrelar – que é a empresa que todo mundo de Santa Cruz tinha internet, tava essa confusão com a milícia, aí, eles ficaram sem internet. Estão há mais de um mês nisso. As matrículas eram pra ter sido feitas em março e a gente já começou abril ainda sem conseguir colocar o garoto pra fazer atividade”, diz a responsável por um aluno, que preferiu não se identificar.
A moradora se refere à Estrelar Web. De acordo com funcionários, a empresa era a responsável pela internet na vila olimpica há pelo menos três anos.
Em fevereiro, desse ano, a empresa Estrelar web foi alvo de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio. Segundo os investigadores, a empresa que prestava serviço para órgãos públicos e também era usada para lavar dinheiro da milícia. Até agora, a internet não foi substituída.
Uma decisão da Justiça determinou a suspensão dos serviços da Estrelar Web e, desde então, nenhuma outra empresa foi contratada em substituição.
Outros moradores da região dizem que a Vila Olímpica já entrou em contato com várias empresas provedoras de internet, que respondem que não atendem em Santa Cruz. .
Pelo menos outras três escolas, próximas à vila olimpica, passam pelo mesmo problema, segundo relatos: a Escola Municipal Princesa Isabel, a Escola Municipal Fernando de Azevedo e o Colégio Estadual Barão do Rio Branco também estariam sem internet há mais de um mês.
Testemunhas dizem que quando técnicos de outras empresas vão ate o local para puxar o cabeamento, acabam sendo ameaçados por milicianos e que, diante desse problema, a Prefeitura do Rio buscou uma solução alternativa, com a compra de um modem, mas o equipamento ainda nao chegou.
Segundo os investigadores, a maior milícia do estado — comandada por Luiz Antônio da Silva Braga, o Zinho, era quem usava a empresa para lavar dinheiro. A Estrelar Web, com cerca de quarenta mil assinantes, tinha o monopólio na região.
A investigação ainda apontou que o grupo movimentou cerca de R$ 35 milhões nos últimos 7 anos, por meio de 7 empresas para lavar o dinheiro.
Quando a operação foi desencadeada, na sede da Estrelar web, os agentes encontraram três cofres – um deles com pelos menos R$ 50 mil.
Uma moradora de Santa Cruz – que também têm medo de se identificar – diz que outras partes do bairro também estão sem acesso à internet.
“Aonde eu moro, realmente, tem muito cabo jogado pelo chão. Porque essa internet que caiu, que ninguém tem, que todo mundo tá sem, é a tal da Estellar Web. E aí tá todo mundo sem intenet, com fio caído no chão e tá muito complicado. Refém todo dia da milicia, todo o dia, de alguém que tenta te ameaçar, devido, se você usar algo legal, você não pode”, diz ela.
A Secretaria Municipal de Esportes informou que as matrículas e rematrículas, para a Vila Olímpica Oscar Schmidt, estão sendo feitas de forma manual e os frequentadores podem ter acesso às aulas.
Em relação à prestação de serviços de internet, a secretaria disse que na época do contrato, a empresa Estrelar estava legalmente constituída e com CNPJ ativo e e que o contrato foi rescindido pela organização social responsável pela Vila Olímpica assim que a operação do Ministério Público foi divulgada.
Ainda de acordo com a secretaria de esportes da capital, um modem já foi comprado e a previsão é que esteja em funcionamento na próxima semana.
A Secretaria de Estado de Educação disse que os recursos para contratação da internet para uso interno das unidades escolares são repassados diretamente às escolas, que têm autonomia para escolher a operadora que presta o melhor serviço na sua região.

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