Carlos Reymond, de 42 anos, afirmou que tem bastante bonecas negras, que são mais raras e difíceis de serem encontradas. ‘Moço das bonecas’ reúne coleção rara com albinas, cadeirantes e carecas
Um terapeuta capilar de São Vicente, no litoral de São Paulo, coleciona bonecas e bonecos há 20 anos e tem várias raridades na coleção. Ao g1, Carlos Reymond, de 42 anos, afirma que a coleção se tornou uma forma de terapia e de bem-estar, e que sempre gostou muito de bonecas e se sentiu atraído pela beleza e cabelo delas. “Você tem que descobrir uma coisa que goste muito de fazer. Se você tem uma válvula de escape, você consegue respirar”, diz.
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Reymond contou que teve uma infância muito difícil por conta de sua orientação sexual, no entanto, nunca teve vontade de brincar com boneca, mas que sempre teve um interesse por elas porque os pais da mãe dele não podiam dar brinquedo para ela. “Ela aprendeu a costurar muito nova, analfabeta e fazia muita boneca de pano. Herdei isso [de gostar de bonecas] dela”.
Com boneca albina, cadeirante, careca e outras raridades, terapeuta capilar considera coleção como ‘válvula de escape’ em São Vicente, SP
Carlos Reymond
Segundo o terapeuta capilar, ele veio para a região com ‘uma mão na frente e outra atrás’. “Sem nenhum centavo e com a roupa do corpo. Sou formado em turismo para trabalhar em navio, acabei não trabalhando [na área] e fui arrumar emprego em restaurante durante oito anos”.
Após o pai de Reymond ser diagnosticado com câncer, ele foi visitá-lo e voltou com o incentivo de realizar os sonhos que tinha. “Sempre tive vontade de trabalhar na área da beleza e eles nunca deixaram, nunca aceitaram. Meu pai falou: ‘hoje você é livre, é independente, tem o seu dinheiro, você trabalha, pode fazer o curso que quiser, não tinha vontade de fazer curso de cabeleireiro?'”, relembra.
Terapeuta capilar de São Vicente coleciona bonecas e bonecos há 20 anos e tem várias raridades na coleção
Instagram/Reprodução
O terapeuta capilar voltou com isso na cabeça, resolveu fazer o curso na área e relembra até hoje de como adquiriu a primeira boneca da coleção. “Um dia passei no Gonzaga, em uma loja de departamentos, tinha chovido muito, entrado água no telhado e destruído um monte de coisa. Passei e estava vendendo uma Barbie, uma Barbie borboleta de cabelo rosa”.
E essa foi a primeira boneca da coleção de Reymond. Na ocasião, a Barbie, que custava em torno de R$ 89,90, estava por R$ 19,90. “Já estava trabalhando na área da beleza, ganhando um pouquinho mais, comecei juntando dinheiro e comprando uma por uma”.
Coleção rara
Coleção de bonecas de terapeuta capilar, de São Vicente, é considerada rara porque ele tem muitas bonecas negras
Carlos Reymond
A coleção é considerada rara porque, segundo o terapeuta capilar, ele tem bastante bonecas negras, que são mais raras e difíceis de serem encontradas. “Quando conheci o meu marido eu tinha umas 500, aí ele me apresentou um ex dele que vivia nesse mundo de colecionador que eu não sabia que existia e foi aí que me lasquei, só queria as bonecas caras”.
Na época, ele passou a comprar entre cinco a 10 bonecas em um dia. “Hoje a minha coleção eu não conto, mas tem bastante boneca. Não conto porque acho que se contar vou ficar bastante limitado, parece que a coleção não rende. Enquanto não sei quantas [tenho] vou comprando”.
Reymond não coleciona só Barbie, mas também as bonecas Royalty que são mais sofisticadas. “Hoje a minha coleção mais simples se tornou tão rara porque ela tem peças de Royalty que são mais caras e a boneca se torna exclusiva, só minha”.
“Eu gosto das mais raras, as negras. Tenho negra careca, tenho negra de trança e eu não sei porque eu tenho uma fixação por elas, eu amo boneca negra. Quando vou [comprar] pego as mais diferentes. Tenho Barbie cadeirante, Barbie robô, Barbie albina, com vitiligo, gosto dessas mais raras”, explicou.
Coleção de bonecas de terapeuta capilar, de São Vicente, é considerada rara porque ele tem muitas bonecas negras
Carlos Reymond
Para ele, as bonecas negras são mais raras por questões culturais. “Acho que é cultural. A Barbie quando lançou a primeira boneca negra se tornou um objeto de desejo porque era difícil de achar”.
“Só compro as que acho mais bonitas, mas, por exemplo, tenho com vitiligo, negra, Ken com vitiligo, Ken gordinho, com pernas robóticas, baixinha, tem a careca inclusiva, só que tenho careca de outras coleções também”, disse.
Reymond disse que agora está indo mais para o lado criança e desejando tudo que não teve, por exemplo, quer uma boneca da Shira. “Ainda não chegou no Brasil e lá fora está difícil de achar. Tem lojas no Facebook que o pessoal posta pré-venda, você paga e fica esperando a boneca chegar, nunca aconteceu comigo, mas já teve caso. Tomo maior cuidado quando vou comprar”.
Cuidado com as bonecas
Ele montou um móvel para armazenar as coleções. “Como fica nas vitrines fechadas não pegam muito pó, mas tiro tudo, limpo tudo, o rostinho, se a roupa estiver amarela tem que alvejar, a manutenção é um pouquinho chata”.
Mesmo com uma coleção grande, Reymond garante que há espaço para novos bonecos. “O móvel que mandei fazer é bem profundo para caber as coleções mais completas. Ainda tem espaço”.
“Na verdade, para mim é uma terapia, o momento que consigo me desligar do mundo. Hoje não mexo tanto com elas como eu mexia antes, mas quero voltar. Não tenho tanto tempo, inclusive, cogitei a leiloar a coleção inteira, pensei sinceramente, mas meu marido não deixa, apesar dele não gostar, ele não deixa. É um sonho, foi o primeiro sonho na vida que tive e consegui realizar”.
Terapeuta capilar contou que sempre gostou muito de bonecas e se sentiu atraído pela beleza e cabelo delas
Carlos Reymond
Importância
De acordo com o terapeuta capilar, a coleção representa muito sobre ele. “É um carinho imenso que tenho, não sei dizer. Não sei qual seria minha reação, como psicologicamente ficaria se fosse me desfazer. Tenho minha preferida, mas tenho o sabor e o gostinho de cada uma. Pra mim é uma terapia, momento que me desligo do mundo”, diz.
“Era um sonho que eu tinha e nunca imaginei que iria conquistar, chegar na magnitude que conquistei. Adoro que as pessoas me reconheçam como ‘moço das bonecas’. Não sei se eu trouxe de outras vidas, se em algum momento da infância algo despertou isso, mas tenho um amor muito grande, uma paixão, só de passar no corredor e encontrar elas me dá uma energia”, disse.
Ele disse que a profissão tem ligação com a coleção de bonecas. “Hoje minha profissão está entrelaçada, às vezes uso boneca para inspirar clientes. Tenho bonecas que são a cara das minhas clientes. Os três maiores sonhos realizei, a coleção, depois minha casa própria e meu salão – que foi a maior conquista da minha vida”.
“É um amor fora do comum. Sou uma pessoa muito realizada. Às vezes paro e me emociono muito. É uma coisa tão difícil, as pessoas podem achar que é um desperdício de dinheiro, mas a coleção vai além do eu, você, acho que, não tenho filhos, só de quatro patas, o amor que eu tenho por eles, tenho pela minha coleção. É um amor muito forte, é uma coisa que eu nem sei explicar o que sinto”, finaliza.
Terapeuta capilar contou que a coleção representa muito sobre ele, que era um sonho que nunca imaginou que conquistaria
Carlos Reymond
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