12 de outubro de 2024

Moda com dendê: destaques no cenário nacional, marcas baianas Dendezeiro e Meninos Rei se consolidam na SPFW

Da da periferia de Salvador para os holofotes do Brasil e do mundo, elas já vestiram personalidades como IZA, Margareth Menezes, Ivete Sangalo, Anitta e Gilberto Gil. Dendezeiro e Meninos Rei se destacam no cenário nacional e são queridinhas dos famosos
, Majur, Bao Exu do Blues,
Roupas para corpos diversos, quebra de padrões de beleza e representatividade são alguns dos propósitos que as marcas baianas Dendezeiro e Meninos Rei têm em comum. Diretamente da periferia de Salvador para os holofotes do Brasil e do mundo, elas estarão mais uma vez na São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do país e o mais importante da América Latina.
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O evento acontece de 14 a 21 de outubro, no Pavilhão das Culturas Brasileiras – Parque Ibirapuera, no Iguatemi e em locais externos da capital paulista.
A Meninos Rei sobe à passarela na quarta-feira (16), às 14h30, com uma coleção que fala da Bahia e enaltece o povo preto. Esta é a quinta vez que a marca participa do evento.
Também veterana na SPFW, a Dendezeiro se apresenta pela sexta vez. Nesta edição, o desfile da marca acontece no dia 20 de outubro, às 20h30, com a coleção “Brasiliano: Filhos do Sol”.
Júnior e Céu Rocha, da marca baiana Meninos Rei
Natally Acioli/g1
Criada em 2015, a Meninos Rei foi idealizada pelos irmãos, Júnior, Céu e Eduardo Rocha. Enquanto os dois primeiros são o rosto e o coração da marca, o terceiro fica nos bastidores e cuida da parte administrativa do negócio.
Antes de trabalhar com seus irmãos, Júnior era stylist da cantora e atual Ministra da Cultura Margareth Menezes. Apesar de amar o que fazia, ele sempre teve o desejo de ter uma marca de roupas com peças diferentes das que estavam disponíveis no mercado.
As criações da marca são inspiradas em vestimentas de sacerdotes e ialorixás do candomblé, religião de matriz africana, e conta com muitas cores e estampas.
“A gente tem uma autenticidade muito grande nas nossas peças, nas nossas criações, e assim, quando a pessoa vê uma roupa, já identifica a estampa: é Meninos Rei”, revelou Júnior.
Hisan Silva e Pedro Batalha, da marca baiana Dendezeiro
Natally Acioli/g1
Já Hisan Silva, CEO e diretor criativo da Dendezeiro, se juntou com o amigo Pedro Batalha para fundar a marca. Na época, em 2019, eles só tinham um salário mínimo, que era de R$ 998, e um sonho: criar roupas agênero, que poderiam ser usadas por qualquer pessoa independentemente da identidade a qual se identifica.
Além disso, as peças precisavam ter uma modelagem confortável para que os clientes se sentissem bem ao usá-las.
“Roupas com gênero é uma coisa tão 2010. Está no passado, não tem como”, opinou Hisan.
Corpos diversos na passarela
Com Jojo Todynho, Deborah Secco e Márcio Vitor, marca baiana mostra ‘favela viva’ na São Paulo Fashion Week
Arte g1
A Dendezeiro e a Meninos Rei surgem também com o objetivo de quebrar estereótipos sobre os corpos que cabem nas passarelas. As marcas veem como ultrapassada a visão de que no mundo da moda só há espaço para corpos brancos, altos e magros.
“O que a gente faz é desconstruir essa ideia de belo, né? A nossa moda fala das nossas vivências, e a gente quer falar para quem tem um corpo gordo, que há beleza no seu corpo. A gente paga um preço um pouco mais alto, mas não nos incomodamos com isso”, afirmou Céu Rocha.
“Queremos abrir caminhos, fazer com que essas pessoas se olhem no espelho e resgatem a sua autoestima, que essas pessoas se vejam realmente como referencial de beleza”, enfatizou.
Marca baiana Meninos Rei, assinada pelos irmãos Céu e Junior Rocha, mostrou para o mundo que o subúrbio de Salvador deve ser considerado o berço da arte e da cultura.
Arquivo Pessoal
Essa quebra de padrão, inclusive, se tornou “figurinha carimbada” na passarela do maior evento de moda do país. “A primeira marca a colocar uma pessoa em uma cadeira de rodas na São Paulo Fashion Week foi a Meninos Rei, e, mesmo assim, diante de muita luta, sem patrocínio”, afirmou Júnior.
Apesar da dificuldade para conseguir patrocínio, Júnior e Céu não desanimaram nesses nove anos de existência da marca.
“A gente corre atrás de patrocínio, mas as grandes marcas ainda não apostam, não acreditam. Ainda assim, a gente vai e dá o nosso melhor, porque tudo que é feito com amor, floresce, e está florescendo”, disse Júnior.
Pocah e Majur desfilaram para a Dendezeiro na SPFW 2023
Arquivo Pessoal/@yagomesquitta
Assim como a Meninos Rei, a Dendezeiro também levou a pluralidade para o palco da SPFW. Pedro Batalha vê o evento como um lugar de representatividade e alcance global para a marca.
“A São Paulo Fashion Week é sempre uma sensação muito incrível. É onde a gente consegue apresentar as nossas maiores criações, os nossos ideais enquanto designers e a gente consegue fazer isso em uma escala nacional e, muitas vezes, até global quando a gente leva nosso trabalho até lá”, enfatizou.
Dendezeiro na São Paulo Fashion Week
Reprodução/Redes Sociais
E a diversidade não fica restrita à passarela. Isso porque, segundo Pedro, surgiram mais designers plurais na semana de moda paulista na última década.
“Há muito tempo a gente não via a presença de muitos designers negros, nordestinos, indígenas, dentro das passarelas e, hoje, você vê que essa realidade vem sendo mudada aos poucos”, afirmou.
Coleção #BRs2 que desfilou no São Paulo Fashion Week 2023
Arquivo Pessoal/@yagomesquitta
Já Hisan Silva, trouxe à tona a potência da moda e o poder de revolucionar que ela tem.
“Durante muitos anos a moda foi lida como algo fútil, mas hoje a gente olha para a moda e vê a potência que a moda tem, sabe? E aonde a moda pode chegar, e como a moda pode unir, o que a moda pode revolucionar”, disse.
👗Mercado da moda
Criadores da Meninos Rei e da Dendezeiro falam sobre dificuldades no mercado da moda
Quem vê a Dendezeiro e a Meninos Rei consolidadas no mercado, não imagina as dificuldades enfrentadas. Os obstáculos vão desde a ausência de investimento nesse segmento em estados do Norte-Nordeste, até o preconceito enfrentado por marcas nordestinas no eixo Rio-São Paulo.
“Quando a gente falava sobre moda nacional, ela estava presa dentro de um círculo muito específico, que era o sul e o sudeste. O norte, o nordeste e todas as outras regiões não se sentiam contempladas por isso”, explicou Hisan.
Hisan Silva, CEO e diretor criativo da Dendezeiro
Reprodução/Redes Sociais
O CEO da Dendezeiro ainda pontuou que luta diariamente para que a potência da capital baiana seja reconhecida nesse cenário. Ele também destacou o retorno financeiro e a possibilidade de geração de emprego com o investimento nesse segmento.
“A gente está aqui trabalhando para mostrar como é um mercado financeiro potente e que pode gerar muito dinheiro para a cidade, que pode circular, que é sobre contratação, que é sobre desemprego, que é sobre uma série de coisas que precisa de um olhar e de um investimento”, comentou Hisan.
“Quando eu olho para trajetória da Dendezeiro, uma marca que hoje é tão grande e tão potente, a única coisa que eu consigo dizer e pensar sobre isso é de que grandes ideias e grandes potências existem o tempo todo e elas estão por aí. Elas só precisam de investimento”, destacou Hisan Silva.
Croqui da Dendezeiro
Natally Acioli/g1
A dificuldade também está em encontrar insumos e na necessidade de ter que comprá-los fora da Bahia como, por exemplo, em São Paulo ou, até mesmo, em Guiné-Bissau, país africano, de onde vem os tecidos das peças, sinalizou Céu Rocha.
O baiano também falou sobre a ausência de mão de obra qualificada para a produção das roupas. Para ele, o ato de costurar é delicado e primoroso.
“Eu posso ter a melhor ideia do mundo, mas não costuro, tenho a noção básica e, se eu não tiver um profissional do lado, que execute essa minha ideia, a coisa não vai acontecer”, disse.
Céu Rocha, da Meninos Rei
Natally Acioli/g1
🤔 Mas afinal, o que faz com que essas marcas permaneçam em destaque no cenário nacional? Para Marcia Brandão, analista técnica do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e responsável pelo projeto de moda da entidade, algumas questões fazem com que ambas tenham esse bom desempenho:
Avanço tecnológico;
Diversidade;
Inclusão;
Identidade com o público-alvo.
Ela sinalizando ainda que essa visibilidade que a Meninos Rei e a Dendezeiro têm reflete em um movimento de valorização da cultura local, da identidade e da diversidade, que são características marcantes da moda baiana.
“A moda autoral vem crescendo em cada região e, na Bahia, não é diferente. Nossa cultura e costumes influenciam neste comportamento e gera grandes oportunidades”, destacou.
Brandão também destacou que o empreendedorismo na moda é promissor e tem evoluído significativamente ao longo dos anos no estado.
A especialista elencou algumas dicas para quem deseja entrar nesse segmento. Confira:
Conhecer o mercado e o público-alvo;
Identificar oportunidades e nichos em que possa atuar de forma diferenciada e inovadora;
Investir na identidade e na autenticidade da marca, valorizando a cultura e as tradições locais;
Buscar capacitação e networking, aproveitando as oportunidades de aprendizado oferecidas pelo Sebrae Bahia.
🤎 Queridinhas dos famosos
Anitta vestindo a baby tee Gostosa e Cansada, da Dendezeiro
Reprodução/Redes Sociais
Já imaginou estar rolando feed em uma rede social e, do nada, receber uma mensagem de Karol Conká para falar sobre uma compra que fez no site da sua loja? E vestir IZA e a banda dela no The Town, festival de música realizado em São Paulo? Pois bem, isso aconteceu com os meninos da Dendezeiro.
Hisan definiu os episódios como “momentos de surto maior” e destacou a felicidade que é ter seu trabalho reconhecido por artistas que são inspiração para ele.
“É muito massa quando você vê essas pessoas olhando e utilizando, e gostando, porque são pessoas que a gente olha, que a gente admira e que a gente tem um apreço, sabe? É muito emocionante”, disse com os olhos brilhando.
Também vestiram Dendezeiro nomes como Lore Improta, Sarah Aline, Lucas Pizane, Juliette, Majur, Baco Exu do Blues, Paolla Oliveira, Pocah, Liniker e Urias.
Iza se apresenta no The Town 2023 com figurino produzido pela Dendezeiro
Luiz Gabriel Franco/g1
Uma das primeiras artistas a usar Meninos Rei foi Margareth Menezes, conforme relembrou Júnior Rocha. Segundo ele, Maga, como é carinhosamente chamada, e Carlinhos Brown são os padrinhos da marca.
“Eu trabalhei com Margareth durante 23 anos, e aí eu lembro que quando eu tive a ideia da marca, Maga, inclusive, sugeriu nomes”, disse.
Lore Improta e Leo Santana vestem Meninos Rei
Reprodução/Redes Sociais
Entre os artistas que já usaram peças da marca estão Lore Improta, Leo Santana, Marcio Victor, Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Carlinhos Brown e Gilberto Gil.
“São artistas que têm acesso à diversas marcas, mas que começam também a refazer o seu olhar, perante tudo o que está acontecendo. Então, é você começar a olhar para o seu umbigo, quem está produzindo moda em Salvador, quem está produzindo arte no nosso local de fala, de nascimento”, comentou.
“Eu acho que quando um artista veste a Meninos Rei, primeiro que reitera nossa luta de nove anos, e também reforça que a gente está conseguindo”, complementou.
Marcio Victor, vocalista da banda Psirico, vestindo Meninos Rei
Reprodução/Redes Sociais
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