O secretário de Comércio dos Estados Unidos ameaçou nesta sexta-feira (14) impor taxas a carros importados do mundo inteiro. Guerra das tarifas preocupa montadoras dos EUA e Tesla, do bilionário Elon Musk, acende alerta
O secretário de Comércio dos Estados Unidos ameaçou nesta sexta-feira (14) impor taxas a carros importados do mundo inteiro. Mas são as montadoras americanas que andam preocupadas com esse “toma lá, dá cá” das tarifas. Até mesmo a Tesla, fabricante de carros elétricos do bilionário Elon Musk.
Em um mundo cada vez mais globalizado, onde tudo está interligado, a guerra comercial iniciada por Donald Trump ameaça ter um efeito inverso e prejudicar a própria indústria americana que o presidente quer proteger. O setor automotivo pode ser um dos mais atingidos. Tanto que até a montadora de carros elétricos Tesla, do bilionário Elon Musk, aliado de Trump, acendeu o alerta.
Na quinta-feira (13), a imprensa teve acesso a uma carta da empresa para o governo americano. O documento destaca que a retaliação de outros países às tarifas dos Estados Unidos pode prejudicar as exportações americanas. A China, por exemplo, é o segundo maior mercado da Tesla.
‘Toma lá, dá cá’ das tarifas no governo Trump: montadoras americanas como Tesla, de Elon Musk, temem que guerra comercial prejudique negócios
Jornal Nacional/ Reprodução
A carta também chama atenção para a dependência das empresas americanas d e insumos estrangeiros e para o aumento do custo desses insumos com as tarifas. O documento afirma que certas partes e componentes dos carros são difíceis ou até mesmo impossíveis de serem encontrados dentro dos Estados Unidos.
Para montar um carro, cada peça vem de um lugar diferente. A globalização criou uma cadeia de produção que envolve o mundo todo. No caso de um carro americano, por exemplo, a matéria-prima, que são os metais brutos, são extraídos no Canadá. O México – que tem mão de obra mais barata – transforma esses metais em peças. As montadoras de carros elétricos também precisam comprar baterias da China e da Índia. Aí essas peças viajam até os Estados Unidos, onde a indústria americana é responsável pela montagem final do carro.
Se os fabricantes passarem a pagar mais pelas peças e matérias-primas, o produto final poderá ser vendido por um preço mais alto ao consumidor. É como se a tarifa voltasse para a própria população dos Estados Unidos.
Na semana passada, Trump recuou e adiou o tarifaço sobre autopeças do México e do Canadá, mas a expectativa é de que as taxas entrem em vigor em abril.
O economista Lawrence White, da Universidade de Nova York, explica que carros americanos mais caros empurrariam o consumidor a procurar os concorrentes estrangeiros, que comparativamente ficariam mais baratos que os veículos produzidos nos Estados Unidos:
“Outros países podem dizer: ‘Opa, vou exportar mais para os Estados Unidos’. Países como a Coreia do Sul, Japão, os europeus, quem sabe até o Brasil. O governo americano vai dizer: ‘Não vai não. Vamos aumentar as tarifas para os seus carros também’”, diz.
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Os carros asiáticos correspondem a quase 17% das vendas no mercado americano. Atualmente, os carros importados da Coreia do Sul entram nos Estados Unidos sem pagar tarifas, e a taxação sobre carros japoneses é de apenas 2,5%. Já os europeus exportaram para o mercado americano US$ 58 bilhões em veículos e autopeças em 2023.
Em uma entrevista, o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, foi perguntado nesta sexta-feira (14) se o governo imporia tarifas a carros importados do Japão, da Coreia do Sul e da Alemanha, por exemplo. E respondeu:
“Seria justo, certo? Se vamos taxar a importação de carros de qualquer procedência, temos que taxar carros de todos os lugares”.
Para um país como os Estados Unidos, onde a maioria roda de carro porque poucas cidades têm transporte público de qualidade, e a maior parte da circulação de produtos é feita sobre quatro rodas, um aumento no preço dos veículos pode significar um baita pé no freio para a economia. O professor White conclui:
“Somos um país muito centrado em carros. Isso vai aumentar o custo de vida. Quem já está infeliz com a alta de preços vai ficar ainda mais infeliz com o preço dos carros ficando ainda mais alto”.
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