Uma semana após tragédia aérea com queda de avião em área residencial, vizinhos revivem momentos de terror; eles relatam de pesadelos, distúrbios de sono ou mudanças de hábitos. 62 pessoas morreram no acidente em Vinhedo (SP). Moradora de condomínio onde avião caiu em Vinhedo pensou que iria morrer
Uma semana após o acidente da Voepass que deixou 62 mortos em Vinhedo (SP), os moradores do Residencial Recanto Florido, onde a aeronave caiu, ainda revivem os momentos de terror que sucederam a tragédia – seja por meio de pesadelos, distúrbios de sono ou mudanças de hábitos.
“Eu só pensei realmente que o avião iria cair em cima da casa, porque o barulho foi muito, muito alto. A hora que a gente viu que a janela de vidro da casa tremendo, eu falei: ‘tchau, mundo’”, lembra Érika Lepre Galindo.
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As causas do acidente continuam sendo investigadas, e a recuperação das caixas-pretas pode indicar o que levou à maior tragédia aérea do país desde 2007. Enquanto isso, a associação de moradores do condomínio se prepara para realizar, em data ainda a definir, um ato ecumênico no local.
Em homenagem às 62 vidas perdidas, duas missas de sétimo dia acontecem nesta sexta-feira (16): uma em Vinhedo, na Comunidade São Roque, às 19h30; e outra na Catedral Metropolitana de Campinas, a cerca de 20 km do acidente, às 12h15.
Local do acidente fica em um condomínio residencial em Vinhedo
Eliandro Figueira/Arquivo pessoal
‘Terror do barulho e silêncio total’
Érika conta que estava almoçando em casa com a enteada quando começou a ouvir um “barulho estranho” que parecia ficar cada vez mais forte. A enteada, Gabrielly Camargo, lembra que pensou ser a Esquadrilha da Fumaça, pois o grupo havia se apresentado na cidade recentemente.
“A última coisa que passa pela cabeça é que tá caindo um avião, aí eu comecei a ficar mais assustada. Quando começou a chegar tão perto do barulho, que começou a tremer tudo em casa, eu peguei meu celular rápido e fui tentar gravar”, conta Gabrielly.
Com medo, Érika e Gabrielly saíram de casa e levaram os animais de estimação. Do lado de fora, acompanharam a movimentação dos bombeiros e da polícia, além do desespero de outros moradores que deixaram as próprias casas.
“Sabe aquela coisa? Tipo assim, o que aconteceu agora? A gente tava sem saber o que estava acontecendo, qual o tamanho do avião, aonde tinha sido, o terror do barulho, do silêncio total, aí depois começou a fumaça”, lembra Érika.
Para Érika, presenciar o acidente causou reflexos no sono. “Dormir nos primeiros dias foi bem difícil. A gente acordava muito. E aquele barulho que a gente ouvia, depois o silêncio. Quando eu ouço o avião passando, porque ali é rota de avião, às vezes me dá aquele gelo no coração, a gente fica apreensiva”.
Simulação mostra trajetória do avião da Voepass até perda de contato com o radar
‘Asa do avião caiu dentro do meu quintal’
Vizinha do local da queda do avião, a advogada Nathalie Cicari relata ter ouvido zumbidos altos antes do acidente, que chegaram a ser confundidos com um drone. Ao sair da residência, viu a aeronave caindo em “parafuso” e decidiu se esconder.
“Percebi que não daria tempo de sair de casa ou de correr para outro lugar, então eu me abaixei, cobri a cabeça e esperei. Ouvi aquele som muito, muito alto de queda e de explosão, foi quando eu saí de novo na varanda e vi que tinha caído do avião aqui”, conta.
Amante de esportes de adrenalina, a advogada decidiu cancelar um salto de bungee jump que havia agendado para o próximo fim de semana e relata que tem sofrido com pesadelos. Ainda em choque, Nathalie diz que tenta encarar o trauma sob uma nova perspectiva.
“Ia pular de bungee jump essa semana e cancelei porque eu não preciso de mais emoção na minha vida. […] Vejo que as coisas ruins acontecem por um motivo e a gente pode ou se apegar a elas e deixar de viver ou aproveitar mais uma oportunidade de viver, já que foi tão perto de mim, e aprender com isso e levar isso para minha vida fazendo cada dia ser melhor”, reflete.
Destroços de avião em Vinhedo
Miguel Schincariol/AFP
‘Não sabia onde ele ia cair’
O produtor musical Breno Loschi também estava em casa no momento do acidente e conta ter ouvido o mesmo barulho logo após almoçar. “Comecei a olhar para o céu para procurar, mas não achava. Fica olhando para o horizonte, para o lado, e o barulho só aumentando”.
“Falei ‘ué, cadê você avião?’. Daí que olhei para cima, bem para cima. Tipo na minha cabeça. Ele estava já girando, naquele espiral, quando começou a descer e eu não sabia onde ele ia cair”, relata o morador.
A aeronave caiu a duas ruas de distância da casa de Breno. Ainda sem acreditar na experiência que viveu, Breno diz ainda estar se adaptando, mas que teve problemas para dormir nos primeiros dias e precisou lidar com uma mudança brusca na rotina.
Avião que saiu de Cascavel, oeste do Paraná, faz operação de emergência e caiu em Vinhedo, São Paulo.
Breno Loschi/Arquivo pessoal
Cronologia da tragédia
Ainda não se sabe o que causou o acidente, mas a queda em espiral sugere a ocorrência de um estol — que acontece quando a aeronave perde a sustentação que lhe permite voar —, segundo especialistas.
Veja, abaixo, da decolagem à queda, a cronologia do acidente da Voepass, o maior do país em número de vítimas desde 2007, quando um avião atingiu um edifício em São Paulo ao tentar pousar.
Inicialmente, a Voepass noticiou que 61 pessoas tinham morrido após a queda do avião. Na manhã de sábado (10), o número de mortes subiu para 62.
A aeronave decolou às 11h56 e o voo seguiu tranquilo até 13h20.
O avião subiu até atingir 5 mil metros de altitude às 12h23, e seguiu nessa altura até as 13h21, quando começou a perder altitude, segundo a plataforma Flightradar.
Nesse momento, a aeronave fez uma curva brusca.
Segundo a Força Aérea Brasileira (FAB), a partir das 13h21 a aeronave não respondeu às chamadas do Controle de Aproximação de São Paulo, bem como não declarou emergência ou reportou estar sob condições meteorológicas adversas.
Às 13h22 – um minuto depois do horário do último registro – a altitude estava em 1.250 metros, uma queda de aproximadamente 4 mil metros.
A velocidade dessa queda foi de 440 km/h.
O Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) informou que o “Salvaero” foi acionado às 13h26 e encontrou a aeronave acidentada em um condomínio.
Como era o avião que caiu em Vinhedo
Arte g1
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