26 de outubro de 2024

Moradores de Santa Teresa, no ES, ajudam na localização de anfíbio exclusivo da Mata Atlântica

Dados do sapinho-de-chifre-paviotii foram compartilhados com pesquisadores, que puderam mapear ocorrência da espécie e realizar pesquisas de campo. Sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii)
João Victor Lacerda
Um projeto de ciência cidadã que reuniu gravações e fotografias enviadas por moradores de Santa Teresa (ES) permitiu o mapeamento de novas ocorrências do sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii), um anfíbio exclusivo da Mata Atlântica.
A espécie é pouco conhecida pela ciência e está classificada como Quase Ameaçada (NT) de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Ao todo, 42 registros foram enviados por dez cidadãos cientistas na região de Santa Teresa.
A partir da geolocalização dos registros, especialistas do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Universidade Federal do ABC (UFABC) puderam fazer coletas inéditas de material genético e gravações vocais da espécie. Os resultados foram publicados nesta quarta-feira (23), na revista internacional “PeerJ”.
O estudo apontou que, ao contrário do que se pensava, o sapinho-de-chifre-paviotii não é tão raro assim, tendo sido reportado por cidadãos cientistas até mesmo em quintais e poças de chuva formadas em ruas e calçadas.
Espécie é exclusiva da Mata Atlântica e está ameaçada de extinção
João Victor Lacerda
O mapeamento do sapinho é parte dos esforços de um projeto de ciência cidadã conduzido por especialistas do INMA. Criado em 2020, o projeto “Cantoria de Quintal” coleta e analisa ocorrências de espécies de anfíbios no estado a partir de registros enviados pelo público.
Segundo o herpetólogo João Victor Lacerda, integrante do projeto, são conhecidas 110 espécies de sapos, pererecas e rãs somente na cidade de Santa Teresa, dado que a torna um dos municípios com a maior diversidade de anfíbios do planeta.
Em menos de quatro anos, a iniciativa recebeu cerca de 900 arquivos enviados por 160 cidadãos cientistas, contemplando cerca de 40 espécies, sendo algumas ameaçadas de extinção, raras ou pouco conhecidas pela ciência.
“Isso tem sido uma tendência mundo afora, sobretudo nas duas últimas décadas com esse avanço de tecnologia. As pessoas conseguem fazer registros muito bons da natureza e georreferenciados. A gente consegue saber exatamente a localização, data, hora daquele registro. Isso é uma informação extremamente preciosa para a ciência”, detalha.
Moradores em prol da ciência
Ciência cidadã é um tipo de prática científica em que o público em geral, ou pessoas sem formação acadêmica específica na área, participa ativamente da coleta, análise e/ou interpretação de dados científicos. Os leigos que auxiliam nas pesquisas são chamados de cidadãos cientistas.
Embora possa ser confundida com educação ambiental ou divulgação científica, a abordagem anda de mãos dadas com elas, mas tem objetivos e métodos diferentes.
Mais do que apenas receber os registros, os pesquisadores também fornecem informações e curiosidades sobre as espécies para que as pessoas saibam quais animais frequentam seus quintais e qual o nível de colaboração de cada cidadão cientista com o projeto.
Sapinho-de-chifre-paviotii (Proceratophrys paviotii)
João Victor Lacerda
“Boa parte da população tem um certo medo ou asco de anfíbios. Então a gente tem que fazer um trabalho de sensibilização ambiental intenso antes para eles entenderem a importância daquele trabalho para se conhecer e preservar as espécies”, diz João Victor.
Assim, cidadãos cientistas podem participar da proposição das perguntas de pesquisa, delineamento dos métodos a serem colocados em prática, geração e análise de dados, ou divulgação dos resultados atingidos. Eles podem, inclusive, participar de todas essas etapas.
No projeto do INMA, o engajamento do público também passa pela redação de guias fotográficos e textos científicos. Para isso, os pesquisadores têm estreitado laços com estudantes e professores do Ensino Básico.
Um dos próximos passos do Cantoria de Quintal, conforme o herpetólogo, é se aproximar de frequentadores de unidades de conservação, atuando junto a gestores, funcionários, turistas, guias turísticos e outras pessoas que possam fornecer os valiosos dados de biodiversidade.
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