2 de outubro de 2024

Moradores do ‘minipantanal paulista’ falam sobre dia a dia após tragédia ambiental em julho

Despejo irregular de poluente matou 235 mil peixes no Rio Piracicaba, a maioria na área de preservação. Atualmente, ainda em recuperação, os moradores precisam lidar também com a falta de chuva. No local que serve de lar para mais de 300 espécies de plantas e de 435 espécies de animais, a natureza se impõe e a vegetação se mistura em meio aos rios e lagos em uma paisagem única, formndo o “minipantanal paulista”. A Área de Proteção Ambiental (APA) Tanquã-Rio Piracicaba é um santuário da biodiversidade e da conservação de uso sustentável.
A pequena vila que existe no paraíso escondido no interior do estado é lar de 50 pessoas, que tiram seu sustento da pesca ou da produção local no Tanquã. A área é formada na foz do Rio Piracicaba, quando ele chega no Rio Tietê, no início do reservatório formado pela barragem de Barra Bonita.
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Em mais uma reportagem especial de comemoração dos 45 anos de EPTV, afiliada da TV Globo, a equipe esteve no minipantanal paulista para conversar com moradores e mostrar como tem sido o processo de recuperação após a maior tragédia ambiental que atingiu a região, em julho, e sobre a ligação dos habitantes da pequena vila com a natureza e a preservação.
Produtor de leite 🐄
Antonio Pires é morador do Tanquã e trabalha com sua produção local de leite
Reprodução/EPTV
O sol acaba de surgir, dando início ao dia. Antonio Pires, o Seu Antonio, também já está de pé, se preparado para começar as tarefas. O produtor local começa a primeira atividade, cuidando dos bezerros e das vacas.
Depois de deixar os filhotes se alimentarem com as mães, é hora de tirar o leite. Mas a produção tem sido fraca, diz o produtor. “Muito pouco. Uns dois litros, acho. O pasto está fraco”, explica.
A falta de chuvas e a seca tem causado o enfraquecimento da vegetação e do pasto, afetando a alimentação e produção de leite das vacas.
Ele conta ao repórter que, para quem mora no campo, afastado da cidade, assim como ele, é muito importante poder se manter informado por meio da televisão.
Depois de tirar o leite das vacas, o produtor faz uma filtragem do líquido, que será usado para produção de queijo. A próxima tarefa é conferir se as galinhas, que vivem soltas pela propriedade, botaram ovos.
Para finalizar a manhã, é a vez de cuidar dos porcos, que são alimentados com milho. Em meio às tarefas do seu dia, Seu Antonio arruma um tempinho para poder conferir os telejornais da EPTV e se manter informado sobre o que tem ocorrido na região.
Depois de se despedir, o produtor prepara seu cavalo para montaria. É preciso dar continuidade aos trabalhos e a próxima parada é o pasto. Ele segue a cavalgada em meio à paisagem privilegiada do Tanquã para finalizar o dia.
Seu Antonio finaliza a manhã assistindo aos telejornais da EPTV, e depois segue para o cuidado do pasto
Reprodução/EPTV
Ligação com a natureza e preservação 🌱
O pequeno grupo de pessoas que vive no Tanquã leva uma vida diferente da população de centros urbanos. Nilson Abrahão, o “Alemão”, vive há 30 anos na área de proteção e, para ele, é uma oportunidade única.
“É um privilégio, porque a gente é nascido e criado na cidade e, quando a gente veio pra cá conhecer a natureza de perto, é morar no paraíso. Não consigo explicar isso com palavras, é uma emoção tão grande que não tem como explicar”, relata.
A tragédia que atingiu a área do Tanquã em julho afetou fauna e flora e os moradores da região, mas Nilson ressalta a capacidade de resistência do ecossistema.
“A natureza é maravilhosa, ela não deixa nada pra depois. O homem tenta destruir, mas a natureza dá seu jeitinho e se recupera”, finaliza o morador.
APA Tanquã-Rio Piracicaba
Governo do Estado de São Paulo
A vila do Tanquã 🛖
Fundada há cerca de 50 anos, o bairro do Tanquã mantém as raízes familiares e de conexão com a natureza. O pescador Adilson Evangelista, filho do fundador, vive até hoje no local.
Ele conta que seu pai o ensinou muito sobre o lugar, em especial sobre a necessidade de preservar a fauna e a flora. Vendo o desastre pelo qual a área passou, o pescador frisa que a situação tem sido complicada. “Tá muito difícil recuperar. Eu acho que vai uns 10 anos, no mínimo.”
Mas a intervenção do homem não muda a admiração e o amor pelo lugar onde cresceu e hoje cria seus filhos, cercados pela natureza e pelo cenário paradisíaco.
“Me sinto privilegiado de morar em um lugar como esse. Criança você pode criar solta, é uma maravilha. É uma satisfação”, agradece o pescador.
Desastre ambiental em julho
Peixes mortos na APA do Tanquã, em São Pedro
Jefferson Souza/ EPTV
Em julho deste ano, a maior mortandade de peixes já registrada no Rio Piracicaba, que chegou até a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tanquã, no interior de São Paulo, matou cerca de 253 mil peixes em um trecho de 70 quilômetros.
O dano ambiental gerou uma multa de R$ 18 milhões à Usina São José, de Rio das Pedras (SP), apontada pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) como a origem da poluição que gerou as mortes dos animais.
O Ministério Público e Polícia Civil também investigam o caso e a empresa diz que não foi comprovada a responsabilidade dela.
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