Operação foi realizada em Dianópolis, na região sudeste do Tocantins. Duas pessoas morreram em confronto com a polícia e outra foi presa; polícia investiga situação análoga à escravidão. PM localiza fábrica clandestina de cigarros no interior do Tocantins
Duas pessoas morreram após uma fábrica de cigarros clandestina ser desarticulada em Dianópolis, região sudeste do Tocantins. O galpão escondido em uma fazenda tinha maquinários e insumos suficientes para produzir até 1 milhão de cigarros por dia. Uma pessoa foi presa em flagrante e confessou em depoimento que pessoas eram trazidas do Paraguai para trabalhar na fábrica.
A operação contra a organização criminosa internacional foi realizada pela Polícia Militar do Tocantins neste domingo (7), após troca de informações com as PMs de Pernambuco e Bahia. Veja os tópicos abordados na reportagem abaixo:
Como iniciou a operação?
Dois mortos e um preso
Fabricação clandestina de cigarro
Suspeita de trabalho análogo a escravidão
Veja como era por dentro da fabrica clandestina de cigarros em Dianópolis
Como iniciou a operação?
A fábrica fica em uma fazenda na zona rural de Dianópolis, há 338 quilômetros de Palmas. Os militares do Tocantins foram até o local após receberem informações da equipe da Bahia de que um caminhão de cigarros contrabandeados foi apreendido na cidade de Feira de Santana (BA).
Eles informaram que a carga tinha origem seria de uma fábrica clandestina próximo à divisa com a Bahia, na cidade de Dianópolis, no Tocantins. Inicialmente os policiais monitoraram o galpão com apoio de um drone. Quando a equipe se aproximou, os seguranças da fábrica começaram a atirar.
Dois mortos e um preso
Após a chegada dos policiais, os seguranças e uma terceira pessoa fugiram para uma região de mata. Durante as buscas houve troca de tiros e duas pessoas morreram, sendo um homem natural de Minas Gerais e outro de Piauí.
Segundo a PM, as buscas pelos suspeitos duraram cerca de 24h, iniciando no sábado (26) a tarde e se estendendo até o domingo (27), quando os suspeitos foram localizados.
“Quando eles chegaram, tinham duas pessoas aqui que estavam fazendo a segurança do local, duas pessoas armadas. Os policiais foram recebidos a tiros, eles atiraram nos policiais e evadiram para o mato, para a região de mato. Eles foram localizados na mata, onde houve novo confronto, nova troca de tiros e eles foram neutralizados e vieram à óbito”, explicou o comandante da PM no Tocantins, Coronel Márcio Barbosa.
Já outro homem, que seria o gerente da fábrica, foi preso e autuado por vários crimes. Conforme o delegado da Polícia Federal, João Marcos Monteiro, ele usava um documento falso há cerca de 10 anos para fugir de um mandado de prisão em aberto contra ele.
“Um custodiado, que foi encontrado no galpão. Foi feita prisão em flagrante, autuado por descaminho, crime contra relação de consumo, devido a manutenção e depósito de produtos que expõe perigo a saúde pública e uso de documento falso”, contou.
Fabricação clandestina de cigarro
Segundo a Polícia Militar, os criminosos escondiam a fábrica em uma fazenda, onde simulavam a ideia de que o local era propriedade rural para criação de animais.
“Aqui tinha uma história de cobertura que funcionava como uma propriedade rural. Uma casinha, como se fosse uma fazenda, com criação de gado, criação de cavalos, e eles tentavam passar essa mensagem de que aqui era uma propriedade rural, mas ao subir o drone e ver por inteiro [o local], nós vimos que tinha um galpão que levantava muita suspeita”, contou o coronel.
Galpão encontrado na zona rural de Dianópolis
Divulgação
Foram apreendidos caminhões, 25 toneladas de tabaco in natura, 12 bobinas de papel de uma tonelada cada, 815 caixas de cigarros prontos, totalizando 12,3 toneladas, 126 caixas de filtros de cigarros, equivalente a 2,5 toneladas, além dos maquinários.
A Polícia Federal explicou que os criminosos chegaram a fazer isolamento térmico e acústico do local. Segundo o delegado João Marcos, até o momento, as investigações apontaram que os vizinhos da fazenda não sabiam que no local estaria sendo produzido esse material, justamente por esse isolamento de som.
Fábrica clandestina de cigarro em Dianópolis
Reprodução/Ana Paula Rehbein/TV Anhanguera
Ao todo seis marcas de cigarros do Paraguai eram produzidas, sem autorização para serem comercializadas no Brasil. A fábrica possuía uma estrutura profissional e os criminosos usavam embalagens para simular que o cigarro produzido no Tocantins, tinha origem no Paraguai, como explica o delegado da PF.
“Estrutura complexa, muito bem montada, verdadeiramente profissional. No local foram encontrados diversos cigarros e diversas embalagens simulando que esses cigarros seriam oriundos do Paraguai. A sistemática adotada foi diferente. Ao invés da produção desses produtos ser realizada no Paraguai, eles trouxeram a indústria que seria sediada lá, aqui para o Tocantins, afim de que aqui fossem produzidos esses produtos, com aparência como se tivesse sido produzida no exterior”, disse.
Conforme a PF, os maquinários que não forem úteis para órgãos de segurança pública ou instituições diversas serão destruídos. Já aqueles materiais que interessarem, serão devidamente acondicionados em local adequado para depois serem destinados.
A Polícia Federal também investiga se uma das máquinas usadas na fábrica é a mesma que foi furtada no Rio de Janeiro, em março deste ano.
Caixas de cigarro encontradas em estrutura de galpão
Divulgação
Suspeita de trabalho análogo a escravidão
A fábrica possuía alojamentos com capacidade para 18 pessoas. A Polícia Federal informou que os trabalhadores não estavam na fábrica no momento da abordagem. A suspeita é de que esses trabalhadores compareciam na indústria de forma sazonal. Eles fabricavam e depois saiam.
Imagens registradas pela TV Anhanguera mostram cômodos com roupas espalhadas pelo chão, malas, cabos e sacos, além de camas, objetos de higiene pessoal, utensílios de cozinha e pacotes de erva mate comercializados no Paraguai. (Vídeo no início da reportagem)
Cômodos com roupas e objetos espalhados em uma fábrica clandestina de cigarro em Dianópolis
Reprodução/Ana Paula Rehbein/TV Anhanguera
Há suspeitas de que os trabalhadores eram mantidos em cárcere privado, em situação semelhante à de escravidão. Segundo o delegado, João Marcos, essa situação ainda é investigada.
“Essa será uma nova circunstância que será apurada no inquérito policial, mas de fato visualizando o local em que os indivíduos eles ficavam alojados, isso pode até mesmo vir a configurar uma situação análoga à escravidão. Contudo é importante frisar que isso não foi alvo da prisão em flagrante, pois os trabalhadores não se encontravam no local”, explicou.
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