25 de dezembro de 2024

Motoristas da Secretaria de Saúde de Sorocaba denunciam assédio, jornada excessiva e condições precárias de trabalho

Funcionários públicos falam de casos em que jornada chega a 15 horas por dia. Garagem não apresenta conforto aos profissionais. Veículos da frota da Secretaria da Saúde de Sorocaba (SP)
Arquivo Pessoal
Motoristas da Secretaria de Saúde de Sorocaba (SES) denunciam as condições precárias de trabalho na pasta. De acordo com relatos, os funcionários sofrem com jornada de trabalho exaustiva e falta de estrutura. A prefeitura diz que está aberta ao diálogo e que segue a legislação. O sindicato da categoria diz que acompanha a situação.
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Atualmente, são quase 100 motoristas na Secretaria de Saúde. A maior parte deles fica no prédio do Mercado Distrital, na zona norte. O maior problema continua sendo a jornada, na escala 12×36 – 12 horas por dia de trabalho.
Em janeiro deste ano, o g1 mostrou problemas na frota de veículos da SES
Eles relatam, por exemplo, que foram contratados por 40 horas semanais. Entretanto, em muitos casos, chegam a realizar jornadas de até 15 horas no mesmo dia. E quem viaja para São Paulo, em viagens com pacientes, tem ainda mais dificuldades: com jornada que extrapola as 12 horas diárias.
“O pessoal do transporte coletivo que faz São Paulo é pior ainda. Não é pago a ‘zona azul’, não é pago o estacionamento, a pessoa tem que comer dentro do veículo. O micro-ônibus só pode andar 90 quilômetros por hora. Então, você pega aquele trânsito de São Paulo, tudo parado lá, e, depois, quando você vem ali na Castelo [Rodovia Castello Branco], você só pode andar no máximo a 90 km por hora. Tem dias que os caras ficam rodando de seis a nove horas lá”, contra outro motorista.
“Às vezes, não dá nem para jantar. É sub-humano. Se você tomar multa, tudo por sua conta. Você tem que pegar e chegar na frente do hospital, não tem lugar para estacionar, você tem que estacionar em mão dupla. Aí, você tem que parar, abrir a porta, porque a porta lateral é pesada, o paciente, às vezes, não consegue. Não tem um agente de apoio”, reclama.
“Você tem que ficar ligando para os pacientes para saber se já foi liberado, porque você não pode, por exemplo, começar a pegar em um hospital numa área de São Paulo e sendo que os outros não foram liberados. Às vezes, o paciente fica ligando para você, no meio do trânsito e você não pode atender, porque você está dirigindo, ou é multado. É horrível, se você tivesse um agente de apoio dentro para ficar ligando, vendo essas pacientes, facilitava, ficar abrindo a porta para ajudar os pacientes.”
“Mas não tem um agente de apoio, não tem nada, não tem um lugar para você ficar seguro. Lá [em São Paulo], você pode ser assaltado, pode ser roubado. Já teve casos de sequestro relâmpago, de roubar o carro, roubar o motorista e o motorista ficar fazendo saques, e não foi um, não, vários”, desabafa.
Veículos da frota da Secretaria da Saúde de Sorocaba (SP)
Arquivo Pessoal
Os profissionais alegam ainda que o regime que foi estabelecido – 12×36 – não foi feito em acordo com o sindicato e não estabeleceu nenhuma folga. Porém, conforme eles, em outros municípios da Região Metropolitana de Sorocaba existe pelo menos uma folga, e, na maioria, até duas.
“Outro ponto é porque que alguns motoristas ultrapassam 44 horas extras e outros não fazem nenhuma hora extra. Também existe a questão do descanso de 11 entre as jornadas, que não está sendo respeitado. São este alguns pontos que achamos conflitantes”, diz outro servidor.
“Só pode trabalhar oito horas e no máximo é duas horas de hora extra, três se tiver convenção coletiva com o sindicato, estabelecida e negociada pelo sindicato empregador. Oito mais três dá 11 horas. Então, jamais a gente podia fazer 12 horas”, alega.
Outro motorista ouvido pelo g1 fala de forma mais sucinta como está o que ocorre no ambiente de trabalho. “Chantagens, assédio, ambiente péssimo, armários péssimos, pombos, carrapatos”, explica. Ele diz ainda que o local [no Distrital], além de ser insalubre, ainda não dá qualquer tipo de conforto para os profissionais.
“É uma loucura o que vem acontecendo no setor. É muito assédio.”
Reuniões sem resultado
Eles dizem ainda que foram feitas várias reuniões, inclusive com o sindicato da categoria, mas o problema persiste. Algumas dessas reuniões ocorreram após a morte de um motorista da prefeitura, durante uma viagem para a região de Bauru.
Ambulância de Sorocaba bateu na traseira de caminhão em Barra Bonita e motorista morreu
Arquivo pesoal
“A segurança dos pacientes e a qualidade do serviço de transporte de saúde dependem do bem-estar dos motoristas. Estamos há quase seis meses de luto e com reivindicações ignoradas”, diz outro profissional.
No Samu, eles reclamam ainda que não há protocolo para a atuação dos motoristas. Há ainda a diferença de salários entre trabalhadores que fazem as mesmas atividades, em função de horas extras. Uns fazem muitas, enquanto que outros não fazem.
Por fim, ainda tem a diferença de valores nos salários dos motoristas concursados e dos motoristas que são terceirizados. Essa diferença, em função das empresas terceirizadas seguirem o piso privado, passa de 80% com relação ao público.
“Nós estamos pleiteando melhorias para o setor e as regras que estão vigentes para nós, não está sendo bom, haja vista que houve um amigo nosso que morreu tragicamente aí por excesso de trabalho, né. Então a gente pleitear coisas melhores no trabalho não quer dizer necessariamente que a gente está falando que eles estão irregulares ou que não estão cumprindo com a legislação. A gente só quer pleitear algo melhor para nós, a gente quer o diálogo, tentamos o diálogo com a administração e ele está nos ignorando.”
O que diz prefeitura e sindicato
Prefeitura de Sorocaba (SP) fala em diálogo e investimentos
Marcel Scinocca/g1
De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, a escala de trabalho dos profissionais está alinhada ao Estatuto dos Servidores Públicos Municipais, em consonância a Lei Ordinária Nº 12482/2022. “Todas as operações da Secretaria da Saúde de Sorocaba são alinhadas aos procedimentos operacionais e portarias orientadoras do Ministério da Saúde”, alega.
A SES afirmou que está empenhada em aprimorar continuamente a qualidade e o conforto dos ambientes de trabalho de seus colaboradores. citou mudanças no Samu e diz que pretende replicar o modelo de trabalho do Palácio da Saúde, focando em conforto, eficiência e integração entre os serviços.
Disse ainda que a Secretaria de Recursos Humanos (SERH) “vem investindo na proposição de políticas governamentais efetivas de valorização do servidor e garantias da dignidade e respeito nas relações de trabalho, assim instituiu a Comissão Conciliadora para Análise Prévia de Casos de Assédio Moral”.
“A SES segue atuando para estabelecer um contato aberto e próximo com todas as categorias profissionais, visando criar um ambiente de trabalho harmonioso que priorize o conforto e a segurança das nossas equipes.”
Por fim, afirmou que, com a Lei 9504/1997 (Lei Eleitoral), as negociações estão limitadas ao que foi estabelecido no acordo coletivo dos servidores públicos municipais em conjunto com o sindicato da categoria. “No entanto, como mencionado anteriormente, a Secretaria da Saúde permanece aberta para ouvir e colaborar em revisões com os servidores de todas as categorias.”
O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba (SP) diz que acompanha o caso
Google Street View/Reprodução
O Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Sorocaba (SSPMS) afirmou que “divide com os servidores essa aflição”.
“É de conhecimento da entidade esses pontos de falta de estrutura e, por esse motivo, já foram realizadas diversas reuniões tanto com a categoria, quanto com a prefeitura, em busca de necessárias e merecidas melhorias.”
Além disso, o SSPMS também disse que já oficiou a prefeitura sobre a situação dos motoristas da saúde, não obtendo retorno positivo até o momento. “A entidade sindical segue atenta às demandas dos servidores e segue tomando as providências cabíveis para a situação.”
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