Operações do BRT de Belo Horizonte começaram em 8 de março de 2014 e, com isso, moradores de bairros periféricos do Vetor Norte deixaram de ter linhas de ônibus diretas para o Centro. Move completa 10 anos com projetos inacabados e dividindo opiniões de usuários
O Move, nome dado ao Bus Rapid Transport (BRT) de Belo Horizonte, completa 10 anos de operações nesta sexta-feira (8). Na percepção dos usuários, passada uma década, a nova forma de se deslocar pela cidade trouxe benefícios e prejuízos.
O Move começou a operar na Estação São Gabriel com três linhas, que saíam do terminal com direção ao Centro, passando pela Avenida Cristiano Machado. Na Região Central, foram criados os corredores das avenidas Paraná e Santos Dumont.
O projeto inicial previa outros três corredores e mais quatro grandes estações, interligando toda a cidade. Contudo, apenas mais um corredor (Pedro I/Antônio Carlos) e outras três estações (Pampulha, Vilarinho e Venda Nova) saíram do papel, restritos ao Vetor Norte da cidade (saiba mais abaixo).
Estação São Gabriel no início das operações do Move, em 2014.
Adão de Souza/PBH
Mudanças práticas
Na prática, a principal diferença para os usuários foi o fim das linhas que ligavam diretamente os bairros da periferia ao Centro.
A partir da implantação do Move, esses moradores passaram a pegar uma linha de ônibus do bairro com direção à estação, para, de lá, seguirem viagem para a região Central.
A maior oferta de destinos das linhas na estação — da São Gabriel, por exemplo, é possível ir para a Floresta, para a Savassi ou para a UFMG — e a integração tarifária são pontos positivos citados pelos usuários.
Entretanto, os grandes intervalos entre as viagens das linhas alimentadoras (que vão para o bairro) são o principal ponto negativo. Usuários relatam que chegam a aguardar mais de meia hora por um ônibus com destino para casa nas estações.
Atualmente, há a oferta de cerca de 30 linhas alimentadoras da Estação São Gabriel para os bairros das regiões Norte, Nordeste e Pampulha.
Rodrigo Salgado/g1
Dividindo opiniões
O g1 esteve na Estação São Gabriel e perguntou para os usuários a opinião deles sobre a mudança do antigo sistema, de ônibus direto dos bairros para o Centro, para o Move, passada uma década.
Naiara Rayane, fisioterapeuta, moradora do Paulo VI
“Achei que piorou. O deslocamento ficou maior. O fluxo de ônibus no bairro até ficou melhor ultimamente, mas isso de sair de um ônibus e esperar outro aumentou muito o tempo de espera”, disse a fisioterapeuta Naiara Rayane, moradora do bairro Paulo VI.
Elaine de Fátima, artesã, moradora do São Tomaz
“Melhorou bastante, porque está tendo mais opção. Apesar de a gente ficar aqui esperando 30 minutos [o outro ônibus que vai para o bairro], melhorou bastante. Passou um agora há pouco e agora só daqui a meia hora”, opinou a artesã Elaine de Fátima, moradora do bairro São Tomaz.
Ederley Corrêa, zelador, morador do Vista do Sol
“Melhorou em partes. Os ônibus [que vão para o bairro] atrasam bastante, não passam no horário que está no painel. Mas melhorou porque você tem mais acessos a outros lugares, antes era uma opção só [de rota]”, relatou o zelador Ederley Corrêa, morador do Vista do Sol.
Rosângela Dutra, autônoma, moradora do Belmonte
“Por um lado melhorou, porque dá para deslocar para diferentes pontos. Por outro, piorou, porque a gente pegava um ônibus direto para o Centro, sem interrupção nem nada. O problema é o tempo de espera [da linha para o bairro], que demora 30 minutos”, lembrou a autônoma Rosângela Dutra, moradora do Belmonte.
A má condição dos ônibus tipo BRT, que saem da estação para o Centro, também é motivo de reclamação dos usuários. O Move passou quase dez anos sem renovação de frota.
Ônibus da linha 85 com a porta danificada na Estação São Gabriel
Projetos inacabados
O projeto inicial do Move previa interligar outras regiões da cidade pelos seguintes corredores:
Amazonas/Via do Minério/Tereza Cristina
Carlos Luz/Pedro II
Previa, também, a criação da Estação São José, nos moldes da Pampulha e da São Gabriel, que ficaria localizada na Avenida Tancredo Neves. Hoje, um ponto de ônibus reúne algumas das linhas que atenderiam o terminal.
Nenhum desses projetos saiu do papel.
Em nota, a Prefeitura informou que “a licitação para os estudos e projetos do BRT Amazonas, através de financiamento com o Banco Mundial, está em andamento, na fase de negociação das condições de contrato com o consórcio vencedor da concorrência”.
O Executivo não respondeu com relação ao corredor Carlos Luz/Pedro II. Desde a época da inauguração do Move, faixas exclusivas para ônibus compõem essas avenidas.
Com relação à estação São José, a Prefeitura afirmou que, na época do projeto, não houve recursos para fazer a obra. O município disse que, em 2019, começou novos estudos e está trabalhando na regularização fundiária de parte do terreno.
Linha do tempo – implantação do Move
O que saiu do papel
O sistema Move começou a operar em 8 de março de 2014, às vésperas da Copa do Mundo, partindo da Estação São Gabriel com destino à Área Central da capital por meio do corredor da Avenida Cristiano Machado.
Inicialmente, apenas três linhas operavam na estação; no mês seguinte, outras duas foram implantadas.
No Centro de BH, foram inauguradas as pistas exclusivas e as estações das avenidas Santos Dumont e Paraná.
Em maio, foi inaugurada a Estação Pampulha, operando inicialmente com três linhas, que ligavam a região até a Área Central, por meio da Avenida Antônio Carlos.
Novas linhas foram implantadas ao longo do tempo e, em agosto, depois da Copa do Mundo, as estações Venda Nova e Vilarinho também passaram a compor o sistema. A Avenida Pedro I também foi incluída no sistema da Antônio Carlos.
O futuro do Move
Para Rodolfo Gurgel, especialista em mobilidade, os corredores das avenidas Antônio Carlos e Cristiano Machado cumpriram seus papéis nesta primeira fase do projeto.
“O Move hoje significa um sistema que rompeu gigantescas barreiras em Belo Horizonte. A dizer do espaço territorial, que foi uma desobstrução de grandes corredores viários”, analisou Gurgel.
Na visão dele, houve mais pontos positivos que negativos nessa primeira década de operações.
“A extensão do projeto, entretanto, ainda é insuficiente. A primeira fase cumpriu o papel, mas o projeto precisa expandir, precisa ir para outras áreas de Belo Horizonte para atender a esses outros públicos também”, concluiu o especialista.
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