17 de janeiro de 2025

Movimento Ocupe Estelita celebra 10 anos de ocupação do cais com ‘inauguração simbólica’ de parque público

Em 2014, ativistas ocuparam terreno para impedir construção de prédios. Área pública do projeto vai dobrar de tamanho após acordo judicial entre prefeitura, União e construtoras. Ativista Cris Gouvêa fala sobre ‘inauguração simbólica’ de parque no Cais José Estelita
O movimento Ocupe Estelita realizou, neste domingo (16), uma “inauguração simbólica” da área destinada ao uso público no terreno do Projeto Novo Recife, no Cais José Estelita, no Centro da cidade (veja vídeo acima). O espaço vai dobrar de tamanho após acordo judicial entre a prefeitura, a União e o consórcio de construtoras responsável pelas obras.
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O evento marca os 10 anos da ocupação do terreno, realizada para impedir o início das obras em 2014.
O Projeto Novo Recife, que prevê a construção de 13 prédios de até 38 andares em frente à Bacia do Pina, provocou uma série de manifestações, envolvendo ativistas, artistas e entidades da sociedade civil.
A mobilização culminou no movimento Ocupe Estelita, em que dezenas de pessoas se revezavam e “acampavam” no terreno para impedir a derrubada dos antigos armazéns do Cais José Estelita e a construção dos arranha-céus.
A pressão social fez com que o projeto sofresse alterações, incluindo ações mitigadoras para compensar os possíveis danos causados pelo empreendimento. Uma delas foi a criação do parque público.
A ocupação do Cais José Estelita começou em 21 de maio de 2014 e durou pouco menos de um mês, sendo encerrada no dia 17 de junho com a retirada dos manifestantes por determinação da Justiça.
Cais José Estelita: confira linha do tempo das polêmicas envolvendo o Projeto Novo Recife
A área pública destinada ao projeto será chamada de “Parque da Resistência Leonardo Cisneiros”, em homenagem ao professor universitário e ativista que foi um grande militante do Ocupe Estelita. Ele morreu em abril de 2021, aos 44 anos.
A proposta do nome, aprovada duas vezes pela Câmara Municipal, chegou a ser vetada pelo prefeito João Campos (PSB) em 2022, mas, após uma segunda tramitação, foi sancionada no mês passado.
“O parque foi uma conquista nossa. Não existia no projeto original, e a gente conquistou também o nome dele, reconhecendo a luta e a vitória do movimento e representando Léo, que foi um grande companheiro nosso. E também para continuar reivindicando que esse espaço pode ser para toda a cidade, um espaço popular, e não um playground de luxo para as torres”, afirmou a advogada popular Luana Varejão, integrante do Ocupe Estelita.
As atividades em celebração aos 10 anos do Ocupe Estelita incluíram apresentações culturais e uma oficina de urbanismo em frente ao terreno, onde já há três edifícios construídos.
Segundo a prefeitura, o parque público terá cerca de 100 mil metros quadrados, o dobro do que era previsto anteriormente.
Além do espaço de lazer, o projeto inclui a demolição do Viaduto das Cinco Pontas, a expansão da Avenida Dantas Barreto até o Cais e a restauração de equipamentos históricos do antigo Pátio Ferroviário.
“A gente demanda que esse parque seja, de fato, popular, que não seja um jardim de condomínio. Eles têm a área privada, já é muito. Isso aqui é para ser uma área que tenha a cara e a voz das pessoas que moram em Brasília Teimosa, no Coque, nos Coelhos, que frequentam o bairro de São José”, disse a arquiteta Cris Gouvêa, que também participa do movimento.
Para a ativista, a ação é uma forma não de celebrar as conquistas, mas também de defendê-las.
“O que a gente fez foi criar uma espécie de fenda em relação à maneira muito naturalizada de fazer a cidade, em que construtoras têm acesso direto aos poderes públicos, onde as decisões sobre o destino da cidade são tomadas. E a gente conseguiu mostrar que não era natural o processo dessa maneira, que o natural seria a população ser consultada e poder participar dessas decisões”, declarou Cris Gouvêa.
Movimento Ocupe Estelita fez inauguração simbólica de parque público no Centro do Recife
Artur Ferraz/g1
Acordo com a União
O acordo recente que prevê o dobro de área pública para o parque público foi firmado no dia 4 de junho deste ano, em Brasília.
Com ele, o Projeto Novo Recife passa a incorporar a área do antigo Pátio Ferroviário das Cinco Pontas, que será integrada ao parque linear a ser construído às margens da Bacia do Pina.
O novo espaço, disputado na Justiça desde 2022, pertencia à Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (Refesa), empresa pública extinta em 2007. Como contrapartida, o Consórcio Novo Recife, formado pelas construtoras Moura Dubeux, Queiroz Galvão e GL, deve:
Investir R$ 21 milhões na recuperação de equipamentos federais históricos do antigo Pátio Ferroviário, como o areeiro, a oficina de locomotivas, a caixa d’água e o tanque de combustível;
Indenizar a União em R$ 900 mil pelos trechos incorporados ao projeto.
De acordo com a prefeitura do Recife, todas as intervenções serão custeadas pelo consórcio privado, totalizando cerca de R$ 120 milhões em ações mitigadoras. Porém, é a gestão municipal que vai definir como essas áreas de uso público serão integradas. Os detalhes das mudanças não foram divulgados.
Segundo a arquiteta Cris Gouvêa, o movimento teme que o parque avance em direção à comunidade do Coque e que moradores sejam desapropriados para viabilizar a construção.
“Se você se aprofundar no sentido do Coque, tem uma ocupação gigantesca da Vila Sul. Se ele [o prefeito João Campos] aumentou essa área, está dizendo que vai desapropriar as pessoas, que vai acontecer despejo em cima de uma vitória que a gente conquistou?”, questionou a ativista.
O g1 entrou em contato com a prefeitura do Recife para perguntar quais serão as áreas destinadas ao parque público e se há possibilidade de desapropriações no local, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve resposta.
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