20 de novembro de 2024

MP denuncia suplente de deputada estadual e marido por rachadinha no RS; casal teria extorquido assessor, aponta investigação


Ministério indica crimes de concussão e denunciação caluniosa. Assessor alega que era obrigado a repassar parte do salário para Bárbara Penna e o marido. Em 2013, suspeita foi vítima de uma tentativa de homicídio e perdeu os dois filhos em um incêndio. Bárbara Penna e Robson Medeiros da Silva foram indiciados pela Polícia Civil por suposto esquema de rachadinha
Reprodução/ Redes Sociais
O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) denunciou, na última segunda-feira (18), a suplente de deputada estadual Bárbara Penna (Podemos) e o marido, Robson Medeiros da Silva, por supostamente extorquirem um então assessor de bancada na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em prática conhecida como rachadinha.
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João Cláudio Almeida da Silva, de 59 anos, teria perdido o cargo de assessor após denunciar o esquema. Ele teria sido indicado à vaga por Bárbara e registrou ocorrência policial alegando que era obrigado a repassar parte do salário ao casal.
Os crimes apontados pelo MPRS são de concussão (quando o servidor público exige uma vantagem indevida) e denunciação caluniosa.
A reportagem entrou em contato com Bárbara e Robson, mas não obteve retorno de ambas as partes até a atualização mais recente desta matéria.
“Houve o entendimento de que existem indícios no inquérito policial aptos a embasar o oferecimento de denúncia pelos delitos de concussão e de denunciação caluniosa. Em relação à falsidade documental, que houve indiciamento pela polícia, não se configurava em crime autônomo e pedi o arquivamento”, afirma a promotora Lisandra Demari.
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Além de ser eleita suplente de deputada estadual em 2022, quando ainda pertencia ao União Brasil, Bárbara Penna concorreu a uma vaga na Câmara Municipal de Porto Alegre, tornando-se suplente pelo Podemos com 3.057 votos. Segundo sua prestação de contas, arrecadou na campanha R$ 276 mil, dos quais R$ 81 mil foram destinados ao marido, Robson, para a “criação e produto de conteúdo audiovisual”.
Bárbara Penna ficou conhecida após ser vítima de tentativa de homicídio pelo ex-namorado, condenado por colocar fogo no apartamento dela em novembro de 2013. O incêndio deixou três mortos: dois filhos de Bárbara e um vizinho (veja mais sobre o caso abaixo).
Denúncia de rachadinha
João Cláudio Almeida da Silva alega ser vítima de suposto esquema de rachadinha
Reprodução/ RBS TV
O ex-assessor João Cláudio relatou ao g1 que conseguiu o emprego graças a Robson, de quem foi colega de trabalho em uma emissora de TV. João Cláudio foi efetivado no dia 17 de abril de 2024.
“Como eu trabalhei somente 15 dias no primeiro mês, não dei nada. Daí, no segundo mês [maio], ele foi na minha casa e começou a me apertar”, relata o ex-servidor.
O assessor disse à polícia que teria que devolver quase a metade do salário que ganhava no cargo.
“Ele [Robson] me chamou no WhatsApp dizendo que ia me colocar na Assembleia Legislativa, que eu ia ganhar R$ 6,1 mil e teria que devolver R$ 3 mil pra eles”, alega João Cláudio.
Na ocorrência, João Cláudio diz que, no dia 31 de maio deste ano, fez uma transferência de R$ 2,5 mil ao marido da suplente.
“Fiz via PIX, mas ele queria em espécie. Falei não, não tem como, o banco não está liberando dinheiro para ninguém por causa da enchente. Daí ele aceitou”, relata a vítima.
Procurado pela reportagem, o líder da bancada do Podemos na Assembleia Legislativa, deputado Prof. Claudio Branchieri, disse não ser o responsável pelas indicações de cargos e se declarou “indignado” com a denúncia. Ele informou que, dentro da bancada, o ex-assessor era cargo da liderança do partido. Por sua vez, o líder do partido na Assembleia, deputado Airton Lima, admitiu que Jorge foi exonerado a pedido da suplente e que não sabia o motivo da demissão.
Em nota, o presidente do Podemos no RS, Everton Braz, afirmou que a denúncia registrada na Polícia Civil nuca havia sido comunicada ao partido e que a sigla “condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade” (leia a íntegra do comunicado abaixo).
Polícia Civil indicia casal por suspeita de rachadinha na Assembleia Legislativa do RS
Queimada por ex-namorado
Em 2013, na época com 19 anos, Bárbara teve 40% do corpo queimado
Rafaella Fraga/G1
Bárbara Penna foi alvo de uma tentativa de homicídio em novembro de 2013. Ela teve o corpo queimado por João Guatimozin Moojen Neto, que ateou fogo na casa após despejar álcool no corpo dela e no chão da residência.
Ao correr para pedir socorro pela janela, Bárbara despencou do terceiro andar do prédio. O fogo se espalhou pelo apartamento e a fumaça intoxicou e matou os filhos do ex-casal, Isadora, de dois anos, e João Henrique, de apenas três meses, que dormiam no quarto. Um vizinho que tentou salvar as crianças também morreu.
Neto foi condenado a 28 anos e quatro meses de prisão em regime fechado em setembro de 2019, por Tribunal de Júri em Porto Alegre.
No ano passado, o jornal O Globo revelou que a atriz Juliana Paes deve protagonizar um filme sobre a vida de Bárbara Penna.
Réu do caso Bárbara Penna é condenado a 28 anos e quatro meses 
Nota do Podemos-RS:
“A denúncia registrada na Polícia Civil nunca foi comunicada ao diretório estadual do partido. O Podemos sempre preservou sua reputação e condena veementemente qualquer prática que desrespeite os princípios de honestidade e legalidade. O partido apoia integralmente a investigação pelas autoridades competentes e se compromete a colaborar de forma ativa e transparente em todos os esclarecimentos necessários.
A exoneração do antigo assessor não teve relação com o assunto em questão. Havia um acordo com a então candidata Bárbara Penna para que ele permanecesse no cargo até agosto, após ele se dedicaria integralmente à campanha de Bárbara para vereadora
Reforçamos: nenhuma decisão de exoneração foi tomada com base em qualquer outra acusação ou situação similar. O partido tomou conhecimento do assunto apenas após a exoneração do assessor; não houve qualquer relato sobre o tema enquanto ele atuou no cargo.”
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