Promotoria aguarda conclusão de inquérito para denunciar suspeitos. Sarah Domingues foi assassinada enquanto fazia uma pesquisa para o trabalho de conclusão de curso em janeiro. Sarah Silva Domingues fazia TCC na região da Ilha das Flores
Arquivo Pessoal
O Ministério Público (MP) do Rio Grande do Sul ouviu, nesta segunda-feira (1º), a mãe e o namorado da estudante Sarah Domingues, morta por engano em janeiro enquanto realizava uma pesquisa do trabalho de conclusão de curso em Porto Alegre. Na última sexta (28), a jovem foi homenageada na cerimônia de formatura, recebendo o grau póstumo de arquiteta e urbanista pela UFRGS.
A família de Sarah, natural de Campo Limpo Paulista (SP), passou o final de semana em Porto Alegre, onde acompanhou a formatura e as homenagens à estudante. Segundo o MP, a promotora Lúcia Helena Callegari, que atuou no júri do Caso Kiss, conversou com os familiares de Sarah.
Em nota enviada ao g1, o MP afirma que “aguarda pelo indiciamento da Polícia Civil, sobre o caso Sarah Domingues, para analisar criminalmente o fato” e oferecer a denúncia contra os suspeitos. A promotoria ainda diz que está “acompanhando as investigações e acolhendo familiares da vítima”.
“O MPRS também tem requisitado que haja agilidade na conclusão da apuração policial”, diz a nota.
‘Arrancaram um direito da minha filha’, diz mãe de Sarah
O g1 também procurou os investigadores do caso na Polícia Civil, mas não obteve retorno até a atualização mais recente desta reportagem.
Sarah Domingues era ativista e reconhecida como liderança estudantil
Arquivo Pessoal
Sarah foi morta no dia 23 de janeiro de 2024, em frente a um mercado na região da Ilha das Flores, enquanto fazia uma pesquisa acadêmica.
Moradores relataram à polícia que dois homens em uma motocicleta chegaram ao local, desceram do veículo e atiraram contra a estudante e o dono do estabelecimento, que também morreu. Segundo a polícia, o alvo dos criminosos seria o comerciante, que estaria incomodado com o tráfico de drogas na região.
No dia 6 de fevereiro, a Polícia Civil prendeu temporariamente cinco pessoas suspeitas de envolvimento no assassinato da jovem de 28 anos. Os presos seriam o mandante do assassinato, dois executores e outras duas pessoas que teriam envolvimento com o crime. Eles foram alvo de mandados judiciais cumpridos em diferentes endereços de Porto Alegre e Região Metropolitana.
Já na noite de 21 de fevereiro, a Polícia Civil prendeu preventivamente o traficante Maicon Donizete Pires dos Santos, conhecido como “Red Nose”, que teria cedido os homens que participado do ataque. Ele estava foragido e foi capturado em Garopaba, Santa Catarina. Na época, a Polícia Civil afirmou que o ataque teria sido executado por um grupo criminoso, da Zona Norte da capital, com o qual Maicon teria envolvimento.
“É uma pessoa inocente que morreu devido a essa violência. Esse grupo criminoso faz parte do criminoso que foi preso em Garopaba. Então, a morte da estudante da UFRGS, existem indícios fortes, de que está ligada a esse grupo criminoso da Zona Norte, que resultou em várias outras mortes durante o ano de 2023”, disse, na época, o delegado Mário Souza.
A Polícia Civil cedeu, à reportagem da RBS TV, imagens que mostram a conduta dos criminosos. No vídeo, é possível ver que os criminosos descem de um carro branco no meio da rua, à luz do dia, e se revezam atirando. Um homem é atingido várias vezes e morre. Um dos envolvidos nos atos de violência, segundo a polícia, foi preso dentro de um shopping de Porto Alegre.
O conflito entre os criminosos de diferentes grupos foi registrado pela polícia. Nas imagens, um homem efetua diversos disparos, sendo possível ver cartuchos de balas caindo.A Brigada Militar e a Polícia Civil, em operação realizada no ano passado, prenderam 28 pessoas e 25 armas.
Polícia investiga grupos criminosos que estariam envolvidas em morte de estudante
Homenagem em formatura
Marta da Silva Domingues, mãe de Sarah, definiu como “uma homenagem bonita, mas dolorosa” a entrega do diploma da filha. A servidora pública de 53 anos recebeu o canudo em nome da jovem.
“É difícil. É um misto de sentimentos, pois foi uma homenagem bonita, mas dolorosa. Todos estavam felizes e fiquei o tempo todo imaginando como seria, mas ela não estava lá. Arrancaram um direito da minha filha. Ela esperou muito por esse dia, queria muito essa formatura”, relata a mãe.
Durante a cerimônia, o nome de Sarah foi recebido sob aplausos da plateia e dos formandos, que se levantaram para a homenagem.
Estudante da UFRGS morta a tiros em Porto Alegre é homenageada em formatura
Além da mãe, a irmã de Sarah, a estudante Eloá da Silva Farias, de 17 anos, também viajou para participar da homenagem de formatura. Percorreram mais de 1,1 mil km de carro em 16h horas de viagem, chegando em Porto Alegre na quinta (27).
Durante o trajeto e na chegada, a lembrança de Sarah era constante. A jovem deixou Campo Limpo Paulista, a 60 km da capital, São Paulo, em busca de conhecimento, de cursar uma faculdade e concluir o ensino superior.
“A cada vinda, fazíamos passeios juntas, passeávamos pelo Centro Histórico, conhecíamos vários locais. Ela veio para Porto Alegre para uma vida melhor, para realizar um sonho. Passou por dificuldades financeiras, estava longe de casa. Era uma aluna cotista e lutou pela permanência na universidade. É muito difícil voltar. Porto Alegre era ela”, lembra a mãe da estudante.
Sarah Domingues, assassinada em Porto Alegre, estudava o curso de Arquitetura e Urbanismo, na UFRGS
Everaldo Oliveira/ Jornal A Verdade
Projeto sobre enchentes nas ilhas
A família de Sarah deve ficar no Rio Grande do Sul até a próxima segunda (1º). Além da formatura, a mãe também foi até a Ilha das Flores, região onde a jovem foi morta. No local, as marcas da última enchente também lembraram a dedicação da estudante na luta pela moradia digna.
O trabalho de conclusão de curso desenvolvido pela estudante foi sobre um tema que se revelou urgente meses após a morte: a necessidade de um projeto urbanístico para combater as frequentes enchentes que atingem a região das ilhas. Após os temporais de abril e maio, o bairro Arquipélago teve 6,4 mil moradores afetados.
“Ela queria fazer uma denúncia com o trabalho que ela estava concluindo. Fui até lá e entendi. É uma região com infraestrutura precária, onde as pessoas seguem morando no meio da água. Conheci a família do seu Valdir, que também foi morto por querer proteger os moradores. Por tudo isso, espero que a luta e dedicação da Sarah não sejam esquecidas e sirvam de inspiração porque a história dela merece ser contada”, diz Marta.
Sarah foi coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE) e integrou o Conselho Universitário da UFRGS. Após a morte da estudante, o Diretório Acadêmico da Faculdade de Arquitetura (DAFA) da universidade foi renomeado para “DAFA Sarah Domingues – UFRGS”.
Área inundada na Região das Ilhas, em Porto Alegre
Reprodução/RBS TV
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