29 de setembro de 2024

Mulher é denunciada por fazer ‘blackface’ em festa a fantasia no interior de SP: ‘Não é brincadeira’

Denúncia foi feita por moradora de Bauru (SP), que recebeu a postagem feita no perfil da suspeita do ato racista nas redes sociais. Além do registro de boletim de ocorrência, a denunciante também procurou a OAB e o Conselho Municipal da Comunidade Negra. Suspeita fez ‘blackface’ para festa a fantasia em Bauru
Reprodução/Instagram
Uma mulher foi denunciada por racismo após fazer uma postagem nas redes sociais na qual aparece com o rosto pintado de preto, uma prática conhecida como ‘blackface’, para uma festa a fantasia. O caso aconteceu no dia 1º de setembro, em Bauru, no interior de SP.
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A foto foi publicada no Instagram e denunciada, antes de ser apagada, por uma ex-presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra.
Em entrevista ao g1, ela relatou que recebeu a postagem de pessoas conhecidas, também indignadas com a situação, e que chegou a fazer um comentário dizendo que se tratava de um ato racista e criminoso na publicação, antes de ela ser apagada.
Na imagem, a mulher força os lábios para a frente com batom vermelho, simulando a boca de uma mulher negra, e utiliza uma peruca de cabelo cacheado na cor preta, um colar de miçangas, uma blusa preta e a tinta preta no rosto e no colo.
A denunciante relata que ficou extremamente ofendida com a postagem e registou um boletim de ocorrência na delegacia.
“Eu ando desse jeito, eu uso muito colar de miçanga, eu passo batom vermelho, o meu cabelo é crespo como este, por isso que eu fiquei muito ofendida. A gente sempre ouve essas justificativas: ‘ah, mas você tem autoestima baixa?’. ‘Ah, mas é uma brincadeira!’. Não, para mim isso não é brincadeira”, reforça.
Ela relata ainda que esse tipo de postagem afeta diversas questões sociais de identidade e explica que esse tipo de comportamento não se relaciona com a falta de educação, mas, sim, quando o indivíduo constrói uma ideia de ‘perfil’ e superioridade.
“É quando a pessoa carrega essa ideia de que ela é superior, que existe perfil para ser preso, para ser desqualificado, para ficar sem emprego. A gente vai criando toda essa identidade de defesa, de luta, de combate, com auxílio dos nossos pais. Isso vai desde representação no mercado de trabalho, nas novelas, televisão, brinquedo, livro. Envolve muita coisa para uma criança preta. Os pais investem para desconstruir e construir algo positivo.”
A ex-presidente do conselho relata que não recebeu apoio ao expor o caso e reforça que esse tipo de situação não pode ser normalizada: “Bauru é uma cidade totalmente conservadora, totalmente racista, porque eu fiz uma denúncia extremamente grave e ninguém ligou”, conta.
Além do boletim de ocorrência, o caso também foi denunciado para o Conselho Municipal da Comunidade Negra e para a Comissão de Igualdade Racial da OAB do município.
O g1 entrou em contato com a responsável pela postagem, mas não conseguiu retorno até a publicação desta reportagem.
Entenda o que é ‘blackface’
O nome vem do inglês: black é “negro” e face “rosto”. A prática consiste na pintura da pele com tinta escura. Estipula-se que tenha começado por volta de 1830, nos Estados Unidos, em meio ao período de transição entre a escravidão e a abolição da escravatura.
Ao contrário do que a normalização da prática deu a entender por muitos anos, o “blackface” não se trata apenas de pintar a pele de cor diferente.
Para Juarez, professor da Unesp Bauru e vice-diretor da Faculdade de Artes, Arquitetura, Comunicação e Design (FAAC), a origem da prática está diretamente atrelada à ridicularizarão de pessoas negras e tinha como finalidade a privação ao negro no exercício da cidadania.
Professor em Bauru, Juarez Xavier integra a Comissão Permanente para Assuntos Étnicos e Raciais da Unesp
Reprodução/TV TEM
Em entrevista ao g1 em 2022, o professor, que, inclusive, foi vítima de racismo no Dia da Consciência Negra, explicou que a prática se popularizou no Brasil especialmente durante o carnaval, quando pessoas brancas se fantasiam de “nega maluca” ou de “índio”, usando o argumento de que estão fazendo uma homenagem. No entanto, ela é considerada desrespeitosa para essas culturas.
Juarez também pontua que, no cerne do problema, seja nos Estados Unidos, na Europa ou no Brasil, há a construção de mecanismos para justificar o racismo, sendo o “blackface” mais uma artimanha que busca atuar na representação do que seria a população negra.
*Colaborou sob supervisão de Mariana Bonora
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