13 de outubro de 2024

Mulher que deu golpe milionário para receber pensão do Exército diz que não vai se pronunciar sobre o caso

Ana Lucia Umbelina Galache de Souza utilizou documentos fraudados para se passar por filha de ex-combatente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) e recebeu mais de R$3,7 milhões durante três décadas. Ana Lucia Umbelina Galache de Souza é sobrinha-neta do ex-militar falecido em 1988.
Reprodução/Redes sociais
Entre 1988 e 2022, Ana Lucia Umbelina Galache de Souza, de 55 anos, fraudou documentos para se passar por filha de um tio-avô, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, e recebeu um montante de R$ 3,7 milhões do Exército ao longo de 33 anos. Em fevereiro de 2023, ela foi condenada pela Justiça Militar em Mato Grosso do Sul e terá de devolver o valor. A pena também prevê três meses de prisão.
Neste sábado (12), Ana Lucia disse ao g1 MS que não vai se pronunciar sobre o caso. “Cada reportagem diz uma coisa”, comentou a mulher que insistiu em não falar sobre a acusação.
O caso está em julgamento na Justiça Militar e a Defensoria Pública da União (DPU), responsável pela defesa da mulher, informou que recorreu da condenação, pedindo absolvição de Ana Lucia e requerendo que ela permaneça em liberdade durante o julgamento do recurso.
Segundo a ação penal militar, Ana Lucia Umbelina Galache de Souza fraudou a documentação e passou a se apresentar como Ana Lucia Zarate, para obter direito à pensão de Vicente Zarate, seu tio-avô, falecido em 1988.
A fraude começou quando Ana Lucia tinha 15 anos de idade e foi registrada em um cartório de Campo Grande como filha de Vicente Zarate. Com o novo registro, ela conseguiu obter novo número de Cadastro de Pessoa Física (CPF) e Carteira de Identidade onde constava o novo sobrenome.
A documentação permitiu que Ana Lucia requeresse habilitação como pensionista de Vicente Zarate na Seção do Serviço de Inativos e Pensionistas (SSIP 9) do Exército brasileiro. O pedido foi deferido e ela passou a receber, em 1988, a pensão integral como filha de Segundo Sargento.
Participação da avó
Conforme a ação penal, Ana Lucia confessou no interrogatório que a fraude foi cometida com ajuda da avó-paterna, Conceição Galache, que teria obtido documentos fraudulentos para registrar a mulher como filha de Vicente Zarate.
Ana Lucia admitiu à Justiça Militar que o caso só veio à tona após a avó exigir que lhe fossem repassados R$8 mil do benefício, sob pena de denunciá-la. Conceição faleceu em maio de 2022 e não chegou a ser ouvida nas investigações.
Quem é Ana Lucia?
A falsa identidade de Ana Lucia foi registrada em um cartório de Campo Grande em 1986 e, conforme a ação penal, ela foi apresentada como filha de Vicente Zarate e Natila Ruiz, tendo supostamente nascido em 6 de junho de 1970.
Documentação a que o g1 MS teve acesso aponta que Ana Lucia Umbelina Galache de Souza nasceu em Três Lagoas (MS), em 7 de junho de 1969 e foi registrada como filha de Silvestre Galache e Neuza Umbelina Galache.
No depoimento à justiça militar, a mulher disse que utilizava o segundo nome, Ana Lucia Zarate, apenas para recebimento da pensão.
Sentença
Ana Lucia foi acusada pela Justiça Militar de cometer crime de estelionato por ter se passado por falsa dependente do ex-combatente do Exército e obter vantagens.
O Tribunal de Contas da União (TCU) condenou a mulher a pagar R$3 milhões e, no último dia 2, aplicou multa de R$1 milhão que deverá ser paga no prazo de 15 dias.
Ana Lucia, conforme a decisão do TCU, está suspensa por oito anos de exercer cargo comissionado ou de confiança na Administração Pública.
DPU
A Defensoria Pública da União (DPU), responsável pela defesa de Ana Lúcia Umbelina Galache de Souza, informou ao g1, nesta sexta-feira (11), que acompanha o caso desde setembro de 2022, e que aguarda análise, pelo Superior Tribunal Militar (STM), de um recurso contra a condenação.
“A DPU apresentou recurso de apelação em que alega ausência de dolo e falta de provas para a condenação. O ministro relator Odilson Sampaio Benzi negou provimento ao recurso de apelação, do qual pediu vista o ministro Artur Vidigal”.
No recurso à sentença da Justiça Militar, a DPU alegou ainda que Ana Lucia “não integra organização criminosa e não se dedica a prática de crimes”, argumentando que a pena deve ser proporcional – e pedindo que ela continue em liberdade durante a análise do recurso.
Exército brasileiro
O g1 procurou o Exército brasileiro para comentar o caso. A instituição disse que não se manifesta sobre decisões judiciais. “Esse é o procedimento que tem pautado a relação de respeito do Exército Brasileiro com as demais Instituições da República”, pontou.
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