Ação do MP-AC busca ajudar mulheres a identificarem sinais de agressões por parte dos parceiros. Além de palestra com roda de conversa, mulheres abrigadas tiveram acesso a serviços de beleza e crianças tiveram atividades recreativas. A dona de casa Jaqueline Rocha está há seis dias em abrigo e diz que o livro de Maria da Penha para se conscientizar sobre violência de gênero
Melícia Moura/Rede Amazônica Acre
A dona de casa Jaqueline Rocha é uma das mais de 3,5 mil pessoas que estão abrigadas no Parque de Exposições Wildy Viana, em Rio Branco, por conta da enchente do Rio Acre. Ela, que é moradora do bairro Aeroporto Velho, está no local há seis dias e conta que as águas não estão mais dentro de sua casa, mas precisa aguardar a autorização da Defesa Civil Municipal para retornar.
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O nível do Rio Acre na capital acreana continua diminuindo. Às 15h desta sexta-feira (8) o rio apresentou a metragem de 16,82 metros, com diminuição de 13 centímetros em comparação à medição anterior (16,95), segundo a Defesa Civil de Rio Branco.
Com isso, o manancial ficou abaixo dos 17 metros após mais de uma semana. A maior cota do ano havia sido alcançada na última quarta-feira, 17,89 metros. Essa já é a segunda maior cheia da história, desde que a medição começou a ser feita, em 1971. A maior cota histórica já registrada é de 18,40 metros em 2015.
Foi pensando em Jaqueline e diversas outras mulheres que o Ministério Público do Acre (MP-AC) lançou uma programação especial para marcar o 8 de março. A programação “Dia D para Elas” vai levar atendimento médico, kits de higiene pessoal e palestra sobre relacionamentos abusivos a mulheres no abrigo.
Para Jaqueline, a ação é importante para alertar sobre a violência contra mulheres. Ela diz que já costuma ler sobre o assunto, e que o livro de Maria da Penha a ajudou a se conscientizar.
“De vez em quando eu leio o livro da Maria da Penha, que é muito bonito. Eu acho muito importante para as mulheres, porque tem muitas que têm medo [de denunciar]. Por isso, eu acho importante. Eu desejo para todas as mulheres do Brasil: feliz dia das mulheres”, disse.
Ação levou atendimento médico, kits de higiene e orientação a mulheres que estão em abrigo
Melícia Moura/Rede Amazônica Acre
Cidadania em meio à emergência
De acordo com a promotora Patrícia Rêgo, coordenadora-geral do Centro de Atendimento à Vítima (CAV), o objetivo é exatamente este. Ao Jornal do Acre 1ª Edição, ela ressaltou que, anualmente, o MP-AC aposta em atividades para marcar a data. Em 2024, em meio à emergência por conta das enchentes, a ideia foi levar cidadania às mulheres que tiveram que deixar suas casas e se abrigar no parque.
A ação busca ajudar mulheres a identificarem sinais de agressões por parte dos parceiros. Além da palestra com roda de conversa, as mulheres abrigadas tiveram acesso a serviços de beleza e crianças tiveram atividades recreativas.
“Nós estamos em pleno século 21 e nós mulheres ainda lutamos pelas nossas vidas. O Acre, infelizmente, ainda ostenta uma posição muito complicada nesse ranking de violência, violência sexual, violência física, violência doméstica, feminicídio e ontem saiu a estatística de feminicídio e nós voltamos para o segundo lugar do pódio. Então, as mulheres ainda precisam buscar a igualdade salarial, igualdade de espaços políticos e dignidade. E o exemplo é isso aqui, essas mulheres que estão aqui hoje lutam por melhores escolas, por seus filhos, por moradia, por pão, todos os dias. Então, é com essas mulheres hoje que nós estamos fazendo essa roda de conversa, discutindo direitos e uma vida livre de violência”, afirmou.
Expectativa de mudança
Patrícia Rêgo também destacou que representantes da Delegacia da Mulher, secretaria de Saúde, e outros parceiros apoiaram a ação, com o objetivo de ampliar a rede de apoio de atendimento público para que as mulheres vivam livres de violência.
Para isso, também é essencial auxiliar no acesso à informação.
“Nós falamos sobre violência, nós falamos sobre os sinais que são dados antes dessa violência de relacionamento abusivo, para que elas possam se identificar e buscar ajuda, para que elas saibam que existe um caminho para viver uma vida livre de violência. Foi um momento muito importante, porque muitas mulheres falaram. Nós hoje podemos dar voz a essas mulheres e essas mulheres falaram, essas mulheres se emocionaram e essas mulheres se empoderaram também. Então, foi um momento de esperança numa situação de muita tristeza”, acrescentou.
Gesinilda Pereira deseja que o 8 de Março seja significado de mais Justiça para mulheres vítimas de violência
Melícia Moura/Rede Amazônica Acre
Também dona de casa, Gesinilda Pereira concorda com a importância da ação. Há quase duas semanas no abrigo, a moradora do bairro Ayrton Senna ressaltou que a ação dedicada às mulheres é também uma chance de descontração em meio aos prejuízos com a cheia.
Ela conta que fez corte de cabelo e sobrancelhas, coisas que, geralmente, não tem a oportunidade de receber. Gesinilda destacou ainda que além das perdas por conta da enchente, também teve problemas de saúde, e a ação permitiu compartilhar sua situação.
“Desde o dia que eu cheguei, que eu estou passando mal, estou com pneumonia, perdi minhas coisas, entendeu? A minha casa ainda está debaixo d’água, e eu moro de aluguel. Fiz o corte de cabelo, estou fazendo a sobrancelha. Uma coisa que eu não posso fazer”.
Por fim, a dona de casa desejou que a data também seja significado de Justiça e de maior discussão sobre a violência de gênero.
“Que Deus venha a abençoar todas as mulheres. Que venha a dar tudo certo. Hoje é o dia da gente. E que venha mudar as coisas, muitas coisas, pela Justiça, [coisas] que estão acontecendo com outras mulheres”, finalizou.
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