19 de setembro de 2024

Mulheres dedicam quase o dobro de horas com tarefas da casa do que homens e são empurradas para a informalidade

Em 2022, enquanto elas gastaram, em média, 21 horas semanais com os afazeres domésticos ou cuidando de pessoas, os homens dedicaram 11 horas. Mulheres negras cumpriram, por semana, uma hora e meia a mais do que as brancas. Um levantamento do IBGE revelou que mulheres, mesmo com mais estudos, tiveram participação menor do que os homens no mercado de trabalho em 2022, e ainda dedicaram quase o dobro do tempo aos afazeres domésticos.
Para Natany Moraes, a jornada não é só dupla, é tripla. De 6h até 14h, ela trabalha em uma lanchonete. Quando chega em casa, cuida da filha. À noite, faz salgados para fora.
“Tem dia que você se sente uma Mulher Maravilha, né? Que você dá conta de tudo. E no outro é como se você não conseguisse dar conta de nada. Porque você tem que dar conta da casa, do filho, da comida todos os dias; do trabalho em si, porque a responsabilidade no trabalho é minha. E você se sente muito exausta”, relata ela.
Em 2022, as mulheres dedicaram quase o dobro de horas gastas pelos homens com as tarefas da casa. Os dados fazem parte do estudo de estatísticas de gênero, divulgado nesta sexta-feira (8) pelo IBGE.
Em 2022, mulheres gastaram, em média, 21 horas semanais com os afazeres domésticos ou cuidando de pessoas, os homens dedicaram 11 horas
JN
Enquanto elas gastaram, em média, 21 horas semanais com os afazeres domésticos ou cuidando de pessoas, os homens dedicaram 11 horas. Já as mulheres pretas ou pardas cumpriram, por semana, uma hora e meia a mais do que as brancas. O resultado: menos chances de emprego e maior informalidade.
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53%, enquanto a dos homens foi de 73%. Além disso, o percentual de informalidade delas era maior que o deles, embora as mulheres tivessem maior nível de escolaridade que os homens.
“Como elas tem que tentar equilibrar o tempo que elas dedicam as tarefas do lar e o tempo no mercado de trabalho, elas acabam se encontrando em posições, em ocupações mais flexíveis, que por sua vez acabam tendo menores remunerações”, explica a economista Isabella Duarte Kelly, pesquisadora da FGV Ibre.
A taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53%, enquanto a dos homens foi de 73%
JN
De acordo com o levantamento, as mulheres ganharam 21% a menos do que os homens. A maior diferença no rendimento estava no grupo de profissionais das ciências e intelectuais: elas receberam o equivalente a 63% da média dos homens.
“As mulheres, ao longo do tempo, têm ganhado, aumentado seus salários, mas ainda assim a diferença em relação aos homens é muito grande. E o que a gente encontrou é que, se continuar nesse ritmo, que é muito lento, ainda vai demorar cerca de 20 anos, por exemplo, para as mulheres conseguirem chegar em uma equiparação salarial, em pé de igualdade”, acrescenta Isabela.
A pesquisa ainda mostrou que três em cada dez brasileiras estavam abaixo da linha da pobreza em 2022. A situação era ainda mais grave para as mulheres pretas ou pardas: quatro em cada dez enfrentavam essa difícil realidade.
A Míriam Paula faz o que pode para sobreviver.
“Boto essas roupas aí para fora, boto uns docinhos e vou catar minhas garrafas, que é o único jeito”,
Diante de tantos desafios, geralmente a força vem da união. Mulheres que desde cedo aprendem a ser fortes.
“Minha mãe é um exemplo de mulher guerreira, sempre ensinou a gente a trabalhar, correr atrás. Ela criou os filhos sozinha, fazendo faxina”, conta Natany.
Em uma geração de mulheres, o apoio está todo aqui. “Feliz dia das mulheres, mamãe”, diz a filha de Natany.
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