19 de setembro de 2024

Mulheres indígenas se unem no combate a incêndios em Roraima: ‘papel importante na comunidade’

Com galões de água e bombas pulverizadoras, mais de 20 mulheres da comunidade indígena Tabalascada, no município do Cantá, combateram as chamas que atingem a região. Roraima lidera o número de focos de calor do país em 2024. Mulheres indígenas combatem incêndios na comunidade Tabalascada, em Roraima.
Arquivo pessoal
Estudar, trabalhar, cuidar de casa, dos filhos, de si e, agora, combater as chamas que têm afetado Roraima desde o fim de janeiro. São esses os afazeres de mais de 20 mulheres da comunidade indígena Tabalascada, no município do Cantá, ao Norte de Roraima, que lutam pela sobrevivência da própria cultura e a valorização da competência e capacidade.
Roraima lidera o número de focos de calor do país em 2024, de acordo com dados do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora a seca e os incêndios em todo o país, desta sexta-feira (8). No total, foram registrados 2.845 focos entre janeiro e fevereiro.
Com o objetivo de impedir a propagação desse fogo que destrói casas, animais, vegetação e as roças de várias famílias, as mulheres da comunidade indígena uniram forças. Para elas, deter o fogo não é apenas uma questão de sobrevivência, mas também uma responsabilidade coletiva.
“Nós mulheres temos um papel importante dentro da comunidade. As vezes os homens dizem que alguns trabalhos só eles vão conseguir [realizar], mas não, as mulheres também fazem. Quando as mulheres dizem: ‘nós vamos’, elas vão”, afirma Marinete da Silva, coordenadora da comunidade.
O cenário atual dos moradores da comunidade é marcado pela fumaça, que traz sérios impactos para a saúde, e um sentimento: medo. O sentimento, no entanto, não impediu que as mulheres ajudassem no combate as chamas.
“Nas comunidades indígenas nós sempre temos essa união. As mulheres sempre tem a liberdade de escolher e na maioria das vezes elas escolhem participar de tudo que tem a ver com a comunidade, principalmente nas ações que as pessoas acham que só os homens devem fazer”, completa Marinete.
Durante duas semanas seguidas, elas seguiram até o pé das serras em um trator. No local, eram deixadas caixas d’água com água para consumo próprio e para o abastecimentos de galões e bombas pulverizadoras, usadas para apagar os incêndios. Com os galões de água e pulverizadores de até 20 litros nas costas, elas subiram até o topo das serras, localizadas na região Serra da Lua.
Mas combater o fogo é apenas um dos trabalhos diários delas. Dividindo o tempo, elas ainda realizam as atividades da casa, cuidam da família e não esquecem dos estudos, considerado por elas uma chave para abrir portas para o crescimento pessoal e para o desenvolvimento da própria comunidade.
“Foi uma experiência, a gente carregava bolsas de água para as pessoas que estavam subindo, uma colega carregou 20 litros de água e a gente tinha que subir com isso até o topo das serras. E, quando chegávamos em casa, a gente ainda tinha que lavar louça, cuidar dos filhos”, explica Yasmin Silveira.

Para elas, o conhecimento é algo que tem valor na coletividade. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) da região, que ainda está em construção, serão elas as técnicas de enfermagem, responsáveis pela saúde de crianças e adultos.
“Nós somos mulheres guerreiras, batalhadoras, mães e esposas que tem uma grande satisfação em estudar dentro da nossa própria comunidade, que tem um agravo na saúde, que já é tão esquecida. O nosso foco é trabalhar aqui, atender os nosso próprios moradores”, explica a moradora Fabíola Colares.
Atualmente, Roraima vive um período de seca agravado pelo El Niño, fenômeno meteorológico que eleva as temperaturas. Com o solo e a vegetação seca, as temperaturas altas e a falta de chuva, os pequenos focos de calor logo ficam incontroláveis e se somam às queimadas na região.
No Cantá, município onde a comunidade está localizada e a cerca de 36,6 km da capital Boa Vista, já foram registrados 19 incêndios desde o início deste mês de março. Desde o início do ano, já foram 132 focos de calor na região.
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Samantha Rufino/g1 RR/Arquivo
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