7 de novembro de 2024

Mulheres motoristas de ônibus e caminhões rompem preconceito e conquistam novas profissões na região de Araraquara


Segunda Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) , de 2018 a 2024 houve um aumento de 11.700% de mulheres habilitadas para a categoria “E”. Aumenta o número de mulheres dirigindo ônibus e carretas impulsionado pelo agronegócio
Diariamente Ednalva Cristina de Souza Milan dirige um ônibus rural e leva mais de 50 trabalhadores para a colheita de laranja de Matão a Nova Europa (SP).
Ela é líder de turma de uma empresa, ou seja, motorista que transporta os colhedores até o campo. Para exercer a profissão, ela tirou a habilitação da categoria “D”, o que mudou a sua vida e rotina. Nalva, como é conhecida, é um exemplo de mulheres que exercem cargos antes tidos como majoritamente masculinos.
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Mas os desafios foram muitos até chegar ao cargo atual. Ela driblou preconceitos e desconfianças e, aos poucos, foi conquistando o seu lugar.
“Às vezes eu chegava num lugar e falavam que eu ia detonar o ônibus, e não duraria na primeira safra (da laranja). Bastante gente não acreditava que a gente ia para frente, mas lugar de mulher é onde ela quiser, no volante, na terra, ou onde ela se sentir bem. Põe na cabeça e pronto. Foi isso o que fiz “, contou.
Por mais de 6 anos, ela trabalhou na colheita de laranjas, e em 2003, parou de lidar diretamente com a terra e os frutos, e virou assistente líder de colheita até chegar a líder de turma. Competência, vontade e responsabilidade sempre a conduziram.
“A gente leva várias pessoas e temos que ter responsabilidade por nós e por todos que deixaram famílias em casa. É uma emoção difícil de descrever, tem que sentir”, contou.
Nalva leva 50 trabalhdores rurais para a roça em Araraquara
Eloy Venâncio /EPTV1
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Presença feminina
Nalva, Vilma e Rubervânia dirigem ônibus e caminhões na região de São Carlos
Ely Venâncio / Renan Ciconelo/ EPTV1

Para dirigir uma carreta bitrem ou um treminhão carregada com cana, é necessário ter a maior das categorias da habilitação. Segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) , de 2018 a 2024 houve um aumento de 11.700% de mulheres habilitadadas para a categoria “E”.
Em 2018, juntando os maiores municípios da região central do Estado, apenas uma mulher tinha esse tipo de habilitação. Mesmo assim, as mulheres representam somente 2% do número total de pessoas com habilitação profissional em 2024.
De janeiro a setembro de 2024 foram 118 novas habilitações de mulheres na categoria, já os homens foram 5.563 mil.
Categoria D e E
Ao dirigir ônibus, micro-ônibus, tratores e caminhões, a pessoa deve ter a habilitação na categoria “D”. Essa categoria permite o transporte de passageiros, com lotação acima de 9 pessoas (motorista e passageiros).
Já a habilitação na categoria “E” voltada para veículos acoplados ou articulados, como a caminhonete-trailer, carreta (caminhão trator e semirreboque) e qualquer tipo de veículo articulado. A pessoa é autorizada a engatar reboque ou semirreboque no veículo com mais de 6 mil kg e lotação acima de 8 lugares.
Motorista Nalva é responsável pelo transporte de mais de 50 trabalhadores rurais na região de Araraquara
Renan Ciconelo/EPTV1
Parceria de boleia
A carreteira Vilma Maria de Oliveira, de 47 anos, contou que seu marido, também carreteiro, deu muito apoio e a incentivou para que ela encarasse a direção de um caminhão.
A primeira mudança foi pra categoria “D” e logo começou a trabalhar como motorista de ambulância. Mas o sonho era maior e uma oportunidade abriu caminho: trabalhar como carreiteira em uma usina de cana
“Quando eu conheci meu marido, ele já dirigia caminhão e ai eu via e falava, nossa, que máximo dirigir caminhão, mas eu pensava, eu sou pequena, não vai dar certo esse negócio. Mas ele começou a incentivar e a paixão foi crescendo, e eu falei, vou ter que mudar a letra da minha carta, né?”, relembrou.
Vilma é carreteira na região de Araraquara e foi incentiva pelo marido caminhoneiro.
Eloy Venâncio /EPTV1
Com pouco mais de 1,62 m de altura, a carreteira pensava que teria dificuldade em desengatar uma carreta, por exemplo. Mas, para uma pessoa vista por muitas como corajosa, isso não foi necessariamente um problema.
“Eu falava com esse tamanho que eu tenho, eu não dou conta (risos) e foram me ensinando, meu marido ajeitando daqui, falando você vai dar conta, você consegue, foi o que eu me agarrei, falei, tem outras mulheres que conseguem por que eu não vou conseguir? E hoje eu consegui, graças a Deus”, disse.
Mulheres dirigem carretas bitrem carregada com cana na região de Araraquara
Renan Ciconelo/EPTV1
Incentivo e sonhos
Uma das grandes incentivadoras da Vilma foi a carreteira Rubervânia de Matos Santos, 37 anos que também trabalha com ela. Com três anos de experiência, a paixão pela “boleia” veio de pequena e corre nas veias.
“A minha história vem muito do meu pai, que agora é aposentado, porém a vida inteira ele foi caminhoneiro, sempre nos levou, eu e meus irmãos, e assim eu desenvolvi esse amor por caminhões, Mas foi ele que incentivou de certa forma”, disse.
Após conquistar a habilitação desejada na categoria E, o próximo passo de Vânia é ter o seu próprio caminhão. Garra e determinação ela já mostrou que tem de sobra. “Estou indo atrás do meu sonho e vai dar certo”.
Já o sonho da Vilma é outro, ela quer incentivar as mulheres a se desafiarem e a correrem atrás de tudo aquilo que elas querem.
“Eu queria que as mulheres tivessem mais coragem de falar, “eu faço, eu consigo”. De enfrentar o preconceito, eu torço que as mulheres vejam eu e minha amiga dirigindo e falem “elas podem, eu tambem posso” e ir atrás do sonho. Mas só de olhar meus filhos falando “minha mãe é carreteira, minha mãe dirige um caminhão isso para mim, já me enche de orgulho, realizei um sonho”, conclui.
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