O ator Rodrigo Pandolfo vive o empresário Roberto Medina no musical que celebra os 40 anos do festival Rock in Rio
Vans Bumbeers / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE MUSICAL DE TEATRO
Título: Rock in Rio 40 anos – O musical
Direção e texto: Charles Möeller
Supervisão musical: Claudio Botelho
Cotação: ★ ★ ★
♬ Rock in Rio 40 anos – O musical é o 50º espetáculo orquestrado por Charles Möeller e Claudio Botelho, dupla de contribuição fundamental para a reabertura e consolidação do mercado de musicais no teatro brasileiro. A diferença é que o atual espetáculo de Möeller & Botelho tem caráter institucional, tendo sido criado para celebrar os 40 anos do Rock in Rio e o empresário criador do festival, Roberto Medina.
Apresentado em tamanho reduzido em sessões diárias no Rock in Rio 2024, o musical ganha a forma final no palco da Grande Sala da Cidade das Artes, onde (re)estreou na noite de sábado – 11 de janeiro, data em que há 40 anos, em 1985, foram abertas as portas da Cidade do Rock – para cumprir temporada no Rio de Janeiro (RJ) que irá até 23 de fevereiro, de quinta-feira a domingo.
Rock in Rio 40 anos – O musical cumpre a primordial função institucional sem deixar de entreter o público do gênero. A essência dramatúrgica menos substanciosa é redimida pelo ótimo acabamento técnico e artístico que caracteriza os espetáculos de Möeller & Botelho.
Ciente de que somente a luta de Medina para realizar um sonho impossível poderia resultar em texto frio ou mesmo chato, Charles Möeller costurou a saga do empresário – retratado no texto como um Dom Quixote de La Mancha na luta heroica contra os moinhos de vento – com a história da estagiária Elizabeth.
Beto Sargentelli (João) e Malu Rodrigues (Elizabeth) formam o casal romântico do texto
Caio Gallucci / Divulgação
Real, a personagem é vivida por Malu Rodrigues em 1984 / 1985 – tempo em que transcorre a ação, centrada nos meses em que Medina lutou para concretizar o Rock in Rio – e por Bel Kutner nos interlúdios narrativos e retrospectivos de 2025. O caso de amor entre Elizabeth e o don juan João (Beto Sargentelli) entremeia a história fabulosa de Medina na criação do festival.
Selecionada por Zé Ricardo, diretor musical do Rock in Rio, a trilha sonora do espetáculo é composta por sucessos brasileiros e internacionais dos últimos 40 anos, com ênfase natural no rock. Mas eventualmente entram músicas até de quem nunca se apresentou no festival, caso de Fábio Jr., cuja canção 20 e poucos anos (1979) é cantada por Malu Rodrigues.
A propósito, Malu é a grande estrela vocal do musical. Desde que entra em cena ao som de medley que junta duas grandes músicas de Rita Lee (1947 – 2023), Ambição (1977) e Coisas da vida (1976), Malu abrilhanta a cena e confirma a vocação de estrela.
Outra estrela dos musicais de Möeller & Botelho, Gottscha vive Dora – chefona durona da agência de publicidade ArtPlan, principal cenário do primeiro ato – e também se impõe em cena pela voz potente que valoriza números musicais como Live and let die (Paul McCartney e Linda McCartney, 1973) e Fame ((Michael Gore e Dean Pitchford, 1980).
Ainda em relação ao elenco, cabe ressaltar a ótima presença de Yara Charry (Marie), atriz e cantora até então mais conhecida pelo trabalho em novelas como Todas as flores (2023). Charry mostra voz, presença e potencial para futuro protagonismo em musicais.
Escalado para interpretar o protagonista Roberto Medina, Rodrigo Pandolfo é ator menos vocacionado para o canto, mas é talentoso o suficiente para justificar o protagonismo, mesmo sem lembrar fisicamente Medina.
Do time masculino, merece menção honrosa André Dias, que se reveza nos papéis de Dom Quixote e Oscar Ornstein (1911 – 1980), empresário que esteve ao lado de Medina na luta insana contra políticos, a engrenagem do showbiz e o tempo para realizar o festival.
A aparição de André Dias ao fim do segundo ato como Dom Quixote – montado em um cavalo enquanto canta Sonho impossível (The impossible dream) (Joe Darion e Mitch Leigh, 1965, em versão em português de Chico Buarque e Ruy Guerra, 1972), tema antológico do musical O homem de la Mancha (1965) – é o momento de maior voltagem emocional do espetáculo.
Com números coletivos geralmente vibrantes, Rock in Rio 40 anos – O musical deixa boa impressão quando as cortinas se fecham.
Roberto Medina (Rodrigo Pandolfo) é retratado como um Dom Quixote no musical
Caio Gallucci / Divulgação