g1 esteve na Rodoviária Internacional de Boa Vista, no bairro Treze de Setembro, para ouvir migrantes e refugiados venezuelanos. Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela (CNE) informou Maduro venceu o pleito com 51,2% dos votos. A oposição contesta os números e diz que Edmundo González foi o vencedor. Homem vota nas eleições presidenciais em Caracas, na Venezuela.
Maxwell Briceno/REUTERS
“Fraude”, “tristeza” e “não queremos voltar para casa”. É o que dizem migrantes venezuelanos que estão em Boa Vista, capital de Roraima, sobre o resultado das eleições presidenciais no país vizinho. Nicolas Maduro foi declarado reeleito na segunda-feira (29) para o terceiro mandato como presidente da Venezuela.
O Conselho Eleitoral Nacional da Venezuela (CNE) informou que, com 80% dos votos apurados, Maduro venceu o pleito com 51,2% dos votos. A oposição contesta os números e diz que tem provas de que Edmundo González venceu Maduro.
Poucas horas após a divulgação dos resultados, o g1 esteve na Rodoviária Internacional de Boa Vista, no bairro Treze de Setembro, onde migrantes e refugiados venezuelanos se concentram na cidade,
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📍 Roraima é a principal porta de entrada para migrantes venezuelanos no Brasil, devido à fronteira entre o município de Pacaraima e a cidade de Santa Elena, na Venezuela. O Brasil é o terceiro país do mundo que mais acolhe migrantes e refugiados venezuelanos, que deixam seu país em busca de emprego, educação e saúde.
‘Não temos vontade de voltar agora’
A família de Angel Maestre, de 32 anos, e Melannis Cardozo, de 22, deixou o país atrás de melhorias e lamentou o resultado das eleições. Há um mês em Boa Vista, o casal e os dois filhos aguardam o processo de interiorização para seguir para Bahia, onde já têm familiares. Eles vieram do estado de Bolívar e dormem no Posto de Recepção e Apoio (PRA), próximo a rodoviária.
“É um sentimento de tristeza porque tenho toda minha família lá. Sinto tristeza pelo que vejo nas redes sociais e pelo que dizem meus familiares. Lá está feio, feio! Pedindo a Deus que tudo saia bem e que não se derrame tanto sangue de inocente”, afirmou Melannis.
Família venezuelana migrou para o Brasil há um mês
Samantha Rufino/g1 RR
Se tivesse um resultado diferente, eu estava pensando em voltar à Venezuela, se não tivessem elegido o presidente atual
Angel Maestre, esposo dela, disse que familiares que ficaram na Venezuela afirmam que já começaram a vender suas casas e carros para se mudarem para o Brasil após o resultado da eleição. Ele acredita que o terceiro mandato de Maduro se trata de um “roubo”.
“Não temos vontade de voltar agora, é triste e lamentável que nos roubem, porque já nos roubaram duas vezes, três vezes, três vezes nos roubaram as eleições e a oposição se vende […] Nós ficamos sofrendo as consequências e foi por essas consequências que viemos”, lamentou.
“É triste, mas queremos dar um futuro aos nossos filhos. Queremos que eles tenham o que não pudemos ter, que estudem e tenham uma profissão”.
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O jovem José Gregório saiu do estado de Sucre, a 2.349 km, de distância de Roraima, em busca de emprego e chegou a Roraima há dois meses. Desde então, ele dorme nas ruas e busca “bicos” para sobreviver. Ao g1, ele afirmou que não aprova o governo de Nicolás Maduro.
“Queremos que ele não tenha mais a presidência. Aqui estamos esperando, porque nesse momento não há trabalho, que nos abram as portas. Não pensamos em voltar para Venezuela pela situação que está agora. Com Maduro tudo vai ficar igual. Há muitos problemas na Venezuela, a economia não dá para trabalhar e nem nada disso”, disse.
‘Fraude’
O operador de máquinas pesadas, Edward Gomez, de 39 anos, também saiu do estado de Bolívar para Roraima em busca de emprego. Há um mês e 15 dias no Brasil, o migrante disse esperar que um dia consiga ver a mudança no país, mas por enquanto avalia que as eleições presidenciais foram fraudulentas.
Edward revelou ainda que amigos e familiares estão “muito angustiados” com o resultado. Para ele, uma chance de mudança só existe se Nicolás Maduro deixar o poder. “Foi fraude”, disse.
“Vontade de retornar para lutar e alcançar o que queremos, uma Venezuela livre, onde possamos ser como éramos antes, e não uma Venezuela destruída, onde não há empregos, os hospitais estão vazios, não há medicamentos, a educação é precária, os lugares não querem que as crianças vão para a escola, a alimentação está no chão. Tudo está bastante difícil”.
Edward Gomez era operador de máquinas pesadas na Venezuela
Samantha Rufino/g1 RR
O migrante Luis José La Rosa Martinez, de 55 anos, também está há um mês no Brasil e deve ir para Cascavel, no Paraná, pelo processo de interiorização. Ele era autônomo na Venezuela. Luis também contestou o resultado e desconfia que Edmundo González, candidato da oposição, foi o vencedor.
“É uma fraude, uma trapaça […] Tenho esperança que um dia Deus se lembre que há uma Venezuela que o quer e o ama. Esse homem tem que sair do poder, tem que deixar a Venezuela. Assim, não só eu, mas todos os venezuelanos retornamos ao nosso país para viver como antes, em paz, tranquilos, com um salário que realmente cubra a comida, para manter nossos netos, para medicamentos”.
Luis José La Rosa Martinez é do estado de Miranda, na Venezuela
Samantha Rufino/g1 RR
No domingo, dia das eleições, migrantes em Pacaraima e Boa Vista se reuniram nas ruas para protestar contra Maduro. Uma multidão vestida de branco tomou conta da avenida Castelo Branco, no bairro São Vicente, em Boa Vista e em seguida seguiu para o Centro Cívico, onde levaram cartazes e bandeiras.
Em Pacaraima, o grupo começou a se reunir por volta das 17h (18h no horário de Brasília), no ponto onde as bandeiras brasileiras e venezuelanas dividem espaço. O ato se encerrou por volta de 18h30, horário local, em razão de uma chuva.
Venezuelanos se reuniram na praça do Centro Cívico
Samantha Rufino/g1 RR
Migração venezuelana para o Brasil
Desde 2015, quando a inflação na Venezuela escalonou e se tornou a pior do mundo e o país passou a enfrentar problemas socioeconômicos sob o comando de Maduro, milhares de migrantes começaram a fugir do país. Um dos destinos mais procurados foi o Brasil – em quase 10 anos de migração, se tornou o terceiro país com a maior população de venezuelanos na América Latina.
No Brasil, a porta de entrada de migrantes é Roraima, especialmente na fronteira com Pacaraima. Brasil se tornou o terceiro país com a maior população de venezuelanos na América Latina.
Para se ter ideia, Roraima recebeu o maior número de pedidos de refúgio no ano passado: 71.198 Desses, 67.914 (95%) foram de migrantes venezuelanos.
Desde janeiro de 2017, quando o governo federal passou o monitorar o fluxo migratório, 1.092.467 migrantes venezuelanos entraram no Brasil. O levantamento é da operação Acolhida, força-tarefa criada pelo governo federal para atender venezuelanos que entram no Brasil.
Em Boa vista, Venezuelanos se reúnem durante votação no país vizinho
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