25 de fevereiro de 2025

‘Nickel Boys’ conta drama racial de forma inventiva e contundente; g1 já viu


Filme indicado ao principal prêmio do Oscar 2025 é o único desta categoria a chegar ao Brasil direto no streaming. Longa produzido por Brad Pitt também concorre em Melhor Roteiro adaptado “Nickel Boys”, último entre os dez indicados ao Oscar de melhor filme a chegar ao Brasil, é o único que ficou fora dos cinemas brasileiros. O longa estreia nesta quinta-feira (27) diretamente no Amazon Prime Video, e o público poderá ver pela TV, computador, celular ou tablet. O drama é poderoso, não fica abaixo de seus concorrentes na principal categoria da estatueta dourada
O filme foge da narrativa tradicional para contar sua história, que mistura questões raciais, amizade, rituais de amadurecimento e injustiça social. No início, a obra pode até causar estranhamento, mas aos poucos ela vai envolvendo cada vez mais. Muita gente deve ficar impressionada e sensibilizada com o resultado.
Assista ao trailer do filme “Nickel Boys”
Ambientada na década de 1960, a trama acompanha a vida de Elwood (Ethan Herisse), um jovem que vive na Flórida com sua avó, Hattie (Aunjanue Ellis-Taylor, de “King Richard: Criando campeãs”) e está prestes a entrar para a faculdade. Só que, ao pegar carona com um estranho, acaba sendo acusado de um crime que não cometeu. Por ser menor de idade, Elwood é levado para o Reformatório Nickel, para ficar sob custódia do estado até chegar à maioridade.
O reformatório tem duas casas: uma com quartos individuais para jovens brancos, e outra com quartos coletivos em péssimo estado para negros. Elwood faz amizade com alguns rapazes, mas seu melhor amigo acaba se tornando Turner (Brandon Wilson), com quem compartilha a dura realidade do local.
À medida que os problemas e maus tratos contra eles se intensificam, Elwood começa a pensar numa forma de denunciar os abusos da instituição, apesar da relutância de Turner.
Lugar de fala
Para contar a história de “Nickel Boys”, o diretor RaMell Ross escolheu uma forma que, a princípio, parece inusitada. O cineasta (também co-autor do roteiro) se vale de um câmera subjetiva para que a história seja contada a partir do ponto de vista de seus personagens.
Inicialmente, a trama é mostrada pelo olhar de Elwood — até à chegada ao reformatório. Depois, ela passa para a visão de Turner e, mais tarde, volta para a de Elwood. Conforme o filme avança, as perspectivas vão se alternando. O recurso pode parecer confuso, mas funciona e causa o efeito desejado. Quem assiste ao longa cria empatia e revolta.
Ethan Herisse interpreta Elwood, um dos protagonistas de ‘Nickel Boys’
Divulgação
A direção de Ross também chama a atenção por equilibrar os elementos que poderiam prejudicar a decisão de narrar a história em primeira pessoa. Ele demonstra ter controle sobre tudo o que aparece na tela. Nada parece ser desnecessário ou descartável.
Talvez a forma de conduzir o filme possa ser mal vista por parte do público, devido a seu ritmo mais lento e contemplativo, que pode gerar um desinteresse inicial. Mas tudo tem uma intenção, fato que fica evidente ao fim do filme.
Em alguns momentos, o filme parece inspirado em obras mais densas, como as produções de Terrence Malick (de “Além da Linha Vermelha” e “A Árvore da Vida”).
Assinada por Jomo Fray, a bela fotografia cria imagens ora sublimes (como quando os personagens refletem sobre suas vidas), ora perturbadoras (especialmente nas cenas em que são vítimas de violência e se veem desesperançosos).
Embora o filme utilize uma montagem aparentemente confusa, como a inserção de trechos do longa “Acorrentados” (estrelado por Sidney Poitier e Tony Curtis), tudo ali tem sentido e importância. Esses elementos que parecem aleatórios serão essenciais para deixar o desfecho de “Nickel Boys” ainda mais impactante. Quem assistir ao filme certamente será tocado pela sua resolução.
Brandon Wilson interpreta Turner, um dos protagonistas de ‘Nickel Boys’
Divulgação
Só merecia duas indicações?
O que mais espanta em “Nickel Boys” é o fato do longa ter ganhado somente duas indicações ao Oscar 2025 (de melhor filme e de melhor roteiro adaptado). A produção merecia também ser lembrada em outras categorias, como melhor direção e melhor fotografia.
O roteiro adapta o livro “O Reformatório Nickel”, escrito por Colson Whitehead e vencedor do Prêmio Pulitzer de 2020.
O diretor e seus roteiristas conseguiram transferir para a tela todos os contrastes sociais e injustiças que os protagonistas vivem no lugar, comandado por hipócritas que dizem querer tornar seus jovens pessoas melhores para a sociedade.
Na verdade, eles só desejam maltratar e destruir suas vidas, seja de forma física ou psicológica. O roteiro ajuda a desenvolver os perfis de seus protagonistas e ajudam a criar uma cumplicidade entre eles e o espectador.
‘Nickel Boys’, de RaMell Ross foi indicado aos Oscars de Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado
Divulgação
À frente do elenco, os jovens Ethan Herisse e Brandon Wilson dão conta do recado de viverem papéis tão complexos quanto os de Elwood e Turner, embora não sejam espetaculares. Mas vale prestar atenção nos futuros trabalhos da dupla.
Os outros atores estão funcionais, mas não se sobressaem tanto quanto à direção e ao roteiro do filme.
“Nickel Boys” oferece, no final das contas, uma experiência intensa e complexa, mas que faz pensar e que nunca é superficial.
Apesar das poucas indicações ao Oscar, o filme merece ser descoberto pelo público para que histórias como aquelas não aconteçam novamente. Seja nos Estados Unidos, seja em qualquer parte do mundo.
Cartela resenha crítica g1
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