16 de janeiro de 2025

No Dia do Orgulho LGBT+, conheça a história do casal que esperou três anos para adotar menina no AC: ‘Gratificante’

Luciano Nascimento e Jackson Rodrigues iniciaram processo em 2020 e tiveram espera ampliada por conta da pandemia de Covid-19. Em outubro de 2023, receberam a notícia de que seriam pais da pequena Sofia, com três meses de vida à época. Casal recebeu Sofia em casa há pouco mais de oito meses em Rio Branco
Arquivo pessoal
Foi somente em 2015 que o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou que casais homoafetivos se habilitassem para processos de adoção. Apesar de poder ser considerada uma decisão tardia, a autorização é um passo vital para vários casais. Este é o caso de Luciano Nascimento e Jackson Rodrigues, que moram em Rio Branco e são pais de Sofia, atualmente com 11 meses de idade.
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Em 2019, eles deram entrada no processo para entrar na fila de adoção e em 2020, concluíram todos os trâmites, se disponibilizando a receber um menino ou uma menina com até dois anos de idade. Luciano relembra que por conta da pandemia de Covid-19, a espera acabou se alongando.
“Como era um processo longo, a gente estava construindo nossa casa própria e já demos entrada no processo, porque sabemos que é o processo demorado, e a pandemia fez com que o processo demorasse mais um pouquinho, e demorou três anos. A gente preenche os dados, o perfil da criança, e colocamos apenas a idade de zero a dois anos, sem raça, nem nada. E aí o sistema cruza as informações das crianças com o nosso perfil. A Vara da Infância ligou para a gente, e disse que tinha uma criança disponível, [e perguntou] se tínhamos interesse em conhecer”, relata.
Jackson (à esquerda) e Luciano (à direita) no primeiro encontro com a filha Sofia, à época com três meses de vida
Arquivo pessoal
Foi Jackson quem recebeu a ligação e ficou encarregado de avisar o marido. Ele conta que o momento em que foram chamados foi especial e gratificante em razão da espera. Sem saber se seriam pais de um menino ou uma menina, nem a idade da criança, ainda não haviam comprado itens como roupas. No dia 19 de outubro de 2023, Sofia chegou a sua nova casa.
“O momento da ligação é um momento especial, porque a gente passa por um longo período [de espera]. A gestação é um pouco mais longa, costumam dizer. Como a gente colocou nos nossos pré-requisitos que poderia ser menino ou menina, a gente acabou não tendo como se programar. Então, é tudo muito intenso porque eles me ligaram de manhã, e à tarde a gente já foi tentar correr atrás das coisas, porque como ela já tinha tido a destituição da família, eles falaram que a gente já ia recebê-la no dia seguinte. Mas foi gratificante, foi maravilhoso. A gente fica muito emocionado quando a gente recebe a ligação. Meu marido ficou mais [emocionado] que eu, porque a gente fica meio tentando processar as coisas. No dia seguinte a gente conseguiu levá-la para casa”, diz.
Rotina
Após pouco mais de oito meses com a menina, Luciano conta que o novo papel de pai mudou as rotinas dele e do marido. Ele, que gerencia uma loja de itens personalizados para festas de aniversário, consegue trabalhar em casa. Jackson, que é arquiteto, começou a trabalhar em horário corrido para chegar em casa às 14h e cuidar da filha.
“Quando ela chegou, era recém-nascida, então era tudo mais fácil, porque ela já tinha uma rotina, e naquela idade dormia muito. Conforme ela foi crescendo, foi ficando um pouco mais difícil. Não estou romantizando paternidade, porque tem seus momentos difíceis. Mas a gente sabe que aquilo é uma fase e vai passar. A gente só tem que se dedicar naquele momento, que dá tudo certo”, avalia Luciano.
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Ele diz que ter uma criança é uma ficha que continua caindo, e que é gratificante poder cuidar de Sofia depois de todo o processo até a adoção. Nesta sexta-feira (28), dia do Orgulho LGBTQIAPN+, o casal compartilhou sua história para um vídeo publicado pelo Tribunal de Justiça do Acre. (Veja acima)
Para Jackson, chegar em casa e receber o abraço da filha, que foi tão esperada, faz todo o esforço valer a pena.
“Quando eu abro o portão, ela já sabe que eu estou chegando, e já corre para a porta e já vai me recepcionar, me abraça, e isso já paga meu dia. Porque acaba que a gente tem um dia estressante, e a criança com a inocência dela não sabe de nada. É muito gratificante, muito mesmo. Ontem mesmo eu estava olhando para ela e pensando: ‘Meu Deus, eu tenho uma filha’. É uma loucura esse sentimento na cabeça da gente”, comenta.
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Amor da família
Natural de Boca do Acre, no interior do Amazonas, Luciano, que também foi adotado na infância, conta que conheceu a família biológica há pouco tempo, e com isso, Sofia pode contar agora com três famílias.
Ele diz que tanto seus parentes quanto os do marido apoiaram a decisão e sempre procuram por notícias da menina. Por enquanto, o casal não pretende adotar uma nova criança.
“A família do meu esposo é muito grande, e a minha também, e graças a Deus todo mundo recebeu de braços abertos, e ela é muito amada. Graças a Deus, a gente não teve problema com isso. Como a minha família mora em Boca do Acre, todo mundo está sempre perguntando por ela está, se está tudo bem. Graças a Deus, todo mundo a ama, assim como a gente”, celebra.
Ao saberem da notícia de que poderiam levar Sofia para casa, Luciano e Jackson correram para fazer o enxoval da menina
Arquivo pessoal
Luciano e Jackson são um dos milhares de casais homoafetivos que ajudaram a dobrar o número de adoções entre 2019 e 2023, com aumento de 113%. Em todo o país, cerca de 6% das adoções haviam sido feitas por casais compostos por pessoas do mesmo sexo até maio deste ano.
Apesar do apoio da família, Jackson revela que o casal já notou olhares surpresos de algumas pessoas ao passearem com a filha. Inclusive, ele relembra, já foram perguntados qual dos dois seria a “mãe” da criança ao visitarem uma pediatra. Mesmo assim, ele acredita que seja uma oportunidade para que as pessoas entendam melhor, e acredita que a adoção por casais homoafetivos seja uma conquista.
“Essa é uma conquista que a gente entende que não é para todos, porque tem uma série de requisitos que você precisa ter para você poder adotar uma criança, não é só chegar lá e vai conseguir adotar uma criança. A gente percebe ainda, não sei se porque a gente mora numa capital que é pequena, ainda existe um pouco de olhares, as pessoas ficam surpresas quando a gente anda com ela, até na primeira vez que a gente foi ao shopping com ela. Mas eu acho bom, porque as pessoas de alguma forma estão aprendendo. A minha família, por exemplo, passou a entender mais, a família dele [Luciano] também. As pessoas conseguem ver como algo normal, que é como deve ser”, afirma.
Sofia mudou a rotina de Luciano e Jackson
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VÍDEOS: g1

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