26 de outubro de 2024

No último debate, Nunes e Boulos repetem acusações da campanha e confrontam visões sobre segurança, privatizações, moradia e saúde

Na TV Globo, a dois dias da votação, candidatos trocaram acusações sobre corrupção e mentiras e destacaram suas trajetórias. Boulos e Nunes posicionados para o último debate em SP
Fabio Tito/g1
O último debate deste segundo turno entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo, na TV Globo, na noite desta sexta-feira (25), foi marcado por provocações dos dois lados a respeito de temas já discutidos na campanha e divergências de dados sobre a cidade.
O prefeito Ricardo Nunes (MDB), que concorre à reeleição, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) participaram do encontro, que foi mediado pelo jornalista César Tralli.
No total, foram pedidos por Nunes nove direitos de resposta, e um foi concedido. Boulos fez dois pedidos, e um foi autorizado.
No terceiro bloco, o prefeito chegou a usar celular durante o debate, o que é vetado pelas regras aceitas pelas campanhas, e foi alertado pelo mediador.
Os candidatos puderam circular livremente pelo cenário durante todo o tempo e tiveram um mapa da cidade no cenário. Ambos usaram o mapa para indicar as regiões da capital.
No formato de banco de minutos, em que os participantes precisam administrar suas falas, o debate foi dividido em quatro blocos:
Primeiro e terceiro blocos: tema livre, com duração de 20 minutos;
Segundo e quarto blocos: dois temas determinados. O bloco durou 20 minutos, sendo 10 minutos para debater cada um dos dois temas do bloco, divididos entre os candidatos. Ou seja, 5 minutos para cada um, por rodada. Os temas, que não puderam ser repetidos, foram escolhidos pelos candidatos entre os seis oferecidos pela TV Globo;
Ao final do quarto bloco, os candidatos tiveram um minuto e meio para as considerações finais.
O jornalista César Tralli, que foi o mediador do último debate entre os candidatos da Prefeitura de SP.
Fábio Tito/ g1
Primeiro bloco – tema livre
O bloco começou com temas que opõem esquerda e direita: privatizações, desmilitarização e legalização das drogas.
Ricardo Nunes abriu o debate falando sobre segurança pública e questionou Guilherme Boulos sobre um projeto de lei que tratava do aumento de pena para criminosos — e que o deputado federal deixou de votar. O candidato do PSOL disse que não votou por estar em uma reunião com o presidente Lula (PT) no Palácio do Planalto e se dirigiu ao eleitor, falou sobre a cidade e criticou o prefeito.
Debate Globo SP: Nunes (MDB) pergunta a Boulos (PSOL) sobre aumento de pena para criminoso
Boulos continuou a fala abordando sua história de vida e disse que tinha duas missões no debate: “Mostrar para as pessoas que você [Nunes] não foi um bom prefeito e a importância que tem a mudança na cidade de São Paulo.” Em seguida, o deputado indagou o prefeito sobre o preço de serviços funerários, especialmente utilização de capelas em cemitérios. Nunes não respondeu e direcionou a resposta à universalização do abastecimento de água.
“Queria te fazer uma pergunta muito objetiva, me responda, por favor, se você souber, você sabe quanto custa para uma família fazer uma oração na capela de um cemitério hoje, de um cemitério que você privatizou?”, questionou Boulos.
Num primeiro momento, Nunes não respondeu e voltou a falar sobre segurança pública: aumento do efetivo da Polícia Militar, da Guarda Civil Metropolitana e aumento de piso salarial. Depois, elogiou o processo de privatização da Sabesp. Ao defender a concessão dos cemitérios na cidade, o prefeito disse que os cidadãos em vulnerabilidade social podem utilizar o enterro social.
Nunes respondeu citando “combate à corrupção no serviço funerário”. “Era um dos piores serviços avaliados pela Prefeitura de São Paulo. As agências terríveis, os cemitérios, terríveis, nós fizemos. A tabela de preço é a tabela de 2019. Todo mundo que tá no CadÚnico tem o acesso gratuito e você pode pagar com 25% de desconto para o enterro social, então a gente manteve a tabela de preços. Já foram reformadas todas as agências [funerárias], todos os cemitérios serão reformados, agora, lógico, aconteceu tem pouco tempo, isso leva um tempo e vai melhorar muito.”
O candidato do MDB voltou a questionar o adversário a votação do aumento de pena e disse que Boulos defende a liberação de drogas. Boulos afirmou que Nunes estava mentindo e repetiu a pergunta sobre o preço dos serviços funerários.
Ricardo Nunes continuou defendendo o contrato de concessão, disse que os preços estão congelados desde 2019 e que os serviços vão melhorar.
Novamente argumentando ao favor de privatizações e concessões, o atual prefeito deu como exemplos positivos o Centro de Convenções do Anhembi e o Parque Ibirapuera. Em seguida, Nunes perguntou se Boulos acabaria com o programa Smart Sampa, um sistema de videomonitoramento para auxiliar na segurança pública.
Boulos afirmou que pretende ampliar o programa. Depois, questionou Nunes sobre segurança no Centro de São Paulo e se o prefeito deixaria seus filhos e netos brincarem na Praça da Sé durante a noite.
Ainda sobre segurança, Boulos questionou Nunes sobre uma afirmação que o emedebista fez no debate da TV Globo no primeiro turno: “Você falou que via crianças brincando 11 horas da noite na Praça da Sé, muito seguras, tranquilas. Eu não sei se você vai ter coragem de repetir isso aqui para quem está nos assistindo, mas eu te faço uma pergunta mais objetiva: Você deixaria seus filhos, seus netos irem brincar 11 horas da noite na Praça da Sé?”
Ao responder, Nunes citou um vídeo com viaturas da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana na região. “Eu saí do debate e fui até a Praça da Sé, fiz um vídeo, inclusive, mandei para alguns jornalistas, com segurança haviam quatro viaturas da Polícia Militar duas viaturas da Guarda Civil Metropolitana. Agora é lógico, a gente tem que continuar trabalhando.”
Nunes retomou o tema da falta de voto do deputado no projeto de aumento de pena para criminosos e, mais uma vez, perguntou sobre descriminalização de drogas. Boulos disse que sempre defendeu a diferenciação de usuários e traficantes de drogas.
O emedebista acusou o psolista de mudar seu posicionamento sobre temas como descriminalização de drogas e desmilitarização durante o período eleitoral. Boulos rebateu a crítica, disse que o atual prefeito passou a ter a atuação influenciada após receber apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e perguntou se Nunes tinha a mesma ideia de Bolsonaro em relação à condução da pandemia.
O prefeito negou, disse que, durante sua gestão, São Paulo foi a “capital mundial da vacina” e voltou a falar sobre segurança pública ao questionar o adversário em relação a suas propostas sobre armamento da GCM e desmilitarização da PM. O candidato do PSOL afirmou que não vai tirar fuzis da GCM.
Segundo bloco – temas determinados
Debate Globo SP: Boulos (PSOL) e Nunes (MDB) debatem sobre saúde
No tema da saúde, Boulos perguntou a Nunes qual o orçamento da pasta da Saúde. O prefeito disse que o saldo está em torno de R$ 22 bilhões, mas que isso não significa que o dinheiro está livre. O candidato do MDB afirmou que abriu diversas Unidades de Pronto Atendimento (UPA) na capital e que ajustou a saúde financeira da cidade.
Boulos rebateu, criticou Nunes e perguntou por que o prefeito “não melhorou, de verdade, a saúde das pessoas na cidade”, ao citar falta de médicos, exames e remédios. O prefeito disse que melhorou, sim, a saúde da capital e listou algumas medidas de sua gestão.
“Nós melhoramos, Guilherme, eu acabei de falar do quanto a gente conseguiu elevar o investimento da Saúde. Olha, a cidade de São Paulo foi fundada em 1554. Até 2020, portanto 466 anos, foram feitos 20 hospitais. Hoje são 30, o Bruno eu abrimos 10 hospitais até 2017, eram trêsUPAs, hoje são 30. O Bruno e eu abrimos 27 dessas. Eu abri 19. Este ano inauguro mais duas ainda, inauguro a UPA da Lapa, inauguro a UPA do Sacomã. Eu vou no meu próximo mandato fazer inaugurar mais 15 UPAs”, disse Nunes.
Boulos rebateu: “Primeiro, das UPAs que ele fala que fez, três foram do Doria, não é? Eu acho que ele se vê como continuidade do governo do Doria, então é natural que coloque dessa maneira.”
“Agora, você que está na vida real, que vai para uma UPA, espera 8, 9 horas para ser atendido, que vai para um posto de saúde, não encontra remédio, você acha que melhorou a saúde em São Paulo? Eu decidi fazer o Poupatempo da Saúde, para que isso melhore e, na realidade, não só no discurso”, finalizou.
Nunes chegou a citar que seu oponente “conhece bem a cidade”. “Você falou do Grajaú. Grajaú aqui [ele aponta para o mapa], você sabe quantas UBS eu estou fazendo aqui? Sete só no Grajaú, aliás cinco, porque duas eu já entreguei: a do Gaivotas e a UBS do Jardim Reimberg entreguei semana passada. Aqui, no Jardim Helena, Guilherme conhece bem. Uma coisa que eu não posso negar, ele conhece a cidade.”
Nunes disse que vai criar um centro voltado a pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e pediu a opinião do adversário sobre o projeto.
Boulos disse que lamentava que o prefeito tenha trazido o projeto apenas da eleição e prometeu fazer cinco unidades voltadas a essas pessoas.
Sobre trabalho e geração de emprego, Nunes pediu a opinião de Boulos sobre um projeto voltado ao empreendedorismo. O deputado federal disse que “dá para fazer muito mais e melhor” e prometeu um projeto de formação para jovens moradores das periferias.
Em seguida, Boulos perguntou por que o atual prefeito não construiu nenhum Centro Educacional Unificado (CEU) na cidade. “Entregou? Não, não entregou nenhum, você acha que o CEU não é importante? Foi por falha, incompetência de gestão. Por que você não fez nenhuma CEU?”
Nunes disse que procedeu com as reformas de todas as unidades e publicou a licitação para a construção de seis CEUs. “Os CEUS são equipamentos importantes. Hoje nós temos 58 CEUs. Desses 58, 12 o Bruno Covas entregou. Portanto, 46 são CEUs que já vinham de outras gestões, eu fiz a reforma de todos eles. Era necessário. Tinham muitos CEUs. O CEU da Alvarenga, da Pedreira, a piscina não funcionava. Enfim, vários problemas. Eu tive que fazer a reforma de todo esse CEUs e 12 estão em obra.”
O atual prefeito perguntou a Boulos sobre o motivo de o PSOL municipal ter votado contra a redução do Imposto Sobre Serviço (ISS) em diversas áreas. O deputado alegou que seu partido foi favorável ao texto na primeira votação, mas mudou de opinião após mudanças do projeto antes da segunda votação na Câmara Municipal.
Ao ganhar um direito de resposta, Nunes disse que Boulos foi condenado 32 vezes pela Justiça Eleitoral por algum tipo de desinformação ao longo da campanha de segundo turno.
Boulos afirmou que a gestão Nunes adquiriu armadilhas para mosquito da dengue de forma superfaturada. O prefeito negou e disse que teve suas contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Município.
Terceiro bloco – tema livre
Debate em SP: Boulos (PSOL) e Nunes (MDB) trocam acusações em bloco de tema livre
Boulos, como em outros debates e sabatinas, questionou Nunes sobre a investigação da chamada Máfia das Creches e desafiou o prefeito a abrir o sigilo bancário: “Eu vou repetir uma pergunta que eu te fiz quando você me acusou da última vez que eu não trabalhava. Eu te disse que eu abriria meu sigilo bancário para mostrar que todo o rendimento meu, ao longo da minha vida, com meu sustento. Por que você não abre seu sigilo bancário, Ricardo? Eu abro o meu, você abre o seu?”
Nunes respondeu que abre “para qualquer autoridade” e usou o celular, o que é vetado, e foi alertado pelo mediador de que o aparelho deveria ser guardado.

Mais Notícias