26 de dezembro de 2024

Nova família de anêmona-do-mar é descoberta no litoral paulista


Achado foi incluído no World Register of Marine Species, catálogo global da fauna e da flora marinha. Nova espécie de anêmona-do-mar foi descrita durante trabalho de doutorado
Jeferson Alexis Durán Fuentes
Uma nova família de anêmonas-do-mar foi descoberta no litoral norte paulista. Ubatuba (SP) é uma das áreas mais importantes para pesquisas marinhas, especialmente pelo suporte logístico das universidades estaduais paulistas e também por representar uma área muito rica de biodiversidade.
O pesquisador conta que uma nova família é a definição de um grupo novo para organismos aparentados. Na história da evolução dos organismos no planeta, há organização daqueles que são mais aparentados e daqueles que são menos aparentados.
“Nesse caso, nós descobrimos que essa espécie nova e outras espécies formam um grupo isolado. Antes disso as espécies estavam colocadas em famílias erradas, ou seja, sem serem de fato aparentadas”, explica o professor doutor Sérgio Stampar, do Departamento de Ciências Biológicas da Faculdade de Ciências da Unesp, campus Bauru.
A nova família foi denominada de Antholobidae. Já a nova espécie ganhou a identificação de Antholoba fabiani. O nome faz referência ao professor Fabián Acuña da Universidad Nacional de Mar del Plata, Argentina, um dos principais pesquisadores em anêmonas-do-mar do mundo.
O trabalho que é parte do doutorado do pesquisador Jeferson Duran-Fuentes contou com a colaboração da professora doutora Marymegan Daly (Ohio State University) e Ricardo González (Universidad Nacional de Mar del Plata). A pesquisa faz parte do programa de Pós-Graduação Interunidades em Biociências da Unesp e teve a coordenação do professor Stampar.
O Laboratório de Evolução e Diversidade Aquática da Faculdade de Ciências da Unesp Bauru já tem um longo histórico de colaborações internacionais.
Nova espécie de anêmona-do-mar foi descoberta por pesquisadores brasileiros
Jeferson Alexis Durán Fuentes
“O Jeferson ficou quase um ano na Ohio State University de 2023 até meados de 2024. Algumas das abordagens foram realizadas em parcerias com os pesquisadores desses laboratórios. Especialmente no auxílio da interpretação de dados e realizações de algumas técnicas de análise. A infraestrutura do nosso laboratório não é comparável aos do laboratório da Ohio State University, então algumas abordagens foram realizadas lá”, detalha o professor Sérgio Stampar.
As informações já foram incluídas na plataforma Word Register of Marine Species. Isso representa que a nova definição dessa nova família de anêmonas-do-mar foi aceita pelo meio acadêmico, o que evidencia a qualidade de trabalho desenvolvido. A descoberta também foi publicada em artigo na revista científica Marine Biodiversity.
Essa foi a primeira espécie pertencente ao gênero Antholoba descrita na região desde o século 19, quando foram descritas as espécies Antholoba achates e a Antholoba perdix.
Os pesquisadores utilizaram o aspecto morfológico para distinguir a Antholoba fabiani de outras anêmonas-do-mar como a Antholoba achates e Antholoba pedix. A Antholoba fabiani possui 199 pares de mesentério em 7 ciclos, as outras apresentam 96 pares em 5 ciclos.
“Vamos fazer uma comparação com um imóvel. Sempre temos disposições diferentes das paredes dentro de uma casa. As anêmonas-do-mar são parecidas, para elas ficarem rígidas elas precisam de água, como uma bexiga e essas paredes, os mesentérios. Cada espécie tem uma disposição diferente com mais ou menos, de um lado para o outro, destas “paredes”, frisa o professor Stampar.
Essa nova família é a primeira criada a partir de dados de uma espécie brasileira e, principalmente, de águas rasas. As anêmonas são encontradas em praticamente todos os ambientes marinhos, desde águas muito rasas como as praias e também o mar profundo com muitos quilômetros de profundidade.
Anêmonas
Na animação “Procurando Nemo”, o peixe-palhaço protagonista da história tem uma relação de amizade com anêmonas-do-mar. Anêmonas são animais marinhos invertebrados que vivem em recifes, ilhas oceânicas e regiões entre marés.
No caso do peixe-palhaço com a anêmona, existe uma relação de mutualismo, já que ambos se beneficiam da coexistência. O peixe recebe proteção do invertebrado, de modo que não fica exposto aos predadores. Ele vive entre as anêmonas e só se afasta poucos metros e por pouco tempo.
As anêmonas-do-mar servem de abrigo e proteção para várias espécies de peixe
Pauline Walsh Jacobson/iNaturalist
Quando caça alguma presa, o peixe-palhaço volta até a anêmona para se alimentar e evitar ser predado. Os restos e detritos da presa do peixe acabam por alimentar a anêmona. Já se o peixe-palhaço é perseguido, o predador que entra no meio das anêmonas é paralisado pela substância urticante dos tentáculos delas e vira refeição do invertebrado. Já o peixe-palhaço é imune à substância.
“As anêmonas-do-mar têm um papel fundamental de ‘lixeiros’ dos oceanos, pois em grande parte se alimentam de matéria orgânica, organismos ou pedaços de organismos mortos, por exemplo, que acabariam apodrecendo em áreas marinhas”, detalha o professor Stampar.
Quem sabe nas próximas versões da animação, Nemo, o peixe-palhaço, busque proteção numa Antholoba fabiani… O mais difícil os pesquisadores já fizeram: a descoberta.
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