16 de novembro de 2024

‘O cara da vala’: Olhar apurado faz técnico em saneamento retratar trabalho diário como obra de arte

Desafiado por professor em curso de fotografia, Charles Silva criou perfil nas redes sociais para mostrar o cotidiano de quem trabalha na manutenção da rede de abastecimento de Campinas (SP). A arte da ‘vala’: técnico em saneamento transforma trabalho diário em arte
O simples ato de abrir a torneira e ter acesso a água potável não expõe a complexidade que existe para que esse bem essencial à vida chegue até as casas de milhares de pessoas. E trabalhadores que são peças essenciais nessa engrenagem acabam, na maioria das vezes, invisíveis aos olhos da população.
Em busca de uma forma de explicar tanto o processo como tirar da invisibilidade esses profissionais, o técnico de saneamento Charles Henrique da Silva recorreu a fotografia. Usando o olhar de quem está na lida, ele transforma em arte os desafios do dia a dia.
O resultado está no projeto “Os Caras da Vala”, perfil nas redes sociais onde publica as fotos que tira enquanto está nas trincheiras abertas nas ruas de Campinas (SP).
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O g1 conversou com Charles para entender como tudo começou, as inspirações no cotidiano de manutenção da rede de abastecimento e os projetos.
“Você não faz fotografia para deixar guardado, você quer expor e minha ideia é mostrar como o profissional do saneamento é um profissional técnico, só que ele também é um profissional braçal que sofre o sol, com a lama e com esforço físico”, diz.
A arte da ‘vala’: técnico em saneamento transforma trabalho diário em fotos artísticas
Charles Henrique da Silva
👀 O que você vai ver nessa matéria:
As fotografias
Onde tudo começou
📷 As fotografias
Retratista do cotidiano, Charles costuma usar o próprio celular, que guarda na pochete, para fazer as imagens. Ele não gosta de fotos posadas, no entanto, lembra que precisava pedir autorização dos colegas quando começou a fazer os registros.
“Geralmente é aquele negócio, eu tô ali, tenho que me preocupar em cumprir minhas funções, mas eu vejo um momento, alguma coisa que ficaria legal. Aí eu saco o celular, faço às vezes 10 fotos numa sequência, tento enquadrar da forma que visualizei e depois vou ver se ficou legal”, revela.
Comenta que apesar de ter uma câmera profissional, ela não é prática para utilizar no dia a dia, então deixa o equipamento para o que chama de próxima fase do projeto, onde vai aproveitar os dias de folga para acompanhar a equipe em trabalhos mais complexos.
A arte da ‘vala’: técnico em saneamento transforma trabalho diário em fotos artísticas
Charles Henrique da Silva
Charles comenta que tem como grande inspiração o trabalho de Sebastião Salgado, que registrou os trabalhadores do garimpo da Serra Pelada na década de 1980.
E que costuma utilizar poucos tratamentos, focando apenas em ressaltar o contraste de algumas cores como o vermelho ou o preto e branco.
“Numa fotografia comum, colocar muito contraste no vermelho é um erro técnico, mas nesse caso eu faço de propósito para mostrar o barro. Mostrar o vermelhão que fica em nossos uniformes. Você pode lavar com o que você quiser que não sai”, explica.
🕰️ Onde tudo começou
Charles trabalha na empresa de saneamento de Campinas há cinco anos e sempre gostou de tirar fotos de paisagens e animais, mas foi só depois de entrar em um curso de fotografia e ser desafiado pelo professor para um projeto que descobriu o potencial da arte.
A escolha por registrar o cotidiano do trabalhador do saneamento básico surgiu quando percebeu que os amigos nunca entendiam direito como era o ofício, na prática. E ponderou, que se os amigos não sabiam, o resto da população também não entenderiam.
“Trabalha com saneamento, mas o que você faz? Na hora que comecei a mostrar fotos e vídeos, eles ficaram chocados […] Não acredito que a água e esgoto chega até a minha casa através desse tipo de trabalho, esse tipo de manutenção. Então esse foi a primeira coisa que me deu uma fagulha”, conta.
Ele conta que inicialmente foi reunindo imagens em um arquivo e chegou até a enviar algumas fotos para concursos, editais e páginas onde os frequentadores fazem avaliações, tudo com objetivo de medir a aceitação do que produzia.
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A conta no Instagram foi criada apenas em fevereiro de 2024, mas logo começou a ganhar seguidores, que também começaram a mandar fotos e o técnico passou a selecionar e publicar nas redes sociais.
“Meu professor até falou assim: ‘você foi criar um projeto e criou um movimento’. Porque o pessoal começou também a tirar fotos, do seu dia de trabalho […] o pessoal dos outros setores começou a me enviar fotos”, conta.
Charles também comentou que passou a receber muitos comentários no privado, geralmente perguntando sobre o dia a dia, e se surpreendeu de que em apenas seis meses.
Além disso, a empresa já fez uma proposta de exposição e o professor do curso de fotografia está ajudando como curador e buscando locais para exposições.
“Quanto mais eu consegui divulgar esse trabalho para a sociedade, mais satisfeito eu vou ficar”, finaliza.
*Sob supervisão de Fernando Evans
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