25 de dezembro de 2024

O que a ciência diz sobre tratamentos e produtos que prometem combater celulite

Cerca de 90% das mulheres têm celulite. Mas ainda não conseguimos representá-la como uma característica anatômica normal na cultura popular. Celulite
Laura Tancredi/Pexels
Cerca de 90% das mulheres têm celulite. Mas ainda não conseguimos representá-la como uma característica anatômica normal na cultura popular.
No filme de sucesso de Greta Gerwig, por exemplo, a Barbie Estereotipada interpretada por Margot Robbie desenvolve ondulações na parte superior da coxa, dentro da sua crise existencial – além de outros defeitos humanos, como mau hálito, pé chato e irreprimíveis pensamentos de morte.
Quando a Barbie Estereotipada pergunta à sábia boneca Barbie Estranha o que são aquelas ondulações, ela explica: “É celulite. E vai se espalhar por tudo. Você vai começar a ficar sentimental, chorosa e complicada.”
Foi assim que a suave perfeição plástica de Barbie ficou comprometida.
Apesar da sua frequente ocorrência, a celulite é considerada um defeito que precisa de correção. E parece que as consumidoras concordam, principalmente quando recebem uma enxurrada de imagens de pele suavizada por Photoshop – de modelos, influenciadoras e estrelas de Hollywood.
A celulite normalmente ocorre em áreas com maior quantidade de gordura subcutânea. Seus depósitos atravessam o tecido conectivo embaixo da pele, gerando a aparência de caroços. Ela é comum, normalmente indolor e inofensiva.
A pele humana é o maior órgão do corpo humano. Ela é composta de três camadas.
Na superfície, a epiderme age como nossa primeira linha de defesa contra o ambiente. Esta camada impermeável mais externa é composta de células que são constantemente renovadas e eliminadas, protegendo nosso corpo contra os elementos externos.
Abaixo da epiderme, fica a derme, uma camada resistente que contém fibroblastos – as células responsáveis pela produção de proteínas essenciais, como colágeno e elastina. Estas proteínas fornecem estrutura e elasticidade, colaborando para a resistência e flexibilidade da pele.
Ainda mais profunda é a hipoderme, também conhecida como camada subcutânea. Esta camada é rica em tecido adiposo, que é composto principalmente de gordura e desempenha um papel fundamental no amortecimento e isolamento do corpo. Ela também armazena gordura que pode ser usada quando necessário.
Abaixo dessas três camadas de pele, existem os músculos. Dos músculos até a derme, correm faixas de tecido conectivo, que retêm o tecido adiposo em “bolsas”.
A celulite não prejudica a saúde. Mas algumas pessoas afirmam que ela afeta sua autoestima e imagem do corpo.
Isso tem muito a ver com a pressão social imposta sobre as mulheres, para que elas sejam fisicamente perfeitas – ou para que gastem dinheiro, tempo e energia, tentando atingir a máxima perfeição possível.
🧴 Por isso, a celulite se tornou um grande negócio para a indústria da beleza.
Especialmente no período que antecede o verão, as empresas promovem todo tipo de produtos, de cremes e soros até artefatos e pílulas, voltados à criação de membros suavemente perfeitos.
A pergunta mais comum parece ser: “Estes tratamentos funcionam?”
Mas, como anatomista, acho que a questão mais importante é: “Por que os corpos de mulheres saudáveis devem ser considerados algo que precisa ser tratado, curado ou corrigido?”
A indústria da beleza e do bem-estar capitalizou, há muito tempo, os padrões sociais de beleza.
A ideia de que a celulite é algo indesejável e deve ser corrigida foi perpetuada desde que a revista Vogue se tornou a primeira revista em língua inglesa a usar o termo “celulite”, apresentando o conceito para milhares de mulheres.
Esta estratégia de marketing se baseia na insegurança dos consumidores, particularmente das mulheres, e promove a infinita busca da “perfeição” de corpos que possuem variações anatômicas normais.
Bem Estar #173: Dá para acabar com a celulite? Saiba o que realmente funciona
Ao definir a celulite como uma condição que precisa de tratamento, as empresas podem vender uma ampla variedade de produtos e serviços. Eles são reforçados pelo apoio de celebridades, que emprestam sua credibilidade e valor aspiracional a produtos pseudomedicinais “suavizantes”.
Mas as evidências científicas que sustentam a eficácia desses suplementos no tratamento da celulite são limitadas.
Na verdade, o primeiro estudo científico sobre a celulite foi publicado em 1978 e se referia a ela como “a chamada celulite: a doença inventada”.
Os produtos mais recentes incluem o Lemme Smooth, o último lançamento da linha de vitaminas e suplementos da atriz e empresária Kourtney Kardashian Barker.
Os materiais promocionais do produto afirmam que as cápsulas “reduzem visivelmente a celulite em 28 dias”. Mas o que nos diz a ciência a respeito?
Suplementos como o Lemme Smooth afirmam melhorar a textura da pele e reduzir a celulite de dentro para fora. Especificamente, o suplemento de Kardashian Barker contém uma mistura de melão cantaloupe francês, ácido hialurônico, vitamina C e cromo, entre outros ingredientes.
A capacidade do corpo de absorver e utilizar estes ingredientes de forma que afete a celulite ainda é objeto de debate.
Existem evidências de que o ácido hialurônico ingerido pode migrar para a pele, estimulando a produção de colágenos no interior da derme. E se demonstrou que a vitamina C causa espessamento da camada superficial da pele.
Mas a falta de padronização dos testes de uso desses ingredientes no tratamento da celulite significa que ainda não se sabe ao certo se eles irão trazer efeitos significativos.
Outros produtos comercializados para reduzir o surgimento da celulite incluem loções e cremes tópicos, que contêm ingredientes como cafeína, retinol e extratos de ervas. Mas os produtos cosméticos não conseguem penetrar o suficiente na epiderme para causar efeitos significativos sobre os depósitos de gordura e tecidos conectivos subjacentes.
Alguns tratamentos invasivos, como terapia a laser, subcisão e terapia com ondas acústicas, podem oferecer resultados mais promissores.
Estes procedimentos decompõem as faixas de tecido conectivo que causam o inchaço e estimulam a produção de colágeno na derme, para aumentar a elasticidade da pele. São métodos que podem ser mais eficazes, mas costumam ser mais caros, exigem diversas sessões para atingir os resultados e não estão livres de riscos.
Manter uma alimentação saudável, beber muita água e praticar atividade física regularmente pode ajudar a melhorar a aparência geral da pele e reduzir a visibilidade da celulite.
Perder peso e fortalecer os músculos das pernas, nádegas e abdômen pode tornar a celulite menos visível, mas não irá fazer com que ela desapareça totalmente.
O principal é que a celulite não precisa ser tratada. É uma variação anatômica normal que foi transformada em uma condição para gerar um mercado lucrativo de curas que não existem.
Meu conselho de especialista para o verão? Cuidado com o que dizem as empresas de cosméticos e economize seu dinheiro.
* Rebecca Shepherd é professora de anatomia humana da Faculdade de Anatomia da Universidade de Bristol, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês. O site original entrou em contato com a marca Lemme Live, pedindo comentários.
Confira oito dicas de alimentação para evitar a celulite
Confira oito dicas para evitar o problema da celulite

Mais Notícias