27 de dezembro de 2024

O que esperar da redação do ‘Enem dos concursos’? Veja dicas, possíveis temas e modelo

Tipo de texto exigido será o dissertativo-argumentativo, no qual o candidato precisa defender um ponto de vista. Quem fugir ao tema proposto pode zerar a redação; confira outros fatores. Treinar redação é importante para ir bem no “Enem dos concursos”
jcomp/Freepik
Além de responder a questões de múltipla escolha, os candidatos do “Enem dos concursos” que vão concorrer às vagas de nível médio (bloco 8) também terão que fazer uma redação. As provas serão neste domingo (5).
Conforme o edital, o tipo de texto exigido será o dissertativo-argumentativo, no qual o candidato precisa se posicionar e defender uma tese, de acordo com o tema proposto.
Esse estilo costuma ser o mais cobrado nas redações de concursos públicos e também é o que cai no Enem original, o Exame Nacional do Ensino Médio.
O número de linhas só será informado no enunciado da redação, mas o comum é entre 20 e 30, explica o professor Rodolfo Gracioli, do Estratégia Concursos. E a estrutura deve ser a seguinte, segundo ele:
introdução: eu cito a minha tese.
desenvolvimento: dois ou três parágrafos para apresentar argumentos, mostrar como eles embasam a minha tese, com dados, repertório.
conclusão: eu retomo a tese e venho com uma proposta de intervenção, uma solução para o problema.
Veja abaixo outras orientações do professor para a redação do “Enem dos concursos” e o texto-modelo que ele preparou a pedido do g1.
Possíveis temas
Dicas de conteúdo
Rascunho e controle do tempo
O que faz zerar
Modelo de redação
Possíveis temas
O Concurso Nacional Unificado (CNU) é uma prova inédita, portanto, não existe um modelo de redação ideal pelo qual o candidato pode estudar, afirma o professor Rodolfo Gracioli. Segundo ele, para prever possíveis temas, o aluno deve olhar para o conteúdo programático do edital.
“Se espera muito um tema de realidade brasileira, que tem na prova objetiva. Então, olhar para a questão racial no Brasil, dos povos indígenas, pessoas com deficiência, LGBT, população em situação de rua… Todas as circunstâncias levam para um tema nesse sentido.”
“Pode ser também que a banca traga um tema mais geral, de desigualdade no país, e ainda assim o candidato vai conseguir levar esses grupos minoritários para o texto”, continua.
“Outro ponto que o Brasil é muito protagonista é na questão ambiental, então eu olharia também os 17 objetivos da ONU de desenvolvimento sustentável”, indica o especialista.
A empresa responsável pela elaboração das provas do “Enem dos concursos” é a Fundação Cesgranrio. No entanto, o professor não recomenda que os alunos estudem redação com base em temas anteriores da banca.
Isso porque, nos últimos anos, o foco da instituição foram processos seletivos de bancos. “Você vai encontrar temas bancários e isso acaba sendo pouco proveitoso”, diz.
Uma alternativa, segundo Gracioli, é treinar redação a partir de temas cobrados pelo próprio Enem.
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Dicas de conteúdo
Para o professor Rodolfo, a estrutura do texto “é receita de bolo, não tem muito segredo”. O grande desafio do candidato vai ser se destacar pelo conteúdo da redação, ao trazer dados e fontes fidedignas.
O especialista explicou que, além do tema central, o enunciado da redação deve trazer textos motivadores, que podem ser tirinhas, charges, notícias ou outros tipos de texto, que vão ajudar o candidato a entender melhor o assunto e a não fugir da proposta.
Apesar disso, a recomendação é não utilizar diretamente nenhuma informação desses textos. “Tem gente que até transcreve uma parte e isso é ruim, pode gerar um prejuízo de nota. O candidato precisa levar um repertório próprio, com dados, conceitos, depoimentos de autoridades.”
“E todo conceito diferente que ele apresenta, precisa detalhar. Não posso partir do pressuposto que o examinador sabe o conceito e tenho que mostrar que domino o assunto. E sempre com clareza e objetividade, sem ser prolixo”, continua.
Para apresentar a proposta de intervenção, o professor também deu algumas dicas: “Eu não tenho que dar conta de todo o problema, mas trazer um apontamento que seja possível de ser realizado.”
“O edital fala muito de políticas públicas, então vale colocar os Três Poderes na jogada. Pensar sempre em educação também. Uma proposta de educação política, ambiental, financeira… O candidato só precisa falar que é uma medida a longo prazo, porque envolve mudança de comportamento da sociedade”, aconselha.
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Rascunho e controle do tempo
Os candidatos de nível médio (público que fará a redação do “Enem dos concursos”) terão 2h30 para elaborar o texto e responder 15 questões de múltipla escolha de língua portuguesa, no período da manhã.
Assim, o ideal é que o participante gaste entre uma hora e uma hora e meia na redação, afirma o professor do Estratégia Concursos. E fazer um projeto do texto pode ajudar a acelerar o processo.
“Não é necessariamente fazer um rascunho do texto completo. Por conta do tempo, isso nem sempre é possível. Então, o candidato pode rabiscar um esqueleto, colocar em tópicos o que vai ter na introdução, desenvolvimento e conclusão.”
“Ele não deve começar um parágrafo sem ter pensado no outro. Precisa pensar no texto como um todo e sempre voltar no comando, na proposta, para ver se está de acordo com o tema”, orienta Gracioli.
O que faz zerar
A avaliação da redação do CNU será feita a partir dos critérios a seguir, segundo o edital:
adequação ao tema proposto;
adequação ao tipo de texto solicitado;
emprego apropriado de mecanismos de coesão (referenciação, sequenciação e demarcação das partes do texto);
capacidade de selecionar, organizar e relacionar de forma coerente argumentos pertinentes ao tema proposto;
pleno domínio da modalidade escrita da norma-padrão (adequação vocabular, ortografia, morfologia, sintaxe de concordância, de regência e de colocação).
O candidato vai obter nota zero e, consequentemente, ser eliminado do concurso, se:
fugir ao tipo de texto em prosa dissertativo-argumentativo;
fugir ao tema proposto;
apresentar texto sob forma não articulada verbalmente em língua portuguesa (apenas com desenhos, números e palavras soltas ou em forma de verso);
assinar e/ou apresentar qualquer sinal que, de alguma forma, possibilite a identificação do(a) candidato(a);
escrever a redação a lápis, em parte ou na sua totalidade.
De acordo com o edital, a redação deve ser escrita com caneta esferográfica de tinta preta, fabricada em material transparente, e qualquer anotação fora do local apropriado será desconsiderada.
Em caso de rasura, “a recomendação é fazer um risco na palavra que errou e continuar o texto em seguida, sem puxar setinha, fazer algo muito chamativo”, orienta o especialista do Estratégia Concursos.
Modelo de redação
O professor Rodolfo Gracioli criou um possível tema de redação do “Enem dos concursos”, com base no conteúdo programático da prova, e fez um texto-modelo, que você lê a seguir.
A população em situação de rua no Brasil: qual a responsabilidade do Estado e da sociedade na superação de tal mazela social?
Introdução: Ao longo da história, o conceito de cidadania sofreu amplas transformações, deixando grupos à margem dos direitos fundamentais. Assim, hodiernamente, há uma grave invisibilização da população em situação de rua, mazela social agravada pela ineficiência de políticas públicas e pelo descaso da sociedade.
Desenvolvimento: Com efeito, o histórico despreparo por parte do Estado com relação às pessoas em situação de rua explica o agravamento de tal problema social de elevada complexidade. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a população em situação de rua cresceu mais de 10 vezes em uma década, superando os 260 mil indivíduos, em pequenas, médias e grandes cidades. Nesse sentido, o Estado brasileiro viola um dos direitos sociais, artigo 6º da Constituição Cidadã, que trata da assistência aos desamparados, afetando a concepção de cidadania, dignidade dos cidadãos e violando os direitos humanos.
Além disso, há uma parcela de responsabilidade da sociedade no problema relativo a população em situação de rua, o que amplia a exclusão social de tal grupo minoritário. Por isso, a Política Nacional de Trabalho Digno e Cidadania para a População em Situação de Rua (PNTC PopRua) surge como estratégia de promoção de direitos. Dentre as estratégias previstas na PNTC PopRua constam a qualificação profissional e mecanismos que garantam acesso ao trabalho e à renda, o que busca desconstruir visões limitadas sobre os cidadãos que vivem em situação de rua, integrando-os e garantindo o direito à cidade.
Conclusão: Portanto, é urgente o debate sobre a vulnerabilidade da população em situação de rua. Para isso, a efetivação dos direitos previstos na Carta Magna, somado aos dispositivos criados a partir da PNTC PopRua e a integração da sociedade ao debate, são elementos constitutivos para o enfrentamento do problema social. Com isso, evidencia-se o pensamento aristotélico de “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade”, sendo o Estado e a sociedade a combinação estratégica para vias garantidoras da cidadania para os indivíduos hoje vulnerabilizados.
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