Mais de 4,5 mil crianças nasceram com microcefalia no Brasil desde 2015, quando o primeiro caso relacionado ao zika vírus foi identificado. Mães contam como é a vida dessas crianças ao longo desta década. Os dez anos da epidemia de zika: como estão as crianças que nasceram com microcefalia?
Entre 2015 e 2017, o Brasil virou notícia no mundo por causa do número de crianças nascidas com microcefalia. A medida da cabeça dos bebês era menor que 32 centímetros. O cérebro não se desenvolvia, deixando sequelas irreversíveis.
Na época, o país enfrentava um surto de zika, doença transmitida pelo mosquito aedes aegypti, o mesmo da dengue e da chicungunya. A primeira evidência de que a microcefalia era provocada pela zika veio de Campina Grande, no interior da Paraíba.
A médica Adriana Melo, especialista em medicina fetal, estranhou a ultrassonografia de Ceiça, que esperava a primeira filha, Catarina: “Me chamou a atenção o cerebelo, que é a parte posterior da cabeça, que era mais fino que o habitual”, conta a médica.
Essa seria uma alteração genética, mas o cérebro de Catarina também tinha calcificações que, normalmente, são cicatrizes provocadas por outro motivo: infecções. A mãe, Ceiça, tinha tido zika.
Foi o alerta que precisava para que médicos e cientistas começassem a entender outros casos que surgiam pelo país: 4.595 crianças nasceram com microcefalia no Brasil desde 2015, a maioria no Nordeste.
Como estão as crianças que nasceram com microcefalia?
Catarina foi a primeira criança no Brasil a ser diagnosticada com a síndrome congênita do zika vírus.
“O mundo desabou nas nossas cabeças porque um mosquito pequeno que poderia ter sido evitado. É devastador na vida de uma pessoa”, diz Ceiça, mãe de Catarina.
Como estão as crianças que nasceram com microcefalia dez anos depois
Reprodução/Fantástico
Ravi nasceu há apenas 7 meses e recebeu o mesmo diagnóstico: microcefalia provocada pelo vírus da zika.
“Minha família não tem mãe atípica, sou a primeira. Mas é um amor enorme que a gente tem por eles”, diz Samara, mãe do Ravi.
O diagnóstico do Ravi, em Minas Gerais, responde a uma pergunta feita com frequência: sim, mesmo que em menor quantidade, continuam nascendo crianças com microcefalia por causa da zika. A explicação pode estar nos problemas que não foram resolvidos. O Brasil não conseguiu se livrar do mosquito transmissor da zika e nem de um conjunto de fatores que deixam mães e filhos vulneráveis ao vírus: a falta de saneamento básico é um deles.
Assim, Brasil afora, milhares de famílias têm marcas deixadas pelo zika.
“Levei num neuro, perguntei pra ele o que era microcefalia. Ele: ‘microcefalia é tudo de ruim que você imaginar’. Aí perguntei: ‘por quê?’. Ele falou assim: ‘a sua criança não vai andar, não vai enxergar, não vai escutar. Era melhor deus ter levado a sua filha”, recorda Joselânia, mãe da Anna Cristina.
“A maior dor é não escutar ela chamar mamãe. Essa dor vou carregar pra sempre. Isso aí o zika vírus me roubou, a oportunidade de ver minha filha chamar mamãe”, lamenta Nadja, mãe da Alice.
Pelo menos 267 crianças diagnosticadas com a síndrome morreram de 2025 pra cá.
“Eu olho pra trás, eu digo assim: meu Deus, mesmo vendo ela assim, todo sacrifício, toda dificuldade pra sobreviver… Eu digo: obrigada, meu Deus, por ter conseguido de manter minha filha viva até hoje, estar comigo até hoje”, se emociona Nadja.
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