24 de outubro de 2024

Ouvidor da polícia repudia ação da PM em velório e analisa conduta do Baep na periferia de Bauru: ‘Caos instalado’

Cláudio Aparecido da Silva ouviu familiares de dois jovens, de 18 e 21 anos, mortos durante ação da polícia no Jardim Vitória. 11 pessoas já morreram em Bauru apenas em 2024 em decorrência de intervenções policiais. Ouvidor da polícia repudia ação da PM em velório e analisa conduta do Baep na periferia de Bauru
Andressa Lara/TV TEM
Um ouvidor da Polícia Militar do estado de São Paulo esteve em Bauru (SP) nesta quarta-feira (23) para ouvir as famílias de dois jovens, de 18 e 21 anos, mortos durante uma intervenção policial no Jardim Vitória, no dia 17 de outubro.
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Cláudio Aparecido da Silva ouviu as famílias e o comandante do Comando de Polícia do Interior – 4 (CPI-4), Coronel Hudson Covolan. Em coletiva de imprensa realizada nesta tarde, o ouvidor analisou a conduta do Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) na periferia de Bauru.
“A nossa percepção do diálogo com os familiares e com a polícia é de que tem um caos instalado nas periferias de Bauru e esse caos está sendo gestado e promovido pelos policiais do Batalhão de Ações Especiais e a Polícia (Baep), e isso é incabível. O papel principal da polícia é proteger as pessoas. Não pode ser quem promove a desordem e quem deixa as pessoas em pânico; deveria ser o contrário”, disse em entrevista à TV TEM.
Cláudio também classificou como absurda a ação da PM no velório de um dos jovens mortos. No dia 18 de outubro, enquanto os corpos eram velados, o irmão e a mãe do jovem de 18 anos foram agredidos por PMs.
Mãe e irmão de jovem morto durante ação policial são agredidos por PMs durante velório
O irmão do jovem que morreu baleado chegou a ser detido e levado para a delegacia, mas foi liberado após o registro da ocorrência por desacato, resistência e abuso de autoridade.
“É extremamente condenável. O próprio comandante do CPI-4 também condenou essas atitudes. Ele declarou que já instaurou um inquérito policial militar, que é um procedimento rigoroso de atuação, uma vez que o próprio Ministério Público acompanha. A gente enxerga isso como um absurdo que não pode ser cometido. O velório é um momento sagrado, um momento de despedida da família, que precisa ser carregado de paz e tranquilidade, para que os familiares possam fazer uma despedida decente e qualificada do seu ente querido”, disse o ouvidor.
Casos recorrentes
Segundo apurado pela TV TEM, 11 pessoas já morreram em Bauru apenas em 2024 em decorrência de intervenções policiais. Todas eram homens, sendo nove deles pretos ou pardos.
13º Baep de Bauru
Baep/Divulgação
Este é o maior número desde o início das divulgações pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), que começaram em 2013. Em 2023, o número de mortes ao longo do ano foi de oito pessoas.
Cláudio Aparecido ainda afirmou que deve acionar o comandante-geral da polícia para discutir questões relacionadas ao Baep. Segundo o ouvidor, 95% dos problemas de conduta policial em Bauru vêm dessa repartição.
“É relevante dizer que essas questões que levantamos hoje chegam apenas da periferia. Nos bairros nobres, onde vive a burguesia da cidade, não há reclamações em relação ao Baep”, explicou Cláudio.
Menino ferido com granada
Um acidente na tarde do dia 20 de outubro foi registrado como desdobramento do caso. Uma granada de efeito moral explodiu na mão de um jovem de 13 anos dentro de sua residência, em Bauru.
Adolescente fica ferido após granada explodir em sua mão em Bauru
Arquivo pessoal
Segundo familiares, o jovem encontrou o artefato na Avenida Castello Branco, onde, no dia 18, moradores faziam protestos contra a morte dos dois jovens e a polícia interveio com bombas de efeito moral.
Sobre o caso, o ouvidor disse que teve conhecimento apenas nesta quarta-feira durante as reuniões.
“Nós tomamos conhecimento desse fato hoje. Também dialogamos com o comandante sobre isso, e ele alegou que tratava-se de um artefato que foi dispensado pela equipe para desfazer o protesto ou a aglomeração, e que provavelmente houve um erro, uma falha do artefato, que ficou jogado lá e ocasionou esse fato lamentável. Isso também está sendo objeto de inquérito da Polícia Militar”, finalizou Cláudio.
Granada teria sido deixada no local durante protesto em Bauru
Arquivo pessoal
A TV TEM entrou em contato com o Batalhão de Ações Especiais da Polícia (Baep) para pedir um posicionamento sobre as declarações do ouvidor, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) afirmou apenas que a Polícia Militar instaurou um inquérito para investigar a conduta dos envolvidos e que um dos agentes foi afastado das atividades operacionais.
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