Oferta de tratamento para pacientes com a doença diminuiu em várias unidades. No Hospital do Andaraí, as consultas oferecidas diminuíram 86%. Pacientes da rede federal no Rio sofrem com adiamento de sessões de quimioterapia
A oferta de tratamento para pacientes oncológicos nos hospitais federais do Rio sofre redução há cinco anos. Em uma das unidades, as consultas oferecidas diminuíram 86%. Enquanto o governo federal e outras esferas não apresentam uma solução, os pacientes vivem uma espera dramática, inclusive com sessões de quimioterapia atrasadas.
Tânia Tavares, paciente do Hospital do Andaraí, conta que só nesta segunda-feira (29), telefonou 74 vezes para o hospital. O marido dela também ligou mais 53 vezes e ninguém atendia. Eles tentavam obter informações se poderia retomar as sessões de quimioterapia, que estão atrasadas.
“A última químio que eu fiz foi 14 de março. Já perdi duas. E é um problema que não é de agora. Ano passado faltou remédio, em fevereiro agora faltou remédio, agora em abril de novo. E o câncer não espera. O câncer vai tomando conta do corpo. Pra mim sobreviver eu preciso da quimioterapia, coisa que eu não estou tendo”, conta.
Já a sessão da Cláudia Bandeira nesta segunda deveria ter sido feita com dois tipos de quimioterápicos, mas só havia um medicamento. Claudia ficou tão abalada que não conseguiu falar e a filha foi a porta-voz.
“Quando a gente recebe esse diagnóstico de câncer a gente já tem que lutar por tanta coisa que eu não acho justo a gente ainda ter que ficar rezando para o remédio chegar- esse é o mínimo. O tratamento é o mínimo. É a dignidade da pessoa”, diz a filha de Cláudia, Luiza Bandeira.
Os números da crise
Que há uma crise na rede federal de saúde todos sabem. Mas o tamanho dela surpreende a cada dia. O governo do Estado do Rio fez um relatório para o Ministério Público Federal sobre a situação do atendimento nos 6 hospitais da rede federal do Rio e nas três unidades do Inca. É um demonstrativo das consultas oncológicas.
No Hospital do Andaraí, houve, no ano passado, uma redução de 86% nas consultas ofertadas, em relação à 2018.
A redução também ocorreu no Hospital dos Servidores. As consultas até vinham aumentando desde 2018, mas caíram pela metade no ano passado pela falta de profissionais especializados. Em relação a 2018, a queda foi de 24%.
No Hospital de Ipanema houve redução de 36% nas consultas oncológicas. O Hospital Geral de Bonsucesso teve queda de 24% e a rede Inca perdeu 33% das consultas de uma maneira geral.
O Ministério da Saúde discute como resolver a crise e estuda estratégias como gestão compartilhada, das unidades. Mas, como a própria ministra da Saúde Nísia Trindade disse na semana passada, o modelo ainda está sendo definido.
O Hospital de Bonsucesso já está sendo gerido pela Fiocruz e pelo grupo hospitalar Conceição – a maior rede pública de hospitais do sul do país, vinculada ao Ministério da Saúde.
Nesta segunda, houve mais um anúncio: o departamento de gestão hospitalar da rede federal do Rio tem nova diretora: Teresa Cristina Navarro Vannuci – que era subsecretaria municipal de Saúde do Rio.
“O meu objetivo é a gente recompor a nossa força de trabalho, o quanto antes, a compra de insumos centralizado, retomar as obras que estão paradas nesses hospitais, com o objetivo final de a gente conseguir devolver pra população essa média e alta complexidade que é mto importante”, diz Teresa.
Ela também promete a abertura de vagas de internação nos próximos dias. “A gente vai colocar em pratica nos proximos dias, de abertura desses leitos, de uma forma bem equitativa, bem igualitaria pra fazer os leitos funcionarem de forma mais rápida possível”, acrescenta.
A comissão de saúde da Câmara de Vereadores do Rio cobra transparência do Governo Federal. Nesta segunda, fez uma audiência pública que tentava esclarecer várias dúvidas em relação aos hospitais federais. Mas nenhum representante do Ministério da Saúde apareceu.
“Lamento profundamente o MIS tão democrático, de um governo tão democrático, não vir a essa reunião. Esses 6 hospitais, têm que ser geridos pelo próprio MIS, com concurso público, imediato, pra suprir as vagas necessárias. Com a compra de insumos pelo MIS, como sempre aconteceu e precisa acontecer novamente e, com as obras necessárias. Isso não precisa terceirizar”, diz o vereador Paulo Pinheiro, do Psol.
Enquanto a situação não se define, pacientes vivem uma espera desumana.
“A gente já tem que ter tanta força pra lutar contra essa doença que é tão cruel, e a gente a gente ainda tem que lutar contra esse sistema que não funciona. Porque isso é direito. Parece que a gente passa o dia pedindo favor, isso não é favor, a gente sabe que não é favor. Eu só quero tratamento da minha mãe, quero minha mãe bem comigo em casa”, diz Cláudia.
“Eu quero viver, mas os governantes do Brasil Não estão dando condições nenhuma de sobrevivência.Eu quero sobreviver porque esses governantes não fazem alguma coisa pra isso. Muda política, muda a diretoria, crise, e aí? A gente quer mais pobre que vai pagar o pato. É muito cruel isso”, diz Tânia.
O que diz o Ministério
O Ministério da Saúde disse que a nomeação de Teresa Navarro para o departamento de gestão hospitalar tem como objetivo fortalecer e aprimorar a administração dos hospitais federais do Rio e que conforme a ministra da saúde, Nísia Trindade, tem informado não haverá qualquer tipo de fatiamento da gestão dos hospitais.
Segundo o ministério, o comitê gestor dos hospitais federais tem adotado medidas para assegurar a eficiência das unidades, de forma a garantir assistência de qualidade à população. Isso inclui a reorganização de processos, gestão mais eficiente, melhoria da infraestrutura e agilidade na aquisição de insumos e medicamentos.