23 de setembro de 2024

Pacientes do interior de SP que receberam doações de órgãos comemoram nova chance de vida: ‘Ato de amor’

A campanha ‘Setembro Verde’ tem o objetivo de conscientizar e incentivar a doação de órgãos. A ação salva vidas, mas encontrar doadores e conseguir a autorização das famílias para as doações são algumas das dificuldades enfrentadas pelos profissionais da saúde para o processo. Doações de órgãos podem salvar vidas.
Leonardo Barreto/g1
Setembro é marcado como o mês da conscientização e de incentivo à doação de órgãos, por meio da campanha ‘Setembro Verde’ 💚🩺. Uma ação que salva vidas, mas um privilégio que nem todos conseguem ter.
A espera para conseguir um doador e encontrar pessoas que façam a doação, ou famílias que autorizem a doação, são empecilhos para o processo. Apesar das dificuldades, os pacientes que conseguem um novo órgão comemoram o transplante como um recomeço de vida.
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Adilson Ribeiro de Campos é de São José dos Campos, interior de SP, e há pouco mais de sete anos realizou o transplante de um rim. E a ajuda veio da própria irmã, Eliana Campos. O motorista aposentado conta o que o levou a precisar de um rim novo.
“Eu trabalhei como motorista de caminhão por 30 anos e viajava muito. Nessas viagens, não me alimentava direito, comia em horas erradas, não bebia água, e logo comecei a sentir os efeitos do meu problema, e foi nos rins, pois já não estavam mais filtrando sangue. Quando os médicos falaram do transplante, minhas irmãs começaram a fazer os exames para saber se tinha alguém compatível, e a minha sorte é que tinha”, disse.
Adilson com sua irmã e doadora Eliane, após o transplante do rim.
Arquivo pessoal
Após um ano e meio fazendo hemodiálise, Adilson pôde fazer a cirurgia. Foi um processo tranquilo, e hoje ele já leva uma vida normal.
“Tive que me adaptar a algumas restrições no início, mas hoje tenho minha vida normal. É só não abusar, não bebo, não fumo e sigo uma alimentação adequada. Faço minhas consultas de seis em seis meses e está tudo certo, tudo funcionando certinho”, ressaltou.
“Eu consegui a doação, mas muita gente não consegue. Tem quatro meses que perdi meu irmão Rogério, ele necessitava de um doador de coração e, infelizmente, não teve tempo. Após a morte dele, ele salvou vidas doando suas córneas. É um ato de amor e de extrema importância. O que eu tenho para falar sobre doação é: doe. Muitas vidas serão salvas”, disse Adilson.
Ana Lúcia logo após a cirurgia da córnea, em março de 2022
Arquivo pessoal
‘Amor ao próximo’
Ana Lucia da Costa é de Taubaté, e há dois anos e meio realizou um transplante da córnea. Ela teve uma úlcera há 20 anos e ao cicatrizar tomou 80% de seu órgão, e além de muitas dores, Ana não conseguia enxergar normalmente.
Após seis meses na fila de espera, ela conseguiu realizar o transplante. E hoje, não tem mais as limitações do passado, e nem a necessidade de se medicar.
“Desde a cirurgia eu não uso mais nenhum medicamento, nem colírio anti-inflamatório, e não tive infecção nem nada. A sensação de ter essa segunda chance é indescritível. No meu caso não era risco de morte, mas eu não enxergava, tinha dores, muitas limitações. Então essa chance de fazer o transplante e dar tudo certo foi muito boa, eu não consigo nem descrever como foi”, contou.
Ana era cabelereira autônoma, mas hoje, com 61 anos, está aposentada. Dois anos após conseguir ter a visão renovada, ela ressalta a importância do ato de doar.
“A doação é dar a outro, aquele que está há muito tempo na fila de espera, que com ansiedade espera o telefone tocar, para ver se saiu a chance de vida. Aquele que é doador é uma pessoa de extrema empatia e demonstra amor ao próximo”, disse.
Equipe médica da HRBA realizando mais um procedimentos de captação de órgãos
Ascom / HRBA
Importância da conscientização
O processo desde o diagnóstico até o transplante não é simples e pode ser demorado. É necessário encontrar doadores disponíveis e aptos, e no caso do doador morto, a família precisa autorizar as doações.
Após isso, é feita a captação dos órgãos e o transplante para os receptores. Atualmente, no país, mais de 64 mil pessoas estão na fila para receber um órgão, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO).
A coordenadora da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), do Hospital Regional de São José dos Campos, explica como é feito o processo da captação dos órgãos, etapa crucial para a doação.
“A captação segue um protocolo rigoroso. Primeiro, um diagnóstico de morte encefálica é feito e, com a autorização da família, a equipe multidisciplinar realiza a preservação dos órgãos e manejo do potencial doador. Em seguida, é organizada a captação e transplante dos órgãos até os receptores, fazendo a verificação e acompanhamento das filas de espera com indicação de transplante”, disse Mayara Rosa.
Profissionais do Hospital Regional de São José dos Campos com o prêmio ‘Amigo do Transplante: Destaque de Notificações’ recebido no início do mês
Divulgação/HRSJC
Mayara Rosa também explica que a seleção dos doadores e receptores é feita em critérios específicos, e após essa etapa, o objetivo é a agilidade no processo da captação dos órgãos.
“Para os receptores, fatores como compatibilidade sanguínea, compatibilidade de tecidos, urgência do caso, e tempo de espera, são levados em consideração. Já os doadores passam por avaliações que analisam a viabilidade dos órgãos, excluindo doenças infecciosas ou condições que possam comprometer o sucesso do transplante. O processo precisa ser extremamente ágil, pois cada órgão tem um tempo limitado de viabilidade fora do corpo”, ponderou.
Ainda de acordo com a coordenadora, o coração e os pulmões devem ser transplantados em 4 a 6 horas após a captação. Já o fígado e os rins têm um tempo maior, mas ainda é necessário a coordenação rápida. A logística de transporte rápido e a preservação e manutenção do potencial doador são alguns dos desafios do processo.
O Hospital Regional de São José dos Campos ganhou recentemente o prêmio ‘Amigo do Transplante: Destaque em Notificação’, como o hospital que mais notificou pela Organização de Procura de Órgãos, da Unicamp, em Campinas. A premiação ocorreu durante o III Encontro das Comissões Intra-Hospitalares de Transplantes do Estado de São Paulo, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, e faz parte das comemorações do Setembro Verde.
Mayara Rosa e Matheus Feitosa, enfermeiro intensivista, durante premiação em SP
Divulgação/HRSJC
Ao todo, desde a inauguração em 2019, o hospital já recebeu 535 doações, sendo oito corações, oito pulmões, 29 fígados, quatro pâncreas, 60 rins e 426 córneas.
Apesar de todo o trabalho e dos desafios de logística, o maior impasse é mesmo a autorização familiar para a doação. Ainda de acordo com a ABTO, 45% das famílias não autorizaram a doação dos órgãos nos primeiros seis meses deste ano no Brasil.
Para algo tão delicado, após a morte dos pacientes, a abordagem com as famílias para dar continuidade com o processo da doação precisa ser feita com a maior humanidade possível.
“A abordagem é feita de forma humanizada e respeitosa, pois precisa ser feita logo após o diagnóstico de morte encefálica do paciente. O psicólogo hospitalar é um profissional muito importante para acompanhamento desde do início dos testes clínicos para a realização do diagnóstico até a abordagem pelos enfermeiros e médicos. A família é acompanhada em todas as fases do processo, sendo oferecido suporte emocional para todas elas”, completou.
Vanguarda Comunidade: Programa de hoje fala sobre doação de órgãos
🩸 Como se declarar doador?
Desde abril deste ano, quem quer ser doador de órgãos pode manifestar e formalizar a sua vontade por meio de um documento oficial, feito digitalmente, reconhecido em cartório.
➡️ O processo é completamente digital, a partir site www.aedo.org.br . Basta acessar o formulário, preencher e enviar. Depois disso, o documento é enviado a um cartório que vai acionar o doador para confirmar os dados em uma chamada de vídeo. A declaração não tem custo.
Depois da declaração, a Central Nacional de Doadores de Órgãos vai saber, a partir da consulta por CPF, que a pessoa é doadora e, com isso, avisar a família antes da decisão.
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