22 de janeiro de 2025

Pacientes que tiveram câncer de laringe relatam dificuldade para conseguir insumos médicos em Sorocaba; entenda o procedimento


Tratamento consiste no uso de um filtro, trocado diariamente, no local da incisão no pescoço do paciente. Cada caixa contendo 30 filtros custa entre R$ 2 mil e R$ 9 mil, e a prefeitura costumava fornecê-los gratuitamente. Pacientes que tiveram câncer e fizeram cirurgia na laringe relatam dificuldade para conseguir insumos médicos em Sorocaba
Arquivo pessoal
Pacientes diagnosticados com algum tipo de câncer de cabeça e pescoço, que atingem a boca, língua, nariz ou a garganta, podem ser submetidos a uma cirurgia que remove parte ou toda a laringe a partir de uma incisão feita no pescoço. Em Sorocaba (SP), eles relatam dificuldades para conseguir insumos médicos após o procedimento.
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Essa cirurgia, apesar de benéfica por conseguir retirar o câncer, também causa uma sequela que vai acompanhar os pacientes pela vida toda: a vulnerabilidade das vias aéreas.
O procedimento, que deixa um tipo de “buraco” no pescoço dos pacientes, chama-se laringectomia total, e, para entender como ela pode ajudar as pessoas, mas também exigir delas alguns cuidados, o g1 conversou com a fonoaudióloga e especialista em reabilitação de pacientes laringectomizados Karen Souza, que explicou que o tratamento requer o uso diário de insumos médicos.
“Quando um paciente faz a cirurgia, ele desfaz a ligação entre o nariz e o pulmão, então ele começa a respirar por um orifício no pescoço, perde a função do nariz de filtragem do ar. Toda a sujeira, qualquer inseto ou qualquer coisa pode entrar no buraco e ir direto para o pulmão. Estes insumos médicos são o que vão proteger a via respiratória destes pacientes”, explica a especialista.
Fonoaudióloga de Sorocaba (SP), Karen Souza, fala sobre reabilitação de pacientes laringectomizados
Karen Souza/Arquivo pessoal
Uma vez que o paciente perde a função de filtragem do nariz, ele precisa utilizar um filtro artificial no local da incisão, que é colocado junto de um adesivo.
Este kit, que é composto por adesivos mais os filtros, segundo Karen, precisa ser trocado todos os dias. Cada caixa deste insumo contém 30 filtros e custa entre R$ 2 mil e R$ 9 mil, se adquirida diretamente nas empresas que a fornecem.
Se o paciente não utilizar estes filtros, pode desenvolver infecções respiratórias e ter aumento de secreção ao respirar ar poluído. Em alguns casos, estas infecções podem se agravar e, até mesmo, causar morte, especialmente de pessoas que têm histórico de câncer na via respiratória, também destaca a fonoaudióloga.
Lenço no lugar do filtro
Paciente de Sorocaba (SP) que fez cirurgia na laringe usa lenço no local da incisão pois não consegue comprar filtros
Sebastião Silva/Arquivo pessoal
O aposentado Sebastião Carlos da Silva, de 60 anos, morador de Sorocaba, teve câncer de laringe em 2012, devido aos 37 anos de uso de tabaco. Ele fez a cirurgia de remoção da laringe em 2014 e, desde então, precisa utilizar um filtro no local da incisão para evitar infecções.
Apesar de necessitar do insumo, o idoso não consegue comprá-lo para usar com a frequência necessária. Portanto, utiliza um tipo de lenço amarrado no pescoço, que também é trocado diariamente.
“Eu não estou comprando, pois não tenho condições de comprar, devido ao valor, que é um pouco alto. Uso um lenço para minimizar um pouco, mas, com o uso dos filtro e adesivos é melhor, pois, além de respirar melhor, evita que eu tenha uma pneumonia ou, até mesmo, a entrada de insetos, pois fica aberto”, conta.
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‘Desafios logísticos’
De acordo com Sebastião, a Prefeitura de Sorocaba costumava disponibilizar o kit de adesivos e filtros gratuitamente à população, mas parou de fazer isso. A última vez que ele recebeu os insumos foi em janeiro de 2024.
A especialista Karen Souza também afirma que existem duas empresas que fornecem estes insumos para as prefeituras, uma multinacional e outra nacional, e que o material deveria ser distribuído pela prefeitura, uma vez que os pacientes teriam este direito garantido por lei.
Pacientes que tiveram câncer e fizeram cirurgia na laringe relatam dificuldade para conseguir insumos médicos em Sorocaba
Arquivo pessoal
Em nota enviada ao g1, a prefeitura informa que o município está enfrentando “desafios logísticos” relacionados à aquisição destes insumos, devido à limitação de fornecedores especializados que operam com critérios técnicos rígidos e uma demanda crescente no país.
A pasta também informa que aguarda a confirmação das entregas por parte dos fornecedores para que a distribuição aos pacientes possa ser retomada de forma eficiente.
“Atualmente, os insumos em questão são fornecidos pelas empresas Coloplast e ATOS. A Secretaria da Saúde (SES) ressalta que se tratam de produtos com mercado restrito, concentrados em poucos fabricantes, o que limita a concorrência e dificulta a aquisição em larga escala. Vale destacar que esses produtos não estão incluídos na lista de itens padronizados para dispensação livre na Rede de Atendimento de Sorocaba e são fornecidos exclusivamente para o cumprimento de Mandados Judiciais, conforme determinação legal.”
A nota ainda acrescenta que, com o término das férias dos fornecedores e a retomada das operações logísticas em âmbito nacional, estima-se o reabastecimento dos estoques em breve, além de que essa situação não é específica de Sorocaba, mas um reflexo de um problema mais amplo, causado pela concentração de mercado em poucos fornecedores e pela alta demanda nacional por esses insumos.
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