Em maio de 2023 a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou fim da emergência em saúde pública pela doença. Índice de letalidade do Amapá foi o segundo menor do país. Pandemia de Covid completa 4 anos no Amapá
Reprodução/g1
Neste mês de março de 2024, o decreto da pandemia de Covid-19 completou 4 anos no estado do Amapá. No mês de maio do ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou que a emergência havia chegado ao fim, devido à redução significativa de casos da doença.
A organização divulgou que o estado do Amapá foi o segundo com a menor taxa de letalidade do país. Apesar da alta em internações e mortes registrados no ano de 2022, relacionado à variante ômicron, as estatísticas não apresentaram mais os valores muito elevados, como os do pico da pandemia.
No período em que a Covid-19 foi classificada como pandemia, mais de 4 mil pessoas já tinham morrido pela doença no mundo. Em 4 anos, mais de 7 milhões de pessoas foram mortas pelo vírus.
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Apesar do fim, a pandemia deixou marcas de sofrimento na população amapaense, que foi a única a enfrentar uma pandemia global e um apagão total simultaneamente, além do luto repentino e da não autorização de um funeral adequado aos entes queridos, por questões de segurança.
Alguns dos profissionais da saúde do estado que atuaram na linha de frente no momento da maior incidência de casos, deram depoimentos ao g1 sobre a experiência profissional e o fortalecimento mental que precisavam desenvolver para o momento.
A enfermeira Lilian Vergara, relata sobre o alívio do pior momento já ter passado, mas que, quando tudo aconteceu, havia um grande medo de uma doença ainda desconhecida, mas Lilian tinha a certeza que precisava ajudar quem passava por aquele momento.
“Não sabíamos o que seria a doença e como ela viria a se comportar nesse cenário caótico, e nessa nossa rotina de entra e sai de pacientes e óbitos, a equipe tinha muito medo do desconhecido, mas tínhamos uma única certeza, a certeza pela vida, de salvar vidas a todo o custo”, disse a enfermeira.
Ela relatou ainda que mesmo atuando diariamente tão próxima à pacientes infectados, nunca contraiu a doença, e que seu outro grande medo era contaminar sua família, qual teve que se distanciar nesse período.
“Nós tínhamos cuidado conosco e com a nossa família, de ir pra casa e ter a certeza de não contaminar os nossos familiares, era tudo feito com muito cuidado e atenção. Hoje passaram-se 4 anos e vemos que fomos pelo caminho correto”, finalizou Lilian.
Dorinaldo Malafaia e Waldez Góes, então governador do Amapá
GEA/Divulgação
O deputado federal do Brasil, Dorinaldo Malafaia, filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), estava atuando no Amapá no período da pandemia, à frente da Superintendência de vigilância em Saúde (SVS).
Ele explicou todo o processo pandêmico, de crises e controles, desde às primeiras notícias até as altas de mortes e o decreto do fim da emergência. Ele relembra quando recebeu a ligação que o informou sobre a situação do Amapá.
“Eu estava chegando em Macapá , de uma reunião em Brasília e recebi uma ligação do governador da época, avisando para eu me preparar pela situação que iríamos enfrentar. Tive a primeira informação de que nós estávamos entrando no processo de pandemia, eu fiquei muito abalado, mas imediatamente reunimos todos os segmentos de saúde para criar um plano de contenção”, explicou.
Malafaia destacou ainda que os representantes da saúde ainda não compreendiam a dimensão da doença e suas consequências, por se tratar de um novo vírus.
Por ser de uma doença proveniente de um país distante, no primeiro momento a população questionou a necessidade das medidas como máscaras e álcool, distanciamento social e outras, além da veracidade do assunto.
Não demorou muito tempo para o Amapá registrar a primeira morte por covid-19, um pontapé inicial para uma perda massiva de vidas por conta da doença.
“Muitos questionaram sobre a veracidade e muita gente não acreditava no lockdown e isolamento, depois disso vieram as mortes, de amigos e famílias, famílias inteiras foram se perdendo, fomos avançando no número de mortes muito rapidamente. Eu era a pessoa que sabia a quantidade dessas pessoas, doentes, internadas e das vidas perdidas, que aumentavam a cada dia.” disse Dorinaldo.
Relembre as etapas do que aconteceu nos últimos 4 anos
Lockdown, isolamento e medidas
Lojas fechadas no Centro Comercial de Macapá por conta do Lockdown
Rede Amazônica
Em maio de 2020, foi decretado o lockdown em todo o estado, onde podiam apenas estar nas vias apenas aqueles trabalhadores de serviços essenciais ou situações de emergência. Também foram adotadas barreiras para conter a circulação de pessoas nas ruas sem necessidade.
O prefeito da época, Clécio Luís, e o Governador Waldez Góes, se reuniram para anunciar a medida de emergência, além da obrigatoriedade do uso de máscaras em locais abertos e fechados.
Houve uma limitação no rodízio de veículos, que eram monitorados, além de barreiras sanitárias, proibição da circulação em praças e parques, e realização de testes rápidos nos vizinhos dos infectados, que aconteceu apenas no início, já que depois não foi possível acompanhar devido ao rápido crescimento dos casos.
Novas unidades para tratamento
Centro covid no Santa Inês fechou no ano de 2024
Reprodução/Internet
Os casos crescerem repentinamente, chegando a uma proporção incontrolável. Para tentar suprir a quantidade massiva de infectados, foram montados leitos de UTI em tendas e em locais improvisados, em diversos pontos do estado.
Os casos cresciam cada vez mais e o funcionamento do novo Hospital Universitário precisou ser adiantado. Os casos mais graves eram encaminhados para a unidade.
Hospital Universitário da Universidade Federal do Amapá (HU-Unifap)
Rafael Aleixo/g1
“O funcionamento do H.U foi essencial nesse momento, senão teríamos vivido um cenário muito pior”, disse Malafaia.
Apagão
Apagão no Amapá – Vista aérea da Zona Sul de Macapá
Rede Amazônica
Durante a pandemia global, a população amapaense em novembro de 2020, enfrentou um dos maiores blecautes do país, que deixou quase 800 mil pessoas sem energia por 22 dias. Os hospitais com inúmeros doentes, enfrentavam situações delicadas de falta de água, além do não funcionamento de equipamentos de urgência que precisavam de energia para funcionar.
Vacina
Vacinas chegaram ao Amapá em Janeiro de 2021
Arquivo/GEA
Em janeiro de 2021, a carga de 31 mil doses da CoronaVac, vacina do Instituto Butantan feita em parceria com o laboratório chinês Sinovac, chegou ao estado do Amapá, no primeiro momento, foram vacinados membros de pessoas dos grupos prioritários, sendo: profissionais de saúde, indígenas e idosos acima de 60 anos. Cerca de 15 mil foram destinadas a profissionais de saúde que atuavam na linha de frente.
“Nós começamos a ver claramente a desospitalização, as pessoas começaram a entrar nos hospitais com covid-19 e sair sem a doença e com vida, percebemos que o cenário começou a mudar por conta da vacina. A vacina preserva a vida”, disse Dorinaldo Malafaia.
Falta de oxigênio
Concentradores de oxigênio foram doados ao Amapá na segunda-feira (1º) para o tratamento de pacientes com Covid-19
José Baía/GEA/Divulgação
Em seu relato, Dorinaldo que esteve à frente do caso, destacou que a falta de oxigênio foi uma grande preocupação, por conta da crise em Manaus, logo faltaria o equipamento no Amapá. As mortes já haviam diminuído por conta da vacina.
“Quando teve a crise em Manaus, que lamentavelmente por conta uma posição poítica pelo governo central, houveram mortes em Manaus por falta de oxigênio. Ficamos no centro de operações tentando garantir que não faltasse oxigênio no Amapá. Laranjal do Jari seria o primeiro município que teria uma morte por falta de oxigênio e seria muito grave. Pois já tínhamos a vacina mas faltava oxigênio”, completou.
Ele relatou ainda que o senador Davi Alcolumbre articulou 300 cilindros de oxigênio em uma madrugada, que executou todos os procedimentos para que não houvesse óbitos por falta de oxigênio.
Ao fim de seu depoimento, Dorinaldo destacou que é necessário fortalecer o Sistema Único de Saúde (SUS), e acreditar na ciência.
“O SUS é um patrimônio do povo brasileiro que tem deficiências, mas na hora que foi necessário tivemos esse sistema que cuidou da população e vacinou em larga escala e precisamos acreditar na ciência, entender que Deus deu uma capacidade intelectual para construirmos benefícios para a sociedade”, finalizou o profissional.
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