12 de janeiro de 2025

Para ministros do STF e do governo, veto total de Lula a saidinha seria desgaste e munição para extrema direita

Fontes do Planalto ouvidas pelo blog dizem achar dificil veto total, mas que texto vai ser analisado. Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
FREDERICO BRASIL/THENEWS2/ESTADÃO CONTEÚDO
A Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira (20) o projeto de lei que acaba com as “saidinhas” de presos em feriados. O texto, agora, segue para sanção presidencial e tem gerado repercussão em Brasília.
Ministros do STF e do governo Lula ouvidos pelo blog avaliam que eventual veto total do presidente ao projeto de saidinha seria “loucura” pois daria “munição” à extrema direita e desgaste em um tema que já é flanco do governo: a segurança pública.
Assim como no Executivo, alguns ministros acreditam que Lula deveria sancionar para evitar desgastes ou até vetar parcialmente. No Palácio do Planalto, a ordem é dizer que Lula ainda não leu o texto e vai avaliar a discussão.
Existem posições no Governo pelo veto, como é o caso dos ministérios da Justiça e Direitos Humanos. Também existem posições pela sanção parcial ou sanção completa, sobretudo no núcleo político.
Ao blog, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse considerar o “assunto pacificado” e que a votação unânime mostra o “clamor da sociedade”, representada pelo Congresso, em saídas para a segurança pública.
Presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira
Zeca Ribeiro / Câmara dos Deputados
Sobre Lula vetar o texto, Lira disse que é prerrogativa do Executivo vetar ou deixar de vetar- mas que o placar esmagador mostra como o assunto “é pleito de todos os setores”. Nesta quarta, até o PSOL correu para se posicionar favoravelmente e Guilherme Boulos trabalhou para que a bancada não ficasse contra – principalmente temendo efeitos dessa decisão na eleição municipal de São Paulo.
A avaliação entre os parlamentares é que, ainda que o governo vetasse, o veto seria rapidamente derrubado pelo Congresso. No início do ano, o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se manifestou publicamente favorável ao texto – em especial após o caso de um policial militar assassinado em Minas Gerais, sua base eleitoral. O autor do crime foi um preso beneficiado pela saída temporária.
Saída temporária
Atualmente, a saída temporária permite que os detentos do regime semiaberto realizem:
visitas à família;
cursos profissionalizantes, de ensino médio e de ensino superior; e
atividades de retorno do convívio social.
O projeto foi alterado durante sua aprovação no Senado, em fevereiro, que manteve uma exceção para a saída temporária, no caso dos detentos de baixa periculosidade que forem realizar cursos estudantis ou profissionalizantes. A alteração foi mantida pela Câmara na votação desta quarta-feira.
No relatório, o relator Guilherme Derrite (PL-SP) alegou que a sociedade se opõe ao benefício da saída temporária de detentos.
Segundo levantamento realizado pelo g1, a saída temporária de Natal de 2023 – a mais recente concedida – beneficiou pouco mais de 52 mil presos. Desses, 95% (49 mil) voltaram às cadeias dentro período estipulado. Os outros 5% (pouco mais de 2,6 mil), não.
Saidinha de Natal beneficiou 52 mil presos; 49 mil retornaram e 2,6 mil, não
Em nota divulgada à época da aprovação do projeto pelo Senado, 66 entidades -incluindo o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) – divulgaram nota avaliando a mudança na lei “trará enorme impacto financeiro para a União e para os estados” e vai “agravar ainda mais” índices de violência.
“A extinção da saída temporária iguala o regime semiaberto ao regime fechado, ferindo o princípio da individualização das penas e colocando fim ao retorno gradual da pessoa presa ao convívio social e familiar, o que certamente trará impactos sociais negativos”, diz a nota.
O projeto também já foi criticado pelo Grupo de Trabalho Interinstitucional de Defesa da Cidadania — que reúne o Ministério Público Federal (MPF), defensorias públicas (inclusive da União) e entidades da sociedade civil –, para quem o projeto é “flagrantemente inconstitucional”.
“As chamadas “saidinhas” são um importante instrumento de ressocialização e reconstrução dos laços sociais, fortalecendo os vínculos familiares e contribuindo para o processo de reintegração social da pessoa em privação de liberdade”, diz o grupo em comunicado.

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