5 de outubro de 2024

Para reduzir mortalidade de tartarugas, anzol circular é alternativa na pesca oceânica de espinhel

Liderado pela Fundação Projeto Tamar, estudo mostra impactos desse tipo de pesca sobre os animais quando feita com anzóis em formato de J. Tartarugas marinhas morrem principalmente após ficarem enroscadas em anzóis pela boca
Fundação Projeto Tamar
Na literatura científica, a captura acidental na pesca é considerada a maior ameaça global às populações de tartarugas marinhas. Realizado pelo Projeto Tamar, em parceria com ONGs e universidades, um estudo buscou entender o impacto da pesca de espinhel nas tartarugas marinhas focando nos tipos de anzóis usados.
O espinhel consiste em um sistema de pesca que funciona de forma passiva, com a utilização de iscas para atração dos peixes. O método é formado pela linha principal, linhas secundárias e anzóis. Veja na figura abaixo:
Esquema de pesca com espinhel feita no oceano
Lucas de Carvalho Guesse
Para entender a mortalidade, os pesquisadores registraram encalhes de tartarugas-cabeçudas (Caretta caretta), tartarugas-oliva (Lepidochelys olivacea) e tartarugas-de-couro (Dermochelys coriacea), encontradas vivas ou mortas, no litoral desde Santa Catarina até o Rio de Janeiro, de 2015 a 2020.
Apesar da pequena frequência relativa de indivíduos encontrados com anzóis, algo em torno de 2,5% das 4,6 mil tartarugas analisadas, as pescarias pelágicas com espinhel, especialmente aquelas que visam o dourado (C. hippurus), são uma séria ameaça às populações de tartarugas marinhas.
As necropsias revelaram que 43,1% das mortes ocorreram devido a lesões intestinais causadas por anzóis, linhas de pesca e/ou cabos, totalizando 50 tartarugas mortas das quase 120 encalhadas que tinham anzóis presentes em seus corpos.
Segundo o estudo, um anzol em formato de “J” foi identificado como predominante. “Este padrão sugere que as tartarugas marinhas nesta região encontram principalmente pescarias que utilizam este tipo específico de anzol”, escrevem os autores no artigo.
Além disso, segundo os autores, o número de indivíduos afetados pode ser subestimado, uma vez que o encalhe não representa a mortalidade total no mar.
Tartaruga-verde é resgatada em praia de Santos (SP) com linha de pesca presa à boca
Divulgação/Instituto Gremar
Substituição de anzóis
José Henrique Becker, coordenador de pesquisa e conservação do Projeto Tamar e um dos autores do artigo, conta que entre 2004 e 2008 foram feitos testes para a substituição de anzóis na pesca de espinhel. A ideia era trocar os anzóis em formato de J por anzóis circulares, a fim de minimizar a mortalidade de tartarugas.
“Esse trabalho deu certo e mostrou que a captura do pescado se manteve nos níveis que a frota de pesca já estava acostumada. Houve uma diminuição da mortalidade das tartarugas, porque elas ficam enroscadas principalmente na boca, ao invés de engolir os anzóis”, comenta Becker.
Em 2017, uma portaria do Ministério do Meio Ambiente junto ao Ministério da Pesca introduziu o anzol circular como equipamento obrigatório da frota de espinhel nas embarcações que pescam em alto mar no Brasil. No entanto, nem todos os tipos de pesca passaram por essa regulamentação.
Tartaruga-verde (Chelonia myda) encalhada em Florianópolis (SC)
Javier González / iNaturalist
“A pesca oceânica voltada para o dourado é um tipo de pescaria que não obriga a usar o anzol circular e continua usando o anzol em J. A gente verificou que o uso desse anzol, pelos resultados do artigo, tem impacto na mortalidade de tartarugas, principalmente a cabeçuda e a oliva”, diz o coordenador.
Os testes dos anzóis circulares mostraram redução de 55% nas capturas de tartarugas-cabeçudas e 65% de redução de capturas de tartarugas-de-couro.
O registro de capturas de tartarugas nas praias é feito pelo Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobrás de produção e escoamento de petróleo e gás natural da Bacia de Santos, conduzido pelo Ibama.
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