Advogado Thiago Marcos Barbosa, sobrinho do governador, foi preso pela Polícia Federal. Conversas estão na decisão do Superior Tribunal de Justiça, que autorizou a operação. Wanderlei não é alvo na operação e nega que teve acesso a inquéritos sigilosos. Advogado Thiago Barbosa (esquerda) e Wanderlei Barbosa
Arte g1
Conversas encontradas pela Polícia Federal apontam um suposto esquema de vazamento de investigações do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para magistrados e políticos do Tocantins. Os diálogos citam que o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho repassou informações supostamente sigilosas sobre o inquérito que investiga a compra de cestas básicas pelo governo do Tocantins para o tio, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos).
Em uma das conversas, o sobrinho do governador afirma que conseguiu acesso total ao inquérito sobre as cestas básicas, colocou em um pendrive e repassou para o tio. “Esse Inquérito, esse […] que eu havia dito pra o senhor, ele [sic] tava em segredo de justiça no STJ com [ministro] e eu consegui o acesso a ele total, inclusive passei, botei no pendrive, passei pra tio Wanderley, falei pra ele: o que é que [sic] tava acontecendo, tinha umas fotos lá no infograma […]”.
O governador, apesar de citado na decisão do STF, não é alvo da operação. Em nota, a defesa do governador afirmou que ele não recebeu nenhuma informação privilegiada, pois já estava habilitado no inquérito da Operação Fames-19 [que investiga a compra de cestas básicas]. Também disse que os presos na operação não possuem qualquer vínculo com o Governo do Tocantins (veja nota completa abaixo).
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Nesta terça-feira (18), a PF cumpriu quatro mandados de busca e prendeu preventivamente o advogado Thiago Marcos Barbosa de Carvalho, que era assessor jurídico do Ministério Público do Tocantins (MPTO). O procurador de Justiça Ricardo Vicente da Silva, chefe de Thiago, foi alvo de buscas. Ao sair da sede da PF, Thiago disse à TV Anhanguera que só irá se manifestar nos autos.
A defesa do procurador Ricardo Vicente disse à TV Anhanguera que não vai se manifestar porque não teve acesso ao inquérito.
A operação foi autorizada pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na decisão, o ministro afirma que o caso está sob sua relatoria por ter possível conexão com a operação Sisamnes, que apura “possível existência de uma organização criminosa estruturada para venda de decisões judiciais e informações sigilosas no Superior Tribunal de Justiça.”
O STJ afirmou não vai comentar sobre a operação realizada pela PF nesta terça-feira (18). O Ministério Público Estadual (MPTO) disse que colabora com as investigações e exonerou o servidor citado nas investigações (veja nota completa abaixo).
Diálogos apontam vazamento de informações
Operação da PF no Tocantins investiga suposto esquema de vazamento de informações judiciais
Conforme a decisão, essa fase da investigação teve início a partir da análise do celular do desembargador Helvécio de Brito, apreendido durante a operação Máximus, que o afastou do cargo em agosto de 2024.
“A análise do aparelho celular de Helvécio de Brito Maia Neto sugere uma trama que envolve a participação de servidores do Superior Tribunal de Justiça, de modo a fornecer acesso indevido a dados sigilosos, inclusive no âmbito de investigações criminais em andamento, em contextos apuratórios em curso acerca da suposta conduta de desembargadores e até do Governador do Estado do Tocantins, de quem Thiago é sobrinho”, diz o documento.
O ministro Zanin destacou diversos trechos de conversas presentes no inquérito, apontando para o suposto vazamento de informações, para justificar as buscas e a prisão de Thiago Barbosa. A defesa de Helvécio de Brito Maia Neto disse que não vai se pronunciar.
Thiago Barbosa: Desembargador, foi o seguinte, eu até avisei ao Dr. Ricardo, uns dias atrás, já deve ter uns 2 dias eu acredito, é porque a gente tem alguns companheiros nossos em Brasília, que eles ficam aí 24 horas monitorando, e aí tendo acesso aí sempre às informações, e as informações que eu tinha, e que corria o inquérito que inclusive investigava alguns desembargadores aqui do Tocantins, e assim, como havia essa investigação, inclusive tá com o Ministro […], e por sua vez havia uma investigação em curso contra o senhor, o pessoal até vai me passar o material que eu fiquei interessado. Interessado não no interesse de saber não, no interesse de te avisar.
Helvécio: sim, sim, eu agradeço muito.
Em outros trechos, Thiago levanta a suspeita de uma possível interceptação telefônica e volta a dizer que ficou interessado em pegar o material para visar o então desembargador. A decisão aponta que pouco tempo antes da operação Máximus os investigados passaram a se comunicar por um aplicativo ‘”mais seguro”.
Informações para o ‘tio Wanderlei’
Outros diálogos transcritos na decisão apontam que Thiago chegou a avisar o tio, Wanderlei Barbosa, sobre investigações em andamento envolvendo a distribuição de cestas básicas. Não fica claro na decisão qual era o interlocutor do advogado nesta conversa.
Thiago Barbosa: Inclusive pessoas que têm ligações fortíssimas no STJ, inclusive eu avisei de um Inquérito que [sic] tava correndo no STJ, contra tio Wanderley, mais um Inquérito, e esse é novo, o número do Inquérito eu até decorei que é […], ele é referente a um acordo de colaboração do […], que era um dos fornecedores de Cestas Básicas.
Thiago Barbosa: Eu tive em Brasília, eu fui exclusivamente pra ver esse Inquérito. No que eu vi esse Inquérito consegui o acesso a ele, voltei, mostrei pra tio Wanderley.
O sobrinho do governador afirma que conseguiu acesso total ao inquérito sobre as Cestas Básicas, colocou em um pen drive e repassou para o tio.
Thiago Barbosa: Esse Inquérito, esse […] que eu havia dito pra o senhor, ele [sic] tava em segredo de justiça no STJ com [ministro] e eu consegui o acesso a ele total, inclusive passei, botei no pen drive, passei pra tio Wanderley, falei pra ele: o que é que [tava] tava acontecendo, tinha umas fotos lá no infograma […].
As conversas, segundo a decisão do STF, tiveram início no dia 28 de junho de 2024. Por outro lado, a operação Fames-19, que investiga a compras de cestas básicas pelo governo do Tocantins só foi deflagrada em agosto do mesmo ano. A defesa de Wanderlei afirma que já estava habilitada no inquérito e não recebeu informação privilegiada (veja nota abaixo).
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Operação investiga vazamento de informações sigilosas
Durante a manhã desta terça-feira (18) a Polícia Federal cumpriu quatro mandados de busca e uma ordem de prisão preventiva. A ação investiga uma rede clandestina de monitoramento, comércio e repasse de informações sigilosas sobre o andamento de investigações, que acabavam frustrando o andamento de operações policiais.
A operação realizada no Tocantins, segundo a PF, é uma nova fase da Operação Sisamnes, que investiga crimes de obstrução de justiça, violação do sigilo funcional, corrupção ativa e passiva, com suposta participação de advogados, lobistas, empresários, assessores, chefes de gabinete e magistrados no suposto esquema.
O jornalista e ex-prefeito de Almas, Goianyr Barbosa de Carvalho, também foi preso na operação após a Polícia Federal encontrar uma mochila com R$ 22,5 mil na casa que ele mora com o filho. O flagrante aconteceu durante uma operação que investiga o vazamento de informações sigilosas do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O advogado Zenil Drumond informou que o jornalista foi preso em flagrante por suspeita de lavagem de dinheiro, mas que “não há elementos que comprovem a alegação da polícia”. Em entrevista à TV Anhanguera, ele contou que Goianyr chegou a jogar a mochila com dinheiro pela varanda da casa.
“Goianyr escutou o arrombamento da porta, ele imediatamente acordou e chamou o Thiago e achou que seria um assalto. Achando ser um assalto, o dinheiro estava guardado em uma mochila e o Goianyr arremessou esse dinheiro pela varanda, ou seja, na tentativa de que caso fosse realmente um assalto ele poder salvaguardar ali aquele dinheiro”, contou.
Goianyr Barbosa de Carvalho foi preso em flagrante por suspeita de lavagem de dinheiro durante Operação da PF em Palmas
Reprodução/redes sociais
Íntegra da nota do Ministério Público Estadual do Tocantins
O Ministério Público do Tocantins (MPTO) informa que todas as medidas necessárias para atender à determinação do Supremo Tribunal Federal foram adotadas. A instituição reforça seu compromisso com a legalidade e a transparência e seguirá acompanhando o desenrolar dos fatos, colaborando com as autoridades competentes.
Além disso, o MPTO esclarece que o servidor citado nas investigações que resultaram na operação da Polícia Federal foi exonerado do cargo nesta data.
Íntegra da nota da defesa do governador Wanderlei Barbosa
A defesa do Governador Wanderlei Barbosa esclarece que desde o dia 15 de abril de 2024 ele foi formalmente habilitado no inquérito [da Polícia Federal] da FAMES-19 junto com seus advogados, tendo, desde então, acesso regular ao processo por meio dos trâmites legais.
Dessa forma, não houve qualquer recebimento de informação privilegiada um vez que a conversa mencionada na investigação da Operação Sisamnes, encontrada no WhatsApp dos suspeitos, data de 28 de junho de 2024, quase três meses desde que a defesa do governador já possuía acesso integral ao processo.
Reforçamos que o Governador Wanderlei Barbosa não é alvo da investigação e nem foi citado no processo. Eventuais desdobramentos são de exclusiva responsabilidade dos investigados, não cabendo qualquer tentativa de vinculação ao governador por atos individuais de terceiros.
Destacamos ainda que Thiago Barbosa e Goianyr Barbosa, citados na investigação, não possuem qualquer vínculo com o Governo do Tocantins. Thiago era assessor do Ministério Público Estadual (MPE), e seu pai, Goianyr Barbosa, não ocupa cargo na administração estadual.
A defesa reitera sua confiança nas instituições e no devido processo legal, assegurando o direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa.
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