24 de setembro de 2024

Pastor Felippe Valadão é indiciado por intolerância religiosa após ataque a religiões afro em evento oficial no RJ

‘Prepara para ver muito centro de umbanda sendo fechado’, disse pastor em evento da Prefeitura de Itaboraí. Polícia entendeu que ele tentou impor um único padrão religioso sem o respeito à diversidade e liberdade religiosa. O g1 tenta contato com o pastor. Pastor Felippe Valadão ataca religiões afro em evento oficial de Itaboraí
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) indiciou, nesta terça-feira (16), o pastor Felippe Valadão, da Igreja Lagoinha, pelo crime de intolerância religiosa após um ataque a religiões afro em evento oficial de Itaboraí, na Região Metropolitana do Rio.
O caso aconteceu em maio de 2022. O município comemorava 189 anos com uma série de shows e apresentações de artistas gospel. Num intervalo, Valadão subiu ao palco e discursou (veja acima).
“De ontem para hoje tinha quatro despachos aqui na frente do palco. Avisa aí para esses endemoniados de Itaboraí: o tempo da bagunça espiritual acabou, meu filho. A igreja está na rua!!! A igreja está de pé!!!”, gritou.
“E ainda digo mais: prepara para ver muito centro de umbanda sendo fechado na cidade!”, emendou.
A polícia ouviu várias testemunhas, e a perícia analisou o vídeo que foi anexado ao inquérito e concluiu que não houve alteração em seu conteúdo.
Para a delegada Rita de Cássia Salim Tavares, em seu relatório encaminhado ao Ministério Público do Estado (MPRJ), ficou clara a prática de intolerância religiosa, “no sentido de que se pretendeu impor um único padrão religioso sem o respeito à diversidade e liberdade religiosa.”
“A crença ou fé professada por um segmento religioso ou pessoa não pode ser realizada de forma que incite o ódio, o preconceito, a discriminação nem a intolerância.”
Salim citou ainda se tratar de um caso de discriminação.
“Quando houver qualquer forma de tratamento visando discriminar, perseguir ou agredir pessoas por questão religiosa, presente estará a intolerância religiosa, justificando a atuação do Estado.”
Constrangido com ‘trabalhos’
Durante as investigações, Valadão chegou a prestar depoimento na Decradi e afirmou que no dia do evento, ele tinha falado por meia horas, mas que “apenas menos de um minuto foi cortado”.
Ainda segundo o pastor, no dia de sua pregação, soube que os “organizadores da produção encontraram diversos ‘trabalho’ de religiões de matriz africana e que se sentiu constrangido, pois era o único dia de evento evangélico e teve esse tipo de situação”.
Ainda segundo o líder religioso, ele “proferiu palavras em defesa da própria fé, acreditando que pessoas de outras religiões poderiam se converter à fé cristã” e que nessas palavras tinha o objetivo de “evangelizar” os presentes.
Ao se defender, Valadão afirmou que “ao usar os termos ‘muitos centros de Umbanda seriam fechados naquela cidade’ e ainda “Deus salvaria os pais de santo’ seguiu sua fala, porém foi devidamente editada onde prosseguia falando claramente que esses eventos se dariam pois essas pessoas seriam convertidas e dessa forma seus templos seriam fechados pois não terem mais razão de existir”.
Por fim, o pastor garantiu que “jamais incitou a violência contra centros ou pessoas de religiões de matriz africana!.
O g1 tentou contato com o pastor, mas não havia obtido retorno até a atualização mais recente desta reportagem.
Pastor Felippe Valadão, da Igreja Lagoinha
Reprodução
Na época, a Comissão de Povos Tradicionais de Terreiros de Itaboraí divulgou uma nota de repúdio: “Em sua fala, o pastor agride de maneira vil, desrespeitosa e ameaçadora à comunidade religiosa do candomblé e da umbanda nesta cidade”, disse.
Já a Prefeitura de Itaboraí informou que declarações dos convidados e artistas para as apresentações “são de inteira responsabilidade deles”.
Assista à reportagem completa
Pastor Felippe Valadão ataca religiões afro em evento oficial de Itaboraí

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