5 de março de 2025

Performance de celebração de paz sobre o carro do Cristo proibido da Beija-Flor contou com ensaio secreto no barracão


Componentes que representaram Laíla e Joãosinho Trinta encenaram a colocação da faixa ‘Mesmo Proibido, Olhai por Nós’ em alegoria. Alegorias da Beija-Flor homenageiam Laíla, Joaosinho Trinta e desfile histórico da escola
Os intérpretes de Laíla e de Joãosinho Trinta levantaram a Sapucaí durante a encenação da paz entre os dois sobre a autoria do Cristo coberto, alegoria mais famosa da história da Beija-Flor, na noite desta segunda-feira (3) na Sapucaí. Para acontecer, a performance contou com apenas um ensaio, mas absolutamente secreto, no barracão da escola na Cidade do Samba.
Os dois encenaram a colocação da faixa “Mesmo Proibido, Olhai por Nós”. O compositor Serginho Aguiar, que interpreta Laíla, e o ator Wanderley Gomes, que interpreta Joãosinho, abriram a faixa juntos.
Intérpretes de Laíla e Joaosinho Trinta na Beija-Flor
Cristina Boeckel/g1
“Foi à noite, no barracão. Não foi fácil porque o carro está em movimento”, disse Serginho, que interpretou o homenageado do enredo.
Além de viver Laíla na Sapucaí, a participação de Serginho no desfile é maior. Ele é um dos autores do samba-enredo que a Beija-Flor levou para a avenida.
Componentes representando Joãosinho Trinta (de laranja) e Laíla (com dedo em riste) na Beija-Flor
Cristina Boeckel/g1
A última alegoria da escola reproduziu o carro alegórico do desfile “Ratos e Urubus, Larguem a Minha Fantasia”, do carnaval de 1989. No desfile, Joãosinho era o carnavalesco e Laíla era o diretor de carnaval. O trabalho questionava os conceitos de lixo e luxo e promovia um grande baile com excluídos da sociedade, que faziam suas fantasias com itens descartados.
A autoria da alegoria já foi motivo de desavença. Após Laíla sugerir que e escola levasse à Sapucaí a imagem de um Cristo abraçando uma comunidade, Joãosinho afirmou que ele teve a ideia de levar um “Cristo mendigo”.
Na época, a imagem do Cristo Redentor com as roupas esfarrapadas foi proibida a partir de uma liminar concedida a partir de um pedido da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, que não concordava com a exibição da imagem.
Alegoria homenageia desfile da Beija-Flor em 1989
Cristina Boeckel/g1
Foco nos detalhes
Os dois tentaram reproduzir a linguagem corporal de seus respectivos personagens. Serginho, que é sorridente no dia a dia, permaneceu com a seriedade de Laíla. Wanderley estava despojado como Joãosinho.
Serginho usou as guias de Laíla, que foram emprestadas pela família do diretor de carnaval. O punho sempre cerrado, como quando Laíla queria se expressar e mostrar a força da Beija-Flor na avenida.
A semelhança com Laíla é reforçada com a ajuda de maquiagem especial. Ao todo, a preparação para viver leva cerca de 3 horas.
O sósia de Joãosinho vestiu uma reprodução do uniforme da companhia de limpeza urbana do Rio de Janeiro, a Comlurb. No lugar da marca da empresa, o nome da escola de samba.
Wanderley Gomes já tinha vivido Joãosinho na peça “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, larguem minha fantasia”.
“Eu acho que ele era genial. O maior carnavalesco de todos os tempos. Uma parceria que deu certo demais. Dois gênios”, disse Wanderley.
O desfile
Em entrevista ao g1 em 2019, o diretor de teatro Amir Haddad contou que ensaiou 200 atores para atuar como desvalidos.
“Quando entramos na avenida foi um silêncio mortal. Porque quando uma escola entra na avenida, entra brilho, entra lantejoulas. E entrou aquele bando esfarrapado, o abre-alas esfarrapado e as pessoas ficaram atônitas. Demorou um minuto e a gente estava quase voltando”, lembrou Haddad.
Apesar do ineditismo e do impacto causado na plateia e nos jurados, naquele ano, a Beija-Flor foi a segunda colocada no carnaval. O título coube à Imperatriz Leopoldinense, que apresentou um desfile luxuoso e tradicional impulsionado pelo samba-enredo “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”. As duas escolas fizeram a mesma pontuação, 200 pontos, mas como a Beija-Flor havia descartado maior número de notas 9, a Imperatriz acabou campeã.

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