20 de setembro de 2024

Personagem ‘esquecido’ da lenda do Rei Artur é redescoberto em manuscritos inéditos da Idade Média

Medievalista que encontrou 28 textos do século 13 escondidos em museus e bibliotecas espalhados pelo mundo está em Brasília. Trabalho de 10 anos de pesquisa foi consolidado em três livros. Imagem mostra manuscrito original da idade média sobre personagem Segurant.
Divulgação/Editora Nemo
Prateleiras de museus e bibliotecas espalhadas pelo mundo guardavam um tesouro da literatura. Manuscritos da Idade Média “redescobertos” por um pesquisador italiano confirmam a existência de mais um personagem na lenda de Rei Artur (entenda abaixo).
O rei Artur é uma das principais figuras do folclore britânico. Ao conseguir retirar a espada Excalibur de uma rocha, ele passou a governar a Bretanha junto com os “Cavaleiros da Távola Redonda”. Todas as histórias e personagens ligados ao rei são consideradas lendas, não existindo fontes que comprovem sua real existência.👑
Segurant, o misterioso cavaleiro que lutou contra um dragão, foi esquecido de uma das narrativas mais famosas do mundo. O responsável pela descoberta é o medievalista, arquivista-paleógrafo e autor italiano Emanuele Arioli, que está em Brasília e conversou com o g1.
Arioli percorreu sete países e encontrou 28 manuscritos. Alguns, em péssimo estado de conservação, queimados ou em pedaços.
“Hoje se diz que 90% dos escritos da Idade Média não existem mais, mas isso é um dado abstrato. Ver esses milhares de manuscritos queimados, pensando que cada um poderia ter uma história que nós não temos, foi muito emocionante”, diz o historiador.
Depois de mais de 10 anos de pesquisa, Arioli consolidou as descobertas em três livros agora lançados no Brasil. “Segurant: o Cavaleiro do Dragão” reúne 28 textos do século 13, adaptados em três diferentes gêneros: romance, história em quadrinhos e livro infantojuvenil.
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Quem é o cavaleiro Segurant
Imagem mostra figura encontrada em manuscrito da Idade Média sobre personagem Segurant
Divulgação/Editora Nemo
Arioli conta que Segurant, diferentemente dos outros cavaleiros da Távola Redonda que se aventuravam pela mão de uma dama, estava condenado a passar a vida perseguindo um dragão que não existe.
“Ele foi enfeitiçado. Essa ideia é muito original, porque é um dragão que não tem corpo, ele é puro espírito. Então, é uma busca impossível. O princípio do romance arturiano é sempre esse, de fazer uma busca impossível”, diz o autor.
O escritor explica ainda que, nas histórias, é dito que Segurant só teria seu feitiço quebrado pelo Santo Graal – cálice “sagrado” desaparecido e cobiçado pelos Cavaleiros da Távola Redonda. Mas em uma década de pesquisa ele não teve nenhuma pista que levasse à existência do Santo Graal.
“Eu nunca ‘encontrei o Graal’. Então, o romance está quase completo, falta essa parte”, diz Arioli.
Como tudo começou
Arioli encontrou partes do romance de Segurant em cópias espalhadas entre a Itália, a França, a Suíça, Bélgica, Alemanha, Grã-Bretanha e os Estados Unidos. O primeiro fragmento foi descoberto ao acaso, na Biblioteca do Arsenal, em Paris, e fazia parte de um texto intitulado “As Profecias de Merlin”.
Não se sabe exatamente por qual motivo a história de Segurant caiu esquecimento, mas há algumas hipóteses:
Uma delas, segundo o autor, é o fato de que, desde o fim do século 13, compiladores passaram a copiar episódios sem relação entre eles, de modo que um mesmo texto, antes parte de um longo romance, passava a existir fragmentado em dezenas ou até centenas de manuscritos;
Outra hipótese tem a ver com a Igreja. No século 16, as “profecias obscuras de Merlin” foram colocadas no Índex dos Livros Proibidos;
Incêndios acidentais ou criminosos também queimaram os locais de conservação dos manuscritos nos séculos seguintes.
Em busca do Graal
Trecho do documentário “O Cavaleiro do Dragão: o romance perdido da Távola Redonda”
Emanuele Arioli diz que a pesquisa continua. Assim como Segurant persegue um dragão espiritual e um Graal misterioso, o pesquisador está em busca de manuscritos que ele ainda não sabe se existem de fato.
Por isso, a conclusão da história do cavaleiro segue em aberto. “Minha pesquisa continua, mas foi uma aventura incrível. Esses 28 manuscritos, eu encontrei em 7 países diferentes e, alguns deles, foi como um milagre encontrar”, conta o historiador.
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