13 de outubro de 2024

Pesquisa da Unesp revela como traumas sociais podem acelerar casos de ansiedade e depressão

Estudo da universidade de Araraquara foi realizado em camundongos e pode ajudar no desenvolvimento de terapias mais eficazes. Pesquisa da Unesp revela como traumas sociais afetam o cérebro
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Enfrentar momentos de forte estresse ou traumas, como um acidente de carro ou um assalto à mão armada, podem gerar diferentes impactos no cérebro das pessoas e casos de ansiedade ou depressão, leves ou mais graves, podem ser desenvolvidos provocando mudanças comportamentais.
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É o que aponta uma pesquisa realizada no Laboratório de Farmacologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da Unesp, em Araraquara (SP), que investigou como o estresse crônico social age em diferentes regiões do cérebro.
O estudo foi realizado com camundongos machos que foram submetidos a um protocolo de estresse crônico social (SDS, do inglês “Social Defeat Stress”), validado internacionalmente.
O SDS promove consequências duradouras que podem afetar a qualidade de vida dos indivíduos.Para a realização deste experimento, um camundongo é mantido isolado para que seu comportamento agressivo se torne exacerbado.
“Após os testes de estresse, avaliamos os comportamentos de defesa, interação social e a capacidade de memória dos animais que foram agredidos e que, portanto, estavam abalados. Utilizamos também marcadores neuronais, como a proteína FosB, que permite identificar áreas específicas do cérebro que foram ativadas”, explicou o professor Ricardo Luiz Nunes de Souza, coordenador do Laboratório de Farmacologia e diretor da FCF.
Esquema representativo do modelo de estresse por derrota social (SDS) utilizado em camundongos
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Pesquisa
Os testes simulam situações de estresse social prolongado, nas quais um camundongo é exposto a sessões diárias e sucessivas de estresse.
Nas sessões de conflito, outro camundongo denominado “intruso” é inserido na caixa do camundongo que estava isolado, provocando desta forma confrontos físicos entre os animais.
O estudo utilizou 83 camundongos machos, com idades de 54 a 60 dias (intrusos), e 35 camundongos machos de seis a oito meses de idade (agressores residentes).
O comportamento dos animais foi avaliado quanto a ansiedade e memória, sendo utilizado testes como o labirinto em cruz elevado, o campo aberto (imagem abaixo) e o de reconhecimento de objetos. Também foram realizadas análises neurológicas utilizando marcadores de ativação neuronal para investigar as alterações em áreas específicas do cérebro.
Teste de campo aberto. Para a realização deste experimento, um camundongo é mantido isolado para que seu comportamento agressivo se torne exacerbado
DataBase Center for Life Science (DBCLS)
O estudo está descrito no artigo “Emotional- and cognitive-like responses induced by social defeat stress in male mice are modulated by the BNST, amygdala, and hippocampus”.
Áreas afetadas
Para analisar os marcadores neuronais, os pesquisadores utilizaram uma substância fluorescente que permite visualizar as áreas ativas do cérebro dos camundongos em um microscópio.
Através das imagens, foi possível observar que o estresse afeta diferentes regiões do cérebro de maneiras opostas.
Enquanto a parte ventral do hipocampo, responsável pelas emoções, mostrava aumento de atividade, resultando em respostas aumentadas de ansiedade e defesa, a parte dorsal, ligada à memória espacial, sofreu uma diminuição em sua atividade, levando a déficits de memória de curto prazo.
“Identificamos que o estresse crônico pode alterar as conexões entre essas regiões do cérebro, potencializando ou prejudicando as respostas emocionais. Isso sugere que, embora essas áreas atuem juntas na regulação das emoções, cada uma tem uma função específica, sendo que cada região pode exercer maior controle de certos comportamentos do que outros”, comentou Gessynger Morais Silva, pós-doutorando do Laboratório de Farmacologia da Unesp.
A pesquisa foi financiada pela pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), também identificou a ativação de neurônios glutamatérgicos, que são células nervosas responsáveis por liberar glutamato, um dos principais neurotransmissores excitatórios do cérebro.
Esses neurônios desempenham um papel fundamental na comunicação entre as células cerebrais e foram ativados em regiões críticas, como a amígdala e o núcleo da estria terminal, áreas associadas ao processamento de emoções e à resposta ao estresse.
“O aumento da atividade nessas regiões pode estar relacionado a mudanças duradouras no cérebro, conhecidas como neuroplasticidade, que moldam o organismo em resposta a um estresse contínuo”, disse Daniela Baptista de Souza, pesquisadora do Laboratório da Unesp.
Imagem mostra algumas das áreas de ativações do cérebro em pesquisa da Unesp Araraquara
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Implicações
O estudo representa um avanço na pesquisa básica em neurociência ao explorar como o cérebro se adapta, ou falha em se adaptar, a situações de estresse prolongado.
Segundo os pesquisadores, é possível entender melhor as respostas individuais ao estresse ao observar a ativação de diferentes áreas cerebrais.
Essas reações variam amplamente entre as pessoas: algumas desenvolvem ansiedade, outras depressão, enquanto há aquelas que manifestam problemas cardiovasculares, imunológicos ou gastrointestinais, por exemplo.
“Essas pesquisas realizadas com animais fornecem informações essenciais que podem ser aplicadas no desenvolvimento de tratamentos clínicos para humanos. No futuro, esses achados podem guiar o desenvolvimento de terapias mais específicas, que visem modular essas áreas cerebrais de forma eficaz”, destacou Lucas Canto de Souza, pós- doutorando do Laboratório de Farmacologia da Unesp.
O pesquisador Lucas Canto de Souza analisa marcadores neuronais em imagens de fluorescência durante o estudo sobre os efeitos do estresse social crônico em camundongo
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O próximo passo da equipe é investigar novas áreas do cérebro e adaptar os testes, permitindo uma compreensão mais precisa das distinções entre machos e fêmeas.
“Estamos revertendo a tendência dos estudos que historicamente focam em machos, e passamos a incluir fêmeas nos experimentos para entender melhor as diferenças entre os gêneros em relação à resposta ao estresse”, contou o diretor da FCF.
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