Grupo analisou eficácia das políticas públicas que buscam eliminar a doença no Brasil. Resultados foram apresentados em evento da OMS em Bangladesh. Pesquisa desenvolvida por alunos da UEM se torna referência internacional
Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Estadual de Maringá (UEM), no norte do Paraná, se tornou referência mundial no enfrentamento da tuberculose. Os pesquisadores criaram uma nova forma de analisar a eficácia das políticas públicas que buscam eliminar a doença no Brasil.
Os resultados foram apresentados em um painel da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Bangladesh e agora podem ajudar outros países a melhorar o combate à tuberculose.
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O trabalho foi realizado por pesquisadores do Grupo de Estudos e Pesquisas em Vigilância do HIV/Aids e da Tuberculose, da UEM, em parceria com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
O grupo começou as pesquisas em 2021, com a participação de alunos de graduação e pós-graduação em Enfermagem na universidade estadual. Os estudos se concentraram na vigilância e controle das doenças de condições crônicas, especialmente tuberculose e Aids.
Ao g1, a coordenadora do projeto, Gabriela Magnabosco, afirma que um dos objetivos dos estudos realizados pelo grupo é auxiliar o serviço de saúde público a melhorar as práticas em saúde.
De acordo com o Ministério da Saúde, a tuberculose é uma doença infecciosa e transmissível. Causada pela bactéria conhecida como bacilo de Koch, é transmitida pelo ar e afeta as vias respiratórias, principalmente os pulmões.
A tuberculose tem tratamento. A vacina BCG, aplicada em crianças e recém-nascidos, previne formas graves da doença. Os cuidados também podem ser feitos com medicamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS).
Segundo informações do Relatório Global sobre Tuberculose, publicado pela OMS em 2023, quase 10,6 milhões de pessoas tiveram tuberculose em 2022. Dessas, 1,3 milhão morreu devido à doença.
O documento destaca que o Brasil é um dos 30 países que, juntos, somam quase 90% dos casos da doença no mundo.
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A meta da OMS
A coordenadora do grupo explica que os 30 países são acompanhados de perto pela OMS para que se aproximem da meta global da organização: eliminar a tuberculose como problema de saúde pública até 2030.
Entre as diversas instituições de pesquisa do Brasil, o Ministério da Saúde escolheu o grupo da UEM para monitorar as políticas públicas governamentais de resposta à doença e, então, apresentar os resultados.
Magnabosco explica que o monitoramento originalmente é feito com um mecanismo criado pela OMS em 2018 que verifica as ações de cada país. Porém, ao iniciar a análise os pesquisadores da UEM perceberam que a ferramenta poderia ser melhorada para garantir que a qualidade dos dados obtidos fosse maior.
“É uma ferramenta quantitativa, um checklist. Quando a gente começou a fazer, a gente percebeu que essas informações estavam ficando vagas, muito numéricas, e que a gente poderia avançar um pouco para identificar melhor as subjetividades que estavam por trás daquelas respostas”, diz.
Como se trata de um monitoramento para avaliar como o país está lidando com os casos de tuberculose, Magnabosco explica que respondem os questionários pessoas envolvidas com as ações de manejo e controle da doença no país.
O grupo de pesquisa criou uma metodologia própria de análise, agora de forma qualitativa, entrevistando grupos focais compostos pelo público-alvo do monitoramento. Foram ouvidos participantes de todo o país.
“Fizemos isso para que tivéssemos elementos e a percepção deles com relação ao rol de ações elaboradas, recomendações que são feitas e propostas e o porquê que a gente não consegue ver isso modificar a prática. Porque a gente vê um ligeiro avanço na busca pela eliminação da doença, mas que não está compatível com o que a gente precisa para, de fato, acabar com a doença”, explica.
Método inédito
Pesquisa foi apresentada em painel da OMS, em Bangladesh.
UEM
A metodologia desenvolvida pelos pesquisadores paranaenses é inédita e permitiu identificar barreiras que dificultam que as propostas do Ministério da Saúde sejam colocadas em prática por agentes de saúde estaduais e municipais.
Outro desafio é a troca constante de trabalhadores da área da saúde, o que não permite que as ações de capacitação ofertadas pelo Ministério da Saúde sejam eficazes no cuidado e atenção dados para a doença.
“[O Brasil] Foi o único país que utilizou essa ferramenta metodológica de pesquisa qualitativa para incrementar a proposta. Isso chamou bastante a atenção das autoridades internacionais, que pediram para que o estudo fosse apresentado como um modelo para que outros países pudessem adaptar e desenvolver em suas realidades”, conta a coordenadora do grupo.
Os resultados também foram apresentados em um evento realizado pela OMS em Daca, capital de Bangladesh. Para a coordenadora do grupo, o reconhecimento foi motivo de alegria para os pesquisadores.
“Quando a gente consegue perceber que a gente tem um reconhecimento e que o trabalho que a gente está desenvolvendo consegue atingir tanto a visibilidade de uma forma social, mas também de gestores importantes, a gente fica extremamente feliz. Não só por contribuir com a causa, mas por ter esse trabalho reconhecido”, comemora.
Magnabosco afirma ainda que o grupo pretende continuar realizar estudos mistos, com dados qualitativos e quantitativos, para não só produzir evidências científicas, mas que também modifiquem e melhorem a prática do serviço público de combate a doenças.
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