16 de janeiro de 2025

Pesquisa descobre que mulheres é que tinham poder em comunidades na Inglaterra em período pré-histórico


Análise de DNA mostra que mulheres administravam terras e propriedades, enquanto os maridos dependiam delas para a subsistência e não o contrário. Pesquisa mostra que mulheres lideravam comunidade pré-histórica
Reprodução/Universidade de Bournemouth
Pesquisadores descobriram que laços familiares femininos estavam no centro das redes sociais na sociedade celta na Grã-Bretanha antes da invasão romana. Segundo os indícios, as mulheres administravam terras e propriedades, enquanto os maridos dependiam delas para a subsistência e não o contrário.
A descoberta foi feita a partir de análises em um cemitério localizado em Dorset, a cerca de 200 quilômetros de Londres. No local, foram encontradas sepulturas de famílias da tribo Durotriges, um grupo celta que viveu na região há mais de dois mil anos.
➡️ Os pesquisadores analisaram os genomas de 57 indivíduos da tribo e descobriram que dois terços deles descendiam de uma única linhagem materna.
A análise revelou uma conexão clara com uma linha matriarcal, incluindo uma mulher adulta, sua filha, suas netas adultas e um provável bisneto. Além disso, oito dos dez membros da família que não faziam parte dessa linhagem eram homens, provavelmente casados com mulheres da comunidade.
➡️ Ou seja, a maior parte da população local era descendente da família da mulher, o que demonstra que não eram elas que deixavam suas comunidades para viver ao lado do marido, mas o contrário.
Esse achado sugere que as mulheres permaneciam nos mesmos círculos sociais ao longo da vida, mantendo redes de relacionamento e provavelmente herdando ou administrando terras e propriedades. O marido, por sua vez, chegava como estrangeiro e se tornava dependente da fonte de renda da mulher para a subsistência.
Análise de DNA mostrou que mulheres eram maior linhagem, o que sugere que homens se mudavam para sua comunidade e não o contrário
Bournemouth University
A pesquisa, considerada revolucionária, foi publicada na revista Nature, uma das mais renomadas publicações científicas, nesta quarta-feira (16).
“Isso foi realmente de cair o queixo – nunca tinha sido observado antes na pré-história europeia”, comenta Lara Cassidy, geneticista do Trinity College Dublin e que participou do estudo.
A equipe também buscou marcadores genéticos de matrilocalidade – onde a descendência local é definida pela mulher – em restos mortais de mais de 150 sítios arqueológicos ao longo de seis mil anos. Eles identificaram diversos grupos com padrões semelhantes de descendência feminina.
Arqueólogos já tinham evidências de que o papel das mulheres na Grã-Bretanha da Idade do Ferro era singular. Antes da invasão romana em 43 d.C., um mosaico de tribos com línguas e estilos artísticos interligados – frequentemente referidos como celtas – habitava a Inglaterra. Nas pesquisas, itens valiosos, como joias e espelhos, foram encontrados enterrados com mulheres celtas. Escritores romanos, incluindo Júlio César, registraram com desdém a independência e destreza dessas mulheres, inclusive em batalhas.
“Se você observar o que os escritores clássicos estavam falando e se você observar o contexto arqueológico, há muitas dicas de que as mulheres foram capazes de atingir alto status nessas sociedades”, comentou Cassidy.
As liberdades das mulheres celtas têm sido um tema de debate por séculos. Escritores romanos ficaram escandalizados com relatos sobre sua liberdade sexual, que incluía ter vários maridos. Figuras como Cartimandua e Boudica, as primeiras líderes femininas registradas na Grã-Bretanha, demonstraram que as mulheres celtas podiam atingir os mais altos níveis de poder, liderando tribos e comandando exércitos.

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