Na última edição da revista científica ‘The Lancet’, o recado dos especialistas é deixar de considerar essa fase como uma doença. A menopausa é um estágio na vida experimentado por metade da população do planeta, mas são vivências que variam muito. Há mulheres que enfrentam sintomas leves, enquanto outras sofrem com impactos consideráveis em seu bem-estar. No entanto, o que se assemelha, em todos os casos, é como a maioria se sente pouco acolhida nessa transição. Sei bem do que se trata e abordo a questão no meu livro “Menopausa: o momento de fazer as escolhas certas para o resto da sua vida”, lançado em 2022. Agora, a revista científica “The Lancet” acaba de lançar uma edição com foco sobre o tema, com o objetivo de enfatizar a necessidade de oferecer informação de qualidade e ferramentas para ajudar nas decisões, mas também de haver empatia das equipes de saúde no atendimento e ajustes no ambiente de trabalho. Os autores reconhecem que o etarismo, o preconceito contra os mais velhos, contribui para transformar a experiência em algo bastante negativo, ressaltando que é preciso uma mobilização para diminuir tal estigma.
Foto de mulher mais velha nua, publicada pela revista “The Lancet”, que integrou mostra da artista Ponch Hawkes
Ponch Hawkes
A principal mensagem é: devemos parar de encarar essa fase como uma doença. A publicação não quis se prender a tratamentos específicos e dá destaque a grupos mais vulneráveis, como mulheres que entram na menopausa precocemente, entre elas pacientes com câncer. Os artigos batem na tecla de ampliar o leque de informações disponíveis e incluir abordagens não medicamentosas para lidar com os sintomas. Outra preocupação dos autores: não eleger os medicamentos promovidos pela indústria farmacêutica como uma tábua de salvação e investir num estilo de vida saudável.
“Há muitas maneiras de tratar o climatério (que engloba a transição do período reprodutivo para o não reprodutivo) dando mais conforto às mulheres. Cada uma envolve diferentes riscos e benefícios, mas há pouca literatura médica comparando os diversos tratamentos”, resume a epidemiologista Andrea LaCroix, autora de um ensaio sobre o empoderamento das pacientes. No arsenal para lidar com a pré e a pós-menopausa, estão estratégias para o controle da ansiedade, higiene do sono e atenção à prevenção da síndrome geniturinária – que inclui secura vulvovaginal, falta de lubrificação e dor na relação sexual, além de sintomas urinários de urgência, ardência e infecções – e de doenças crônicas.
Pela primeira vez, a revista utiliza um ensaio fotográfico: imagens que foram selecionadas da mostra “500 Strong”, de Ponch Hawkes, exibida na Austrália, em 2021, como a que ilustra a coluna. O trabalho da artista explora gênero, feminismo, envelhecimento e direitos humanos e a série integrou uma exposição intitulada “Flesh after Fifty: changing images of older women in art” (“A carne depois dos 50: mudando a imagem de mulheres mais velhas na arte”). Que o assunto não saia da berlinda!