Fóssil foi descoberto na Antártida durante expedição. Por muito tempo, os pesquisadores presumiram que os pássaros de aparência moderna começaram a evoluir apenas depois de meteoro que extinguiu dinossauros há milhões de anos. O fóssil muda o que se sabia. Uma reconstrução artística de como Vegavis iaai pode ter sido
Divulgação/Mark Witton
Um fóssil de crânio quase completo encontrado na Antártida revelou o pássaro moderno mais antigo já conhecido — uma criatura do tamanho de um pato-real, relacionada às aves aquáticas que vivem em lagos e oceanos atualmente, segundo um novo estudo.
O fóssil, com cerca de 68 milhões de anos, pertence a uma espécie extinta de ave conhecida como Vegavis iaai. A ave viveu no final do período Cretáceo, quando o Tyrannosaurus rex dominava a América do Norte e pouco antes de um asteroide do tamanho de uma cidade atingir a Terra, levando à extinção dos dinossauros.
Os pássaros que viveram entre os dinossauros eram quase irreconhecíveis em comparação com as espécies atuais. Muitos apresentavam características como bicos dentados e caudas longas e ósseas.
Christopher Torres, professor assistente de biologia na Universidade do Pacífico, na Califórnia, e principal autor do estudo, explica que o Vegavis tinha aproximadamente o tamanho de um pato e possuía um estilo de vida semelhante ao de aves aquáticas como os mergulhões.
“Esse pássaro era um mergulhador de perseguição movido a pé. Ele usava as pernas para se impulsionar debaixo d’água enquanto nadava. Algo que pudemos observar diretamente nesse novo crânio foi a musculatura da mandíbula, que estava associada ao fechamento da boca debaixo d’água para capturar peixes. Esse é um comportamento amplamente observado entre mergulhões”, explicou Torres.
Os paleontólogos descreveram o Vegavis pela primeira vez há 20 anos, mas muitos cientistas eram céticos quanto à sua classificação como uma ave moderna. Até então, a maioria dos fósseis de pássaros modernos desenterrados datava de um período posterior à queda do asteroide que extinguiu os dinossauros, há 66 milhões de anos, na costa do que hoje é o México.
Por muito tempo, os pesquisadores presumiram que os pássaros de aparência moderna começaram a evoluir apenas depois desse evento, talvez como uma resposta à extinção em massa.
Uma reconstrução digital do fóssil do crânio
Divulgação/Universidade do Pacífico
O coautor do estudo, Patrick O’Connor, da Universidade de Ohio, explicou que fósseis anteriores do Vegavis não incluíam um crânio completo. Como os crânios guardam características essenciais das aves modernas — como a ausência de dentes e um osso pré-maxilar aumentado no bico superior —, a falta desse material dificultava sua classificação.
O fóssil analisado no novo estudo foi coletado durante uma expedição de 2011 do Projeto de Paleontologia da Península Antártica. Ele foi encontrado envolto em uma rocha datada de 68 a 69 milhões de anos atrás e apresentava traços característicos das aves modernas, como um bico sem dentes.
A estrutura cerebral revelada pelo fóssil também reforça sua relação com os pássaros modernos. Os pesquisadores escanearam o crânio usando tomografia computadorizada para criar uma reconstrução tridimensional e identificaram características típicas das aves atuais.
Juntas, essas evidências confirmam que o Vegavis pertence ao grupo que inclui todas as aves modernas. Assim, esse crânio fóssil representa o membro mais antigo das mais de 11 mil espécies que existem hoje.